quarta-feira, 29 de março de 2017

JEAN WYLLYS: 'POR MAIS QUE AS PESSOAS LEVANTEM DESCULPAS PARA O ÓDIO DELAS, É HOMOFOBIA'. Entrevista exclusiva ao Sul21

Apesar dos protestos nas redes sociais e de polêmica na tribuna, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) recebeu na noite de terça-feira (28) a Medalha do Mérito Farroupilha, na Assembleia Legislativa. A homenagem foi uma proposta da deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB), amiga de Jean desde os tempos em que ocupava uma cadeira na Câmara, em Brasília.

A quem perguntou nas redes “o que Jean fez pelo Rio Grande do Sul para merecer a homenagem?”, Manuela respondeu: “O deputado federal faz por todas as brasileiras e todos os brasileiros e o Rio Grande do Sul não saiu do Brasil. Quando alguém defende uma lei que criminaliza a homofobia agrada aos gaúchos que sofrem com homofobia e aos baianos que lutam contra homofobia”. A resposta veio em um vídeo de 3 minutos e meio, onde a deputada contesta os comentários homofóbicos e lembra que outras entregas da medalha não causaram o mesmo questionamento.

Entre os homenageados da maior honraria do Estado estão nomes como a apresentadora global Ana Maria Braga, a dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano, o pastor evangélico R.R. Soares e o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), investigado por corrupção, Ricardo Teixeira. Na entrega para Jean Wyllys, a plateia acompanhou as palmas com gritos de “fora, Temer” e “me representa”.

Pouco antes da cerimônia de entrega, Jean atendeu a imprensa. Nesta entrevista exclusiva ao Sul21, ele fala sobre haters nas redes, pós-verdade, protestos do MBL, uma possível candidatura de Bolsonaro em 2018, se dará apoio a Lula e faz uma crítica à corrente do PSOL que elogia a operação Lava Jato. Confira:

Sul21: A deputada Manuela D’Ávila fez um vídeo hoje rebatendo algumas das críticas que circularam nas redes sociais pelo fato de tu receberes a Medalha de Mérito Farroupilha. Tu qualificastes antes as manifestações como homofobia.

Jean Wyllys: Eu só soube da polêmica hoje. Eu estava por demais ocupado nas questões que envolvem a federação, então não me atentei à polêmica e ela também não cresceu a ponto de invadir outros espaços virtuais que eu frequento. Ela ficou restrita às redes da Manuela aqui no sul. Essa reação é uma reação que não tem outra explicação a não ser homofobia. Porque eu sou um deputado honesto, intelectual e materialmente, eu tenho uma atuação em favor e na promoção dos direitos humanos de todos e todas. Graças ao meu mandato a gente fez algo relevante para uma população enorme no país, que é a população LGBT. Nós garantimos o casamento civil igualitário, ou seja, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) regulamentou o casamento civil no Brasil graças a uma provocação do meu mandato. Eu falo isso sem ser cabotino, sem querer fazer elogio a mim mesmo. Eu falo isso em resposta a essas pessoas. Todo o debate levantado em torno da política de drogas, por exemplo, da legalização e regulamentação da maconha – não como uma resposta tão somente à demanda das liberdades individuais, mas como resposta à uma política de drogas que é racista, que encarcera pretos, pobres, que extermina a juventude negra – esse debate também foi levantado graças ao meu mandato. Ou seja, essa atuação, é uma atuação que vale para toda a federação. Como assim, uma parte minúscula dos gaúchos, identificada com o fascismo, acha que eu não posso receber essa honraria?

Manuela deu a resposta certa no vídeo, a resposta simbólica ao que pode virar uma violência real. E as pessoas puderam ter uma dimensão do que é a homofobia. Porque quando você não é gay, quando você não é lésbica, quando você não é trans, você vê a coisa com muita distância. Você acha até mimimi a cobrança por direitos, mas quando você é confrontado com o corpo de uma travesti espancada, como aconteceu com Dandara, por exemplo, quando você se depara com a violência desses fascistas da internet, daí você tem uma dimensão do que é homofobia. Por qual outro motivo que eu não deveria receber essa honraria? Pela Assembleia estar gastando comigo? Não está gastando. Então, o discurso do gasto público não cola. O fato de eu ter participado do Big Brother? Desde quando isso é demérito? Afinal de contas, Ana Maria Braga recebeu a honraria. Se a questão é participar de programas de televisão, porque ela merece e eu não? Quais foram os serviços mesmo que a Ana Maria prestou ao Rio Grande do Sul mais do que eu, como deputado? R.R. Soares, Pastor Valdomiro? Por mais que as pessoas levantem outras desculpas para o ódio delas, não há outra desculpa: é homofobia.

Sul21: Tu dissestes que essas questões não chegaram às tuas redes. Tu foste uma das primeiras pessoas públicas no Brasil a experimentar o fenômeno da bolha, das manifestações nas redes de haters, etc. Como tu lidas com isso? É melhor responder ou não?

Jean Wyllys: Na verdade, os haters são uma massa amorfa com muita coisa misturada ali. Então, a gente faz uma separação. Há haters com nome, sobrenome e IP (endereço dos computadores na rede mundial), a esses eu dou uma resposta judicial. Eu os denuncio formalmente, eu movo processo contra eles. Já ganhei dois processos. E há os perfis fakes, os perfis falsos construídos para fazer esses insultos. Esses são mais difíceis e dependem de uma investigação da polícia para localizá-los. A Polícia Federal, inclusive, está fazendo uma investigação com relação às ameaças contra mim. Por outro lado, eu acho interessante que eles existam, porque a gente tem uma dimensão do ódio que está aí, que a gente sempre recalcou e nunca quis tratar. A gente fica evocando uma mitologia de um país cordial e de uma igualdade que não existe. Então, é bom que eles existam, os haters, para deixar claro que nós somos também, como país, essa massa escura, nojenta, ruim, racista, homofóbica que se expressa nas redes sociais. E que apesar de ser tão ruim e tão nefasta, ainda usa nome de Deus e de Jesus.

Sul21: Recentemente, tu denunciaste que tua família também estava sofrendo ameaças de morte.

Jean Wyllys: A investigação que a Polícia Federal está fazendo é justamente porque envolveu minha família. Em 2011 [a PF] prendeu duas pessoas, uma que morava em Curitiba e outra em Brasília. Agora as ameaças voltaram com muito mais força, não só contra mim, mas contra uma jornalista da Câmara que fez uma matéria sobre as ameaças e também se tornou alvo. Agora é minha família, minha mãe e meus irmãos, por conta disso, a Polícia decidiu aprofundar as investigações para chegar nesses canalhas.

Por que essas pessoas se incomodam comigo? Elas se incomodam porque eu estou transformando o mundo de alguma maneira. Eu quero um mundo de igualdade, de respeito, de direitos. Eu quero um mundo em que gays e héteros tenham acesso igualitário aos direitos e que os gays sejam respeitados nas suas diferenças. Eu quero um mundo em que a população afrodescendente, sobretudo as pessoas de pele escura, não sejam discriminadas por causa da cor de sua pele. Eu quero um mundo de paridade de gênero. Eu quero um mundo em que as mulheres sejam tratadas e respeitadas como donas do seu corpo. É tão somente isso, eu não estou pedindo nada mais do que isso. E não me escondo numa religião, no nome de Jesus, não uso o santo nome de Deus em vão como essa gente usa. O mais espantoso, que eu volto a dizer, é isso: você vai olhar no perfil dessas pessoas, elas estão lá “em nome de Jesus”, com citações bíblicas. O que adianta fazer citação bíblica se você não entendeu nada da mensagem de Jesus? Se você quer que as pessoas se armem pra matar umas às outras?

Sul21: Falando ainda sobre o movimento político das redes, ele tem encontrado uma migração com “youtubers” tentando criar uma persona para questionar políticos, muitas vezes à força. Aqui mesmo na Assembleia, temos denúncias das deputadas Manuela D’Ávila (PCdoB) e Juliana Brizola (PDT) nesse sentido. Como é lidar com isso, quando sai da caixa de comentários e vem pro ambiente real?

Jean Wyllys: Eu acho que a gente tem que recorrer à Justiça porque não somos iguais a eles. Agora também não pode se calar. Eu gosto sempre de citar o Gilberto Gil: “é sempre bom gritar para assustar a coragem do inimigo”. Comigo nenhum deles cresce porque eu boto, imediatamente, no lugar. Eu derrubo o telefone. “Não lhe autorizei a me filmar. Para me filmar, você tem que ter autorização. Você é imprensa? Faça perguntas e vou lhe responder. Porque imprensa não age dessa maneira, fazer uma pergunta e sair insultando a pessoa na sequência. O que você é é um hater maldito que seleciona bem as pessoas a quem quer ofender”. Porque você não vê o MBL e essa gente toda fascista se revoltando contra políticos historicamente corruptos. Contra caudilhos, contra oligarcas, contra opressores do povo, contra mafiosos, contra pessoas que parasitaram o erário público. Vão atrás de Manuela D’Ávila, que é uma mulher honesta, que é decente, que é mulher. Ainda tem um componente de misoginia. Eles acham que podem crescer dessa maneira e durante um tempo eles foram empoderados pela grande mídia. A grande mídia deu uma coluna para kin..kinta..nunca sei o nome desse menino…é kintacatigoria! Deu pra esse menino que é um analfabeto político, uma pessoa que nem sabe escrever. O texto não tinha coesão, nem coerência. Mas essa pessoa ganhou uma coluna na Folha de São Paulo porque naquele momento fazia parte do jogo empoderar essa gente para derrubar a Dilma.

‘Se um ET chegasse na Terra e nos olhasse de fora, todos vestidos de camisa da CBF, reverenciando um pato amarelo que é um totem, iria achar que era uma civilização de imbecis’.

Sul21: Tu achas que não é mais assim?

Jean Wyllys: Eu acho que isso está flopando, como o pato da Fiesp. Sabe aquele pato que foi inflado e a quem as pessoas renderam homenagem como um bando de imbecis? Se um ET chegasse na Terra e nos olhasse de fora, todos vestidos de camisa da CBF, reverenciando um pato amarelo que é um totem, iria achar que era uma civilização de imbecis. Mas aquele pato flopou agora e vai flopar mais ainda, porque as pessoas caíram na real. Elas estão caindo na real, de que foram manipuladas, de que foram enganadas. Elas foram conduzidas às ruas contra a corrupção e, ao fim e ao cabo, elas convocaram uma camarilha de corruptos na República. A começar pelo presidente, 43 vezes citado em delações da operação Lava Jato. A começar por mais da metade dos ministros desse governo, implicados em denúncias de corrupção.

Sul21: O esvaziamento dos protestos do último domingo, 26 de março, tem a ver com isso?

Jean Wyllys: Acho que tem a ver com isso, acho que tem a ver com as reformas que esse governo está propondo que beneficia os empresários que custearam e financiaram aquelas manifestações. O trabalhador e mesmo a classe média estão se vendo afetados por essas reformas. A classe média, que gosta muito de se espelhar nos ricos, ela está vendo que a vida dela vai mudar. Adeus à viagem de fim de ano pro exterior, adeus à universidade paga para o filho, ao carro à prestação. Tudo isso está sendo afetado, ela está vendo isso, porque embora ela se pense muito rica, ela é trabalhadora. Essa ficha está caindo e, por isso mesmo, a tendência desses movimentos é cada vez mais estarem esvaziados. Porque imagine você convidar as pessoas a irem às ruas a favor da reforma da Previdência, você não pode criticar o governo Temer, você é contra a corrupção, mas não pode falar do governo Temer, só da corrupção do PT. É o mesmo que convocar as baratas pra defender o inseticida.

Sul21: Jair Bolsonaro (PSC) tem crescido nas intenções de voto para as eleições de 2018 – passou de 7% nas pesquisas no ano passado para 9% este ano, segundo DataFolha. O empresariado de São Paulo tem o convidado para jantares e diz que está “interessado” em ouvir as propostas dele. O que tu acha dessa movimentação? Existe uma chance real de Bolsonaro ser eleito?

Jean Wyllys: Olha, a democracia sempre comportou seus inimigos internos. Há um livro do Tzvetan Todorov em que ele se dedica exatamente a isso. Tem pessoas que se valem das liberdades garantidas pela democracia para conspirar contra a democracia. Esse sujeito de quem você fala é um desses. O fascismo pode ser urdido dentro do próprio jogo democrático e, no Brasil, tem se urdido muito. Mas acho que esse sujeito não passa desse teto. Dessa gente racista, homofóbica, classista, essa gente da supremacia branca, da purificação racial e sexual. Essa gente sempre vai existir e existe no mundo, não só no Brasil.

Agora, nós que somos comprometidos com a democracia, temos que estar bastante atentos e botar algum limite nisso porque pode vir a crescer em ambientes de crise econômica. Em ambientes em que o futuro está comprometido de alguma maneira, em que o bolso está comprometido, o futuro dos filhos, a comida, a escola, as pessoas tendem a aderir a discursos simplistas feito por canalhas oportunistas, que querem culpar determinados grupos sociais pelo problema que está acontecendo com todos. O Hitler fez isso, na Alemanha dos anos 1930. Convenceu a nação inteira de que os judeus eram culpados por aquela crise econômica e a gente viu onde isso foi parar: 6 milhões de judeus mortos. Se ampliar para homossexuais, ciganos e comunistas, foram mais de 10 milhões de pessoas mortas por um empreendimento fascista.

Nós temos que nos levantar e temos que tomar cuidado quando ao lado de nós, o nosso filho, nosso vizinho, expressa intenção de votar numa figura abjeta desse tipo. Não espanta que haja empresários em São Paulo fazendo jantares para esse sujeito. Afinal de contas, é sempre bom um idiota como esse na mão de empresários que querem manipulá-lo para ampliar seus privilégios. O que não podemos é fechar os olhos e cruzar os braços. Mas eu sou otimista. Acho que ele não passa desse teto.

Sul21: Muita gente compara essa onda em torno do Bolsonaro com a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, dizendo que a mídia teve um papel muito importante ao ter dado espaço para o discurso dele. Tu é ex-professor de Jornalismo e é jornalista, o que tu achas do papel da imprensa nessa questão?

Jean Wyllys: Acho que [a imprensa] já fez um estrago, ela agora vai ter que reparar o estrago. Eu percebo que ela vem tentando reparar não dando muito espaço pra ele, não repercutindo muito as declarações dele. Só que a gente vive hoje em um outro ambiente, em que os meios de massa têm a concorrência das novas tecnologias da comunicação e da informação, as redes sociais, por exemplo. Tem gente hoje que se informa basicamente pelo WhatsApp. Se você disser que encontrou um unicórnio morto ao lado de uma fada e disparar pelo WhatsApp no seu grupo, vai ter gente acreditando nisso e, inclusive, xingando. Dizendo que eles mereceram morrer, porque quem mandou ele ser rosa e a fada ser azul. A gente está vivendo esse tempo em que a pós-verdade – para usar um termo do dicionário de Oxford – tem tomado conta. A gente está vivendo o que eu chamo de reino da estupidez. As pessoas não param para refletir, não param para checar a fonte, elas querem insultar e compartilhar as falsas notícias.

A imprensa, apesar do silêncio em relação a esse sujeito, já tinha prestado um desserviço no processo da Dilma, quando empoderou as figuras da pós-verdade. Agora ela está demitindo, aos poucos, e tem aqueles que para garantir seus empregos, tem se moderado. Mas o estrago já foi feito. Essa é a questão.

Sul21: Falando nas eleições de 2018, tu apoiarias o Lula? Como está a decisão dentro do PSOL?

Jean Wyllys: É difícil falar. Nosso partido é um partido complexo, com uma democracia interna muito vivaz, de muitas tendências e correntes. Eu não vou falar em nome do partido, porque não tem nenhuma decisão nesse sentido. É certo que teremos candidato próprio no primeiro turno e não é certo que Lula seja candidato, porque ele está aí ameaçado de detenção. De uma maneira até injusta, eu acho. Porque qual é o crime que o Lula cometeu? Me apresentem. Até agora, nada apareceu de concreto. O que Lula fez que Fernando Henrique Cardoso não fez? O sistema é corrupto? O sistema é financiado por empresários corruptos? É, sempre foi e aí? Por que Fernando Henrique não vai pagar por esse pato também, já que ele também sabia? Então, não é certo que Lula vá ser candidato em 2018, por isso fica difícil eu dizer se vou apoiá-lo no segundo turno.

Sul21: O PSOL poderia lançar outra vez Luciana Genro (nas últimas eleições, ela terminou em 4º lugar, com 1,6 milhão de votos)?

Jean Wyllys: Eu acho difícil que a Luciana seja candidata. Mais uma vez estou falando por mim mesmo, não pelo PSOL. Porque eu acho que a Luciana quer um mandato, que vai ajudar a aprofundar mais a atuação dela. Precisava conversar com ela. O partido terá um candidato ou uma candidata, mas não sabemos quem será.
‘A Luciana quase endeusa o Moro. Isso para mim é um constrangimento’ | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Sul21: Antes tu citastes aqui que, apesar de “convergências, tinha divergências muito claras” com Luciana. Essa crítica do apoio à Lava Jato por uma ala do PSOL é uma crítica que tu fazes ao partido? É um movimento grande dentro do partido hoje?

Jean Wyllys: Não é um movimento grande dentro do partido não. A corrente da Luciana é uma corrente que tem uma posição em relação à Lava Jato e ao Sérgio Moro muito pouco crítica. A Luciana quase endeusa o Moro. Isso para mim é um constrangimento, porque eu acho que Moro não é uma pessoa a ser endeusada. Eu acho que um juiz que vaza para imprensa conversas obtidas mediante grampo ilegal, que desrespeita as próprias leis, eu acho que uma pessoa dessas não pode ser endeusada. Um juiz que faz vazamentos seletivos de acordo com suas preferências partidárias e ideológicas não é alguém a ser endeusado. Um juiz que conduz coercitivamente um blogueiro pelo fato de o blogueiro ter tecido críticas a ele, usando a desculpa de que esse blogueiro precisa quebrar o sigilo da fonte, não é pra ser endeusado. O juiz Moro nunca conduziu Lauro Jardim (colunista do jornal O Globo), por exemplo, para abrir o sigilo das fontes. Tampouco a Mônica Bergamo (da Folha de São Paulo), tampouco toda aquela trupe que faz O Antagonista. Ricardo Noblat já publicou mentira deliberada na coluna dele, nunca teve problemas na Justiça. Aí Sérgio Moro se acha no direito, juiz de primeira instância, trajado nos seus ternos pretos cafonas, de conduzir de maneira coercitiva um blogueiro para que ele diga quem é sua fonte. Uma pessoa dessas não é pra ser endeusada. Acho que Luciana se equivoca ao endeusar Moro e ao ser pouco crítica à Lava Jato.

Sul21: Tu estás respondendo a um processo na Comissão de Ética da Câmara e pode ter o mandato suspenso por 4 meses (o caso diz respeito a cuspida que Jean teria dado em direção a Bolsonaro, durante a votação do impeachment na Câmara). A ex-presidente Dilma Rousseff se manifestou prestando solidariedade; o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que se aprovada a suspensão, seria uma “violência”. Quais as tuas expectativas?

Jean Wyllys: Não tenho muitas expectativas em relação ao Conselho de Ética, porque a gente está vivendo um momento muito difícil no país. “O Brasil está ao contrário e ninguém reparou”, para fazer uma paráfrase aqui do verso do Nando Reis. Um país que depôs uma presidenta, sobre a qual não pesava nenhum crime de responsabilidade, que coloca no Supremo Tribunal Federal alguém como Alexandre de Moraes, é um país que pode derrubar o mandato de um deputado honesto, intelectual e materialmente, e que defendeu a democracia. Nada mais vai me espantar se acontecer.

Sul21: Falando em Dilma, uma das críticas mais fortes na esquerda quanto ao governo dela é a falta de avanços na pauta dos direitos LGBT, bandeira do teu mandato. Como tu avalia essa condução? Se perdeu uma oportunidade ali?

Jean Wyllys: Eu acho essas críticas todas pertinentes porque fui eu quem fiz. Elas partiram todas do meu mandato, eu sempre fui oposição à Dilma e sempre critiquei aquilo que era criticável no governo Dilma. Agora, governos a gente pode gostar ou não deles, pode criticá-los ou não. O que a gente não pode é depor governos que foram democraticamente eleitos. Eu discordava da política econômica da Dilma, que já era uma política neoliberal, eu discordava do quanto a Dilma cedia às pressões da direita que compunha a base do seu governo – que já era um governo com a base muito à direita, com PP, PMDB, PR – mas isso não quer dizer que eu não pudesse defender quando começaram a tecer o golpe contra ela.

Eu votei na Dilma no segundo turno porque eu jamais votaria em Aécio Neves e no PSDB, porque eu vivi os anos dos governos do PSDB no Brasil e sei o quanto eles eram ruins para os pobres. Eu votei na Dilma apesar de Michel Temer, antes que as pessoas comecem a querer colocar [Michel Temer] na minha conta, na conta de quem elegeu a Dilma, que a gente não votou naquele vice decorativo. Porque sempre foi decorativo. Conde Drácula. Por isso me acho confortável para criticar a Dilma e dizer o que foi ruim no governo dela.

Sul21: Mas tu achas que foi uma chance perdida para o avanço dos direitos LGBT?

Jean Wyllys: Acho, mas acho que antes da Dilma, foi uma chance perdida na época do Lula. Porque o Lula abraçou simbolicamente a causa LGBT, a bandeira do arco-íris, mas nunca mobilizou sua base. Lula com 80% de aprovação no país, com uma base poderosa na Câmara, nunca mobilizou para criminalizar a homofobia, nem para garantir o casamento civil igualitário. O Lula não fazia isso porque ele e o PT fizeram uma política de conciliação. A famosa política conciliatória. Foi bom por um lado, que tirou 40 milhões de pessoas da miséria, mas por outro lado foi ruim porque cedeu às pressões da direita e não avançou nas questões das minorias.

Foto: Guilherme Santos/Sul21
Fernanda Canofre

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