A
América Latina, com 605 milhões de habitantes, é hoje a região de maior
desigualdade no mundo. Em 2014, os ganhos per capita dos 10% mais ricos eram 14
vezes superiores aos de 40% da população mais pobre. Esse índice de
desigualdade subia para 17 vezes no Brasil, Colômbia e Guatemala, e 24 vezes em
Honduras.
Nenhum
outro continente foi tão oprimido quanto o americano. Na Ásia predominam os
olhos puxados. Na África, a população negra. Aqui escasseia quem possua traços
indígenas. Já no primeiro século da colonização se calcula que 70 milhões de
índios foram massacrados pelos colonizadores europeus.
Graças
aos governos democráticos populares instalados no continente a partir de 1998,
desde 2003 mais de 72 milhões de latino-americanos deixaram a pobreza, segundo
dados da Oxfam. Isso ocorreu devido ao aumento do salário mínimo e dos gastos
públicos em políticas sociais (agora reduzidos, no Brasil, pelo governo Temer),
e o aprimoramento da educação fundamental.
No
entanto, o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) calcula
que, desde 2014, 1,7 milhão de latino-americanos voltaram à pobreza. E no final
de 2016 se somaram a este contingente mais 1,5 milhão de pessoas, como vem
ocorrendo no Brasil com seus 14 milhões de desempregados.
Esse
reempobrecimento do continente decorre não apenas de fatores econômicos, como o
fim do boom das commodities, mas também de redução das políticas sociais, em
especial nos países afetados por golpes parlamentares, como Honduras, Paraguai
e Brasil, e agora governados por presidentes neoliberais, como Argentina e
México. Há que considerar ainda as catástrofes ambientais, como as recentes
chuvas torrenciais na região andina e a seca que ora castiga o Nordeste
brasileiro.
Em
matéria de educação, o Brasil ainda não atingiu o patamar médio dos países
latino-americanos. Aqui os alunos do ensino médio permanecem na escola cerca de
quatro horas por dia. A média continental é de seis horas.
A
América Latina não encontrou ainda seu
modelo de desenvolvimento sustentável. Todos os países continuam na dependência
de suas exportações, ou seja, sujeitos aos interesses das nações metropolitanas
e às oscilações do mercado.
Segundo
a Cepal, 29,2% da população latino-americana vive, hoje, na pobreza, o que
equivale a 172 milhões de pessoas. Em 2014 eram 28,2. A pobreza se expande,
sobretudo, em Honduras, México e Venezuela.
A
América Latina não terá futuro enquanto não alcançar justiça fiscal, ou seja, o
imposto progressivo (quem ganha mais, paga mais), a redução da corrupção e o
aumento dos gastos em políticas sociais.
No
Brasil, o retrocesso nos índices sociais aumentará com a provável aprovação das
reformas trabalhista e previdenciária, que cortam substancialmente direitos
sociais conquistados nas últimas sete décadas. No governo Temer, o orçamento da
Funai (Fundação Nacional do Índio) sofreu redução de 23%, e o das secretarias
voltadas às questões étnicas e aos direitos humanos, 56,3%. Isso explica os
recentes conflitos envolvendo sem terras e indígenas na Amazônia brasileira.
*Frei Betto é escritor,
autor de “Ofício de escrever”, que a editora Rocco enviou esta semana às
livrarias.
http://jornalggn.com.br/noticia/america-latina-a-regiao-com-a-maior-desigualdade-por-frei-betto
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