A
absolvição da mulher do megabandido Eduardo Cunha deve ter deixado os
investigadores suíços perplexos. Afinal, foram eles que rastrearam a conta do
"Caranguejo" naquele país, fazendo cair na rede também as milionárias
compras da madame De toda maneira, é positivo que agentes públicos sérios de
outros países sintam na pele o que é a Lava Jato, para além da blindagem da
mídia comercial brasileira.
O
problema é que ainda são muitos os brasileiros que, vítimas da lavagem cerebral
operada dia após dia pelo monopólio da mídia, acreditam nos bons propósitos do
justiceiro Moro e de seus procuradores messiânicos. Contudo, todas as pesquisas
mostram que a cada vez mais pessoas já conseguem perceber a escandalosa
parcialidade da Lava Jato e vê-la como um instrumento político a serviço dos
interesses da plutocracia do país. Sem falar nos milhões de desempregados que
já produziu. Sem falar na destruição do setor de petróleo, gás e construção,
tragédia econômica para a qual a Lava jato muito contribuiu.
Ao
livrar Cláudia Cruz das acusações que lhes eram imputadas, Moro revela pela
undécima vez que os dois pesos e duas medidas de suas decisões levam em conta o
poder de fogo, o potencial de causar estragos dos alvos direitos e indiretos de
suas decisões. Mesmo encarcerado, um eventual delação de Cunha provocaria um
tsunami de consequências imprevisíveis. Melhor deixar quieto.
Para
se ter uma ideia da noção torta de justiça cultivada por Moro, nem depois de
morta Dona Marisa foi absolvida pela Lava Jato. É comum a absolvição de réus
falecidos em processos nos quais a acusação, ou seja o Ministério Público, não
reúne provas contra o investigado, como decididamente era o caso da ação da
Lava Jato envolvendo Dona Marisa. Mas Moro optou por apenas anular o processo em
razão do falecimento. Mesquinharia e desumanidade em doses cavalares.
Dona
Marisa teve sua casa invadida por meganhas, seu colchão levantado, suas gavetas
reviradas, computadores e celulares dos netos levados pela PF, suas conversas
íntimas com familiares vazadas para a imprensa, seu marido caçado, seus filhos
perseguidos. Diante de tamanha tortura psicológica, não há aneurisma controlado
que resista.
É
impossível não lembrar de seu martírio ao ler a sentença de Moro livrando
Cláudia Cruz, ao arrepio de todo o meticuloso trabalho da justiça suíça.
Nascida em uma família de imigrantes italianos, os Casa, de longa tradição de
labuta na agricultura de seu país, Marisa Letícia, seguindo o destino reservado
aos pobres do Brasil, começou a trabalhar aos 13 anos na fábrica de doces
Dulcora, em São Paulo, como embaladora de bombons.
Seis
meses depois de casada, seu primeiro marido morreria assassinado durante um
assalto ao seu táxi. Viúva e grávida, Dona Marisa trabalhou como inspetora de
alunos de um colégio. Depois de conhecer e se casar com Lula, o casal teve mais
três filhos. Ao longo de um casamento que durou mais de 30 anos, ela foi a
companheira de todas as horas do maior líder popular do país e presidente da
República mais amado pelo povo.
Dói
muito ver que Dona Marisa, digníssima filha do povo trabalhador, não mereceu o
mesmo tratamento da justiça brasileira dado à mulher e cúmplice de um gângster.
Mas a história lhe fará justiça. Da mesma forma que os protagonistas das
atrocidades jurídicas cometidas pela Lava Jato não escaparão do acerto de
contas com as gerações futuras.
http://blogdobepe.com.br/index.php/politica/item/1497-a-absolvicao-de-claudia-cruz-e-o-martirio-de-dona-marisa
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