“Nós
ficamos aqui conversando e eles lá fazendo as leis, fazendo o que bem entendem,
como lhes dá na gana, sem que nada aconteça. Se a gente protesta, vem
repressão. Aliás, nem precisa protestar, basta divergir, basta sair para a rua
para reivindicar alguma coisa que vem cacetada em cima”.
É,
de fato, essa situação desacorçoa, desanima, inibe qualquer reação, o que deixa
mais ainda à vontade os que se apropriaram do poder e estão desmontando o
Estado brasileiro.
As
palavras em aspas e cursiva eu ouvi de um trabalhador, aluno de quarto ano do
curso noturno de Educação de Jovens e Adultos em uma escola pública, em Riacho
Fundo, periferia de Brasília. Ele resumia o pensamento quase que unânime
daquele coletivo.
Penso
que resume também o pensar de uma boa parcela da população hoje, senão da
maioria.
Fazer
um diagnóstico da crise para essas pessoas soaria mais como uma chata
redundância, pois eles têm as cicatrizes da crise na pele, o desânimo estampado
na face. O que eles desejam ardentemente são prognósticos, os remédios para sua
situação de marginalizados.
Ai
é que entra a causa do desânimo. Quem vai dar as receitas? Já não confiam nos
políticos nem nos partidos, nem nos sindicatos. Sabem que deles só podem
esperar o reforço do mesmo, nenhuma mudança voltada para favorecer os de baixo,
mas todas as mudanças necessárias para favorecer ainda mais os de cima. Pois
não é isso o que está acontecendo?
Como
diziam os revolucionários espanhóis na guerra civil de 1936, é necessário que
“la tortilla se vuelva”, ou seja, é preciso virar a omelete, se não virar,
queima. No nosso caso, isso é o mesmo que dizer que há que começar tudo de
novo, desde os de baixo. Se não conseguirmos aumentará a brecha entre a riqueza
e a pobreza e corremos o risco de ficar sem país.
Eles
estão entregando tudo: terras, o que está em baixo da terra (minérios); água,
ensino, saúde, seguridade social, segurança nacional, soberania. A expansão das
fronteiras agrícolas sem planejamento e sem controle está liquidando com as
florestas, matando os mananciais, secando os rios e ameaçando até os lençóis
freáticos e os aquíferos. Pior, continua o genocídio dos povos indígenas, dos
negros, dos jovens, das mulheres. Nada os detêm. Indignar-se e protestar já não
resolve. O sistema é cego, mudo e surdo. Insensível, uma máquina infernal
destruidora, implacável.
Já
não basta indignar-se, é preciso rebelar-se. Não basta rebelar-se, é preciso
organizar-se.
As
escolas jogam um papel fundamental no movimento necessário para reconquista do
país pelos seus habitantes.
O
sistema quer acabar com a escola pública e impor o pensamento único nas escolas
privadas, transformar o ensino em outra commodity, ou seja, em mercadoria, em
objeto de lucro. Não se pode aceitar isso.
É
aí que deve começar a rebelião. Rebelião no bom sentido. A rebeldia pela
recuperação do pensamento crítico para enfrentar e derrotar o pensamento único
tem que começar nas escolas. Os professores têm a obrigação de assumir o
protagonismo dessa rebeldia, mas se os alunos não tirarem a bunda da cadeira,
para defender a escola pública e os professores rebeldes, nada acontecerá.
Devolver
à escola o pensamento libertário de Paulo Freire e envolver nessa dinâmica toda
a comunidade do entorno. É um bom começo como atestam os clubes de mães, as
comunidades eclesiais, os agrupamentos contra a carestia, movimentos que no
passado se transformaram no tsunami da luta pela anistia e pelas eleições
diretas e liquidaram com a ditadura militar.
Só
que a ditadura não era só militar. Na época, o Estado foi capturado pelo
capital transnacional. Com a democratização e eleições, o Estado e a Nação
foram capturados pelo pensamento único imposto pela ditadura do capital
financeiro.
Essa
é a questão fundamental: derrotar o pensamento único impondo o pensamento
crítico e criativo. Derrotar a hegemonia do capital financeiro e impor um
projeto nacional de desenvolvimento integral. Para isso é preciso libertar-se
da alienação, libertar-se da servidão intelectual. Ser livres! Eis aí o grande
desafio para nas novas gerações.
Nem
os políticos nem os partidos vão fazer esse projeto nacional. Então é preciso
desencadear esse movimento nas escolas, nos bairros, em cada família, para
defender a escola pública de qualidade e colocar a escola, as associações, as
universidades para pensar o país.
Formar
a partir das bases da sociedade uma ampla frente de salvação nacional. Pois
disso se trata. Estão entregando a soberania do país e para que isso se efetive
estão anulando pensamento livre e crítico. Só a rebeldia da juventude salva o país
e garante o futuro para as novas gerações.
Foto: Glória
Flugel
*Jornalista
editor de Diálogos do Sul
http://operamundi.uol.com.br/dialogosdosul/golpe-no-brasil-juventude-esta-farta-de-diagnosticos-e-chegada-a-hora-dos-prognosticos/28032017/
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