O
que poderia ser celebrado como sinal de normalidade institucional – os pedidos
do Rodrigo Janot ao STF para abrir inquéritos das delações da Odebrecht – na
realidade é apenas um truque do procurador-geral para [i] proteger o bloco
golpista, em especial o PSDB; mas, sobretudo, para [ii] viabilizar a condenação
rápida do Lula e, desse modo, impedir a candidatura do ex-presidente em 2018,
isso se a eleição não for cancelada pelos golpistas.
Janot
seguiu fielmente Maquiavel: “aos amigos, os favores; aos inimigos, a lei”. Os
golpistas, cujos indícios de crimes são contundentes, com provas de contas no
exterior, jantares no Palácio Jaburu, códigos secretos para recebimento de
dinheiro da corrupção e “mulas” para carregar propinas, serão embalados no
berço afável do STF.
Lula,
sobre quem não existe absolutamente nenhuma prova de crime, foi denunciado por
Janot e será julgado por Sérgio Moro, um juiz parcial, que age como advogado de
acusação. Ele é movido por um ódio genuíno e dominado por uma obsessão
patológica de condenar Lula com base em convicções [sic]. Janot entregou a este
leão faminto e raivoso a presa tão ansiada.
Os
fatores que permitem prospectar esta hipótese da sacanagem do Janot são:
1.
as listas parciais divulgadas em 14 e 15/03/2017 implodiriam qualquer governo,
quanto mais o apodrecido e ilegítimo governo Temer – implodiriam, mas não
implodirão, porque estamos num regime de exceção;
2.
foram denunciados nada menos que: seis ministros [Padilha, Moreira Franco, Aloysio
Nunes, Bruno Araújo, Kassab e Marcos Pereira] + os dois sucessores naturais do
presidente em caso de afastamento do usurpador [Rodrigo Maia e Eunício
Oliveira] + o idealizador da “solução Michel” para estancar a Lava Jato, atual
presidente do PMDB [Romero Jucá] + o presidente do PSDB [Aécio “tarja-preta”] +
quatro senadores da base do governo + cinco governadores + três deputados que
apóiam Temer + três senadores da oposição + dois deputados de oposição;
3.
uma pessoa iludida poderia concluir: “é uma decisão corajosa e imparcial do
Janot”; afinal, ele investiga personagens poderosos e, aleluia, inclusive o
PSDB. Ilusão: esta é, exatamente, a manobra diversionista do Janot;
4.
os denunciados do governo golpista, todos eles, inclusive os sempre protegidos
tucanos, têm foro privilegiado, e por isso serão investigados pelo STF, e não
nas instâncias inferiores do judiciário [com minúsculo]. É verdade que Janot
denunciou também golpistas sem foro privilegiado. Esses, porém, são as “genis”
Eduardo Cunha e Sérgio Cabral, já presos; e Geddel Vieira Lima, que já está no
corredor do cárcere;
5.
o supremo [com minúsculo], demonstram estudos da FGV, é a instância mais lenta,
mais politizada [eventualmente mais partidarizada, para não dizer tucana] e
mais inoperante do judiciário. A primeira lista do Janot, por exemplo, entrou
no sumidouro do STF há dois anos [em março/2015], e lá dormita até hoje, sem
nenhuma conseqüência na vida dos políticos denunciados por corrupção;
6.
a composição ideológica do STF é aquela mesma que, agindo como o Pôncio Pilatos
da democracia brasileira, lavou as mãos no processo do impeachment fraudulento,
e assim converteu o supremo em instância garantidora do golpe de Estado que
estuprou a Constituição para derrubar uma Presidente eleita com 54.501.118
votos;
7.
é fácil deduzir, portanto, qual será a tendência do STF na condução dos
processos dos golpistas. Se esses julgamentos iniciarem antes de 2021, será um
fato inédito.
A
lista do Janot é um instrumento ardiloso da Lava Jato e da mídia para a caçada
do Lula. Janot faz como o quero-quero, pássaro que grita longe do ninho para
distrair os intrusos, afastando-os dos seus filhotes.
As
instituições do país estão dominadas pelo regime de exceção que violenta a
Constituição para permitir um processo agressivo e continuado de destruição dos
direitos do povo, das riquezas do país e da soberania nacional.
O
anúncio imediato da candidatura presidencial do Lula, abrindo uma etapa de
mobilizações permanentes e gigantescas do povo, é a urgência do momento. É a
garantia de proteção popular do Lula contra os arbítrios fascistas do regime de
exceção e, ao mesmo tempo, fator que pode modificar a correlação de forças na
sociedade.
O
êxito dos protestos deste 15 de março, que levaram milhões de trabalhadores às
ruas em todo o país, é um sinal positivo da retomada da resistência democrática
e da luta contra o golpe e os retrocessos.
A
democracia e o Estado de Direito somente serão restaurados no Brasil com a mobilização
popular intensa e radical, e a candidatura do Lula é um motor para esta
restauração.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2017/03/o-truque-do-janot-para-inviabilizar-lula.html
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