Alguns
analistas estão considerando a escalada militar de Donald Trump um beco sem
saída que pode acarretar uma guerra nuclear total entre EUA e Rússia (por causa
da Síria ou por causa da Ucrânia) ou entre EUA e China (por causa da Coréia do
Norte) ou entre EUA e Rússia/China (por causa do unilateralismo criminoso dos
EUA). Os norte-americanos certamente podem impor pesadas perdas aos seus
inimigos. Mas isto não significa que eles mesmos serão poupados da devastação
nuclear.
Desde
tempos imemoriais a guerra foi tratada como um negócio. Ela era um negócio
extremamente lucrativo para os traficantes de escravos que acompanhavam as
legiões romanas e para os negociantes que abasteciam as tropas de Roma onde
quer que elas fossem operar. O primeiro contrato de seguro que eu tenho notícia
ocorreu por ocasião da II Guerra Púnica. Em razão do poderio naval de Cartago,
Roma passou a indenizar os proprietários dos navios carregados com trigo,
azeite e vinho despachados para abastecer as legiões na Espanha que eram
afundados no trajeto.
As
guerras modernas também são extremamente lucrativas para os fabricantes de
armamentos. Não por acaso, a partir da II Guerra Mundial as fábricas de aviões,
tanques e caminhões passaram a ser regularmente bombardeadas. A mesma lógica
levou os aliados a bombardear os fabricantes das peças utilizadas para montar
armamentos sofisticados. O capitalismo transformou tanto os meios de guerra
quanto os objetivos militares.
Todavia,
a guerra nuclear não segue o mesmo padrão de suas antecessoras. Ao contrário
das guerras antigas e mecanizadas, que eram longas e desgastantes, mas
raramente causavam danos muito além dos locais ou dos países onde eram
travadas, assim que começar a guerra nuclear implicará na destruição pura e
simples das condições indispensáveis à via biológica no planeta.
Numa
guerra nuclear, não há objetivo militar a ser alcançado, nem lucro a ser
desfrutado. O prejuízo imposto ao inimigo se torna também um prejuízo imposto à
própria população, pois ninguém será poupado do inverno nuclear e da
contaminação por radiação. Foi por isto que Robert F. Kennedy disse com muita
propriedade que:
“Uma
vez iniciada uma guerra nuclear, mesmo entre pequenas e remotas nações, seria
extraordinariamente difícil sustar uma progressão gradual que acabaria
convertendo uma guerra local numa conflagração geral. Cerca de 160 milhões de
americanos e centenas de milhões de outros povos poderiam morrer nas primeiras
vinte e quatro horas de um duelo nuclear em grande escala. E, como disse Nikita
Kruschev, os sobreviventes teriam invejados mortos." (Luta por um Mundo Melhor,
Robert F. Kennedy, Editora Expressão e Cultura, Rio de Janeiro, 1968, p. 178)
As
palavras dele ecoam as de Hannah Arend, que com muita propriedade afirmou que:
“...a
guerra deixou de ser a ultima ratio de negociações e seus objetivos
determinados no ponto em que estas se rompiam, de modo que as ações militares
supervenientes não eram senão uma continuação da política por outros meios. O
que está hoje em questão é algo que nunca poderia ser, é claro, objeto de
negociação: a mera existência de países e seus povos. É neste ponto – em que a
guerra não mais supõe como dada a coexistência de partes hostis e já não busca
apenas por fim ao conflito pela força – que ela deixa verdadeiramente de ser um
meio de política e, como guerra de aniquilação, começa a cruzar a fronteira
estabelecida pela política e a aniquilar a própria política.” (A Promessa da
Política, Hannah Arendt, Difel, Rio de Janeiro, 2008, p. 219)
Trump
não flerta com a barbárie. Ele flerta com algo muito além da própria barbárie,
pois até mesmo entre os bárbaros havia política. Não a política tal como os
gregos e romanos a imaginavam, mas certamente aquela que mais convinha àqueles
povos cujos territórios eram cobiçados pelos que se autoproclamavam
civilizados.
Qual
o sentido de aniquilar a Coréia do Norte com armas nucleares - caso a frota dos
EUA for afundada por uma bomba atômica norte-coreana - se o vento espalhará as
cinzas contaminadas do país destruído pela Coréia do Sul, pelo Japão e pela
China? Como os amigos e adversários dos EUA reagirão ao sofrer as previsíveis
consequencias nefastas da aniquilação nuclear da Coréia do Norte?
JFK
e Robert F. Kennedy enfrentaram dilemas semelhantes quando da crise dos mísseis
em Cuba. Mas ao contrário de Donald Trump eles tinham consciência de que o mal
que fizessem se transformaria também no mal que os norte-americanos e seus
aliados sofreriam. O atual presidente dos EUA não parece ter consciência de
nada além das bobagens que ele escreve no Twitter. Trump não está a altura da
tarefa para a qual foi eleito. Pior... todos nós teremos que suportar os
resíduos tóxicos das ações dele muito embora não o tenhamos colocado ele na
Casa Branca.
Falem-me
mais sobre a democracia norte-americana... A mim ela se parece mais e mais a
uma tirania fora de controle que coloca em risco o planeta inteiro só para que
Trump possa dizer: “Minha vontade prevaleceu...” antes do fim.
http://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/trump-e-o-holocausto-nuclear-por-fabio-de-oliveira-ribeiro
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