O
Presidente que propôs as Reformas de Base no famoso Comício da Central do
Brasil, em 1964 e por isto foi derrubado do poder pelo Golpe Militar e exilado,
jamais voltou com vida ao Brasil. Nesta homenagem, republico pequena biografia
do Presidente João Goulart, originalmente publicada no portal Do Instituto João
Goulart
jango
João
Belchior Marques Goulart (São Borja, 1 de março de 1919[Nota 1] — Mercedes, 6
de dezembro de 1976), conhecido popularmente como “Jango”, foi um político
brasileiro e o 24° presidente de seu país, de 1961 a 1964. Antes disso, também
foi vice-presidente, de 1956 a 1961, tendo sido eleito com mais votos que o
próprio presidente, Juscelino Kubitschek.
A
família de Goulart era de ascendência portuguesa, sendo ele filho de Vicente
Goulart, estancieiro do Rio Grande do Sul que tinha grande influência na
região, ajudando em sua entrada na vida política. Formou-se em Direito na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1939. Foi deposto pelo Golpe
Militar de 1964, liderado pelo alto escalão do Exército.
João
Goulart nasceu na Estância de Yguariaçá, no distrito (hoje município) de
Itacurubi, em São Borja, no Rio Grande do Sul, em 1 de março de 1919. Seus pais
eram Vicente Rodrigues Goulart, um estancieiro e coronel da Guarda Nacional que
havia lutado a favor de Borges de Medeiros na Revolução de 1923, e Vicentina
Marques Goulart, uma dona-de-casa. A maioria das fontes indica seu ano de
nascimento como sendo 1918, mas na verdade é 1919. Isso acontece por causa de
uma segunda certidão de nascimento que seu pai mandou fazer, na qual foi
acrescentado um ano na idade de Jango para que ele pudesse ingressar na
Faculdade de Direito de Porto Alegre.
Seu
avô materno, Belchior Rodrigues Goulart, descendia de imigrantes açorianos que
chegaram no Rio Grande do Sul na segunda metade do século XVIII. No grupo dos
primeiros açorianos a se estabelecerem em solo gaúcho, mais especificamente em
Rio Grande, no ano de 1749, e no Porto de Viamão, em 1752, havia pelo menos
três imigrantes que usavam o sobrenome de origem flamenga “Govaert”, mais tarde
aportuguesado para Goulart ou Gularte.
Quando
Jango nasceu, a Estância de Yguariaçá era um ponto isolado no interior do
município de São Borja. Sua mãe Vicentina, não teve, portanto, nenhuma
assistência médica no momento do parto. Mas teve, entretanto, a importante
ajuda de sua mãe, Maria Thomaz Vasquez Marques, que impediu a ocorrência de um
infortúnio na família. De acordo com a irmã de Jango, Yolanda, “minha avó foi
quem conseguiu reanimar o Janguinho que, ao nascer, já parecia estar morrendo”.
Como
a maioria dos descendentes de açorianos, Maria Thomaz era uma católica muito
devota. Enquanto reanimava o neto, aquecendo-o junto ao corpo, ela rezava para
São João Batista. Ela prometeu ao santo que se o recém-nascido sobrevivesse,
receberia seu nome, e não teria seus cabelos cortados até os três anos de
idade, quando, vestido de São João Batista, acompanharia a procissão de 24 de
junho.
Jango
era o mais velho de oito irmãos. Teve cinco irmãs – Eufrides, Maria, Yolanda,
Cila e Neuza – e dois irmãos, ambos falecidos prematuramente; Rivadávia (n.
1920) morreu seis meses após nascer e Ivan (n. 1925), a quem era profundamente
ligado, morreu de leucemia aos 33 anos de idade, em 1958, quando Jango já era
Vice-Presidente da República.
Após
passar a infância em Yguariaçá, Jango partiu para o município vizinho de Itaqui
para estudar, como resultado da decisão de seu pai de formar uma parceria com
Protásio Vargas, irmão de Getúlio, após arrendarem um pequeno frigorífico
naquele município de um empresário inglês. Enquanto Vicente permaneceu à frente
do negócio nos dois anos seguintes, Jango estudou no Colégio das Irmãs
Teresianas, junto com suas irmãs. Apesar de ser um colégio misto durante o dia,
apenas as garotas podiam passar a noite no internato. Então ele tinha que
dormir na casa de amigos de seu pai. Foi em Itaqui que Jango apaixonou pelo
futebol e desenvolveu gosto pela natação em um açude localizado no terreno do
frigorífico.
Após
retornar ao município de São Borja, com o fim de sua experiência como parceiro
no frigorífico, Vicente decidiu matricular Jango no Ginásio Santana, escola
pertencente a Irmãos Maristas em Uruguaiana. Jango cursou as quatro primeiras
séries no internato Santana, mas, ao final de 1931, foi reprovado. Irritado com
o fraco desempenho do filho naquela escola, Vicente decidiu mandá-lo estudar no
Colégio Anchieta, em Porto Alegre. Embora esta fosse sua primeira vez na
capital do estado, Jango não teve nenhum problema de adaptação, já que foi
morar numa pensão em companhia dos amigos Almir Palmeiro e Abadé dos Santos
Ayub, este último de São Borja e muito ligado a ele.
Conhecedores
das habilidades excepcionais de Jango nos jogos de futebol da escola, onde
atuava na posição de lateral-direito, Almir e Abadé o convenceram a fazer um
teste para o time infanto-juvenil do Sport Club Internacional. Jango conseguiu
ser selecionado e passou a dividir os períodos de aula no Colégio Anchieta com
os treinos e jogos do Internacional. Em 1932 foi campeão estadual na categoria
infanto-juvenil. O centroavante da equipe juvenil, Salvador Arísio, relatou que
Jango era “um guri excepcional, meio fechado e muito, muito bom”.
Apesar
de ser originário de uma família rica, ele nunca usou a influência do pai para
conseguir qualquer coisa dentro do clube, segundo Arízio.
Ainda
em 1932, Jango completou a terceira série do então curso ginasial no Colégio
Anchieta, com uma atuação um tanto irregular, o que se repetiria durante os
estudos na Faculdade de Direito. De volta a Uruguaiana, Jango concluiu o ensino
médio no Ginásio Santana.
Mandado
para Porto Alegre após concluir o ensino médio, Jango cursou a Faculdade de
Direito, a fim de satisfazer as necessidades do pai, que desejava ver seu
primogênito com um diploma de ensino superior. Lá, ele restabeleceu contato com
os amigos de infância Abadé Ayub e Salvador Arísio, ao mesmo tempo em que
consolidou novas amizades através de incursões na vida noturna da capital do
estado. Foi durante este período de intensa boemia que Jango contraiu uma
doença venérea que paralisou seu joelho esquerdo quase por completo. Mesmo após
caros tratamentos médicos, incluindo uma viagem para São Paulo, Jango perdeu a
esperança de que andaria normalmente de novo. Por causa da paralisia do joelho,
Jango se formou separadamente do resto de sua turma, em 1939. Ele nunca atuaria
no ramo do Direito.
Logo
em seguida, Jango voltou para São Borja. Entretanto, seu abatimento em razão do
problema na perna era visível. Ele se afastou do resto da cidade e passou a
viver recluso no interior do município, na Estância de Yguariaçá. Arrumou novos
amigos entre os peões da estância. Mas o abatimento em razão do problema do
joelho não durou muito. Jango logo voltou a frequentar a cidade, tendo assumido
publicamente o problema na perna ao desfilar na Ala dos Rengos do bloco
carnavalesco Comigo Ninguém Pode.
Começo no
PTB
Vicente
morreu em 1943, deixando ao filho mais velho a responsabilidade de cuidar de
suas propriedades rurais. Jango logo se tornou um dos estancieiros mais
influentes da região. Após a renúncia de Getúlio Vargas e seu retorno a São
Borja em outubro de 1945, Jango já era um homem rico antes dos 30 anos de
idade. Ele não precisava da política para subir na vida, mas os frequentes
encontros com Vargas, amigo íntimo de seu pai, influenciaram-no a escolher a carreira
política.
O
primeiro convite que Jango recebeu para entrar em um partido político foi o de
Protásio Vargas, responsável por organizar o Partido Social Democrático (PSD)
em São Borja. Protásio percebeu que Jango poderia ter sucesso na carreira política,
mas ele recusou o convite por intervenção de Getúlio. Alguns meses depois,
entretanto, Jango aceitou o convite de Getúlio para entrar no Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB). Ele foi o primeiro presidente do PTB local e se
tornaria, mais tarde, presidente do PTB estadual e nacional.
Em
1947, Getúlio convenceu Jango a concorrer a um assento na Assembleia
Legislativa. Ele foi eleito com 4.150 votos, se tornando o quinto candidato
mais votado, a frente de seu cunhado Leonel Brizola (casado com sua irmã Neusa
até a morte dela em 1993), outra estrela em ascensão do PTB. Jango não era um
membro ativo da Assembleia, mas lutou em defesa de um subsídio ao mais pobres
na compra de comida. Ele logo virou um confidente e protegido político de
Vargas, se tornando um dos membros do partido que mais insistiram para que ele
concorresse nas eleições de 1950. Em 19 de abril de 1949, Jango lançou a
candidatura presidencial de Getúlio numa festa que deu em comemoração ao
aniversário do ex-presidente na Granja São Vicente, de propriedade de Jango.
Em
1950, Jango foi eleito para a Câmara dos Deputados com quase 40 mil votos, se
tornando o segundo candidato mais votado do PTB no Rio Grande do Sul. Jango
assumiu o cargo de deputado federal em fevereiro de 1951, mas logo em seguida
licenciou-se do mandato para exercer o cargo de Secretário de Estado de
Interior e Justiça na gestão de Ernesto Dorneles, primo de Getúlio, no Rio
Grande do Sul. Durante o período em que foi secretário, que durou até 24 de
março de 1952, Jango se comprometeu com a reestruturação do sistema carcerário,
com a intenção de melhorar as condições de vida dos presos. Mais tarde ele
renunciou ao cargo a pedido de Vargas, a fim de ajudar o presidente com um
impasse político no Ministério do Trabalho, usando sua influência no movimento
sindical.
Ministro do
Trabalho
Em
1953, com o agravamento do impasse, Vargas nomeia Jango o novo Ministro do
Trabalho. A gestão Vargas estava numa profunda crise; os trabalhadores,
insatisfeitos com os salários baixos, promoviam greves, e a União Democrática
Nacional (UDN) mobilizava um golpe de estado com a mídia, a classe média e as
Forças Armadas. Assim que assumiu, Jango teve que responder às acusações de
vários jornais, incluindo o New York Times, que o acusou de manipular o
movimento sindical aos moldes do peronismo. Como Ministro do Trabalho, ele
convocou o 1o Congresso Brasileiro de Previdência Social. Ele assinou uma série
de decretos em favor da previdência, tais como o financiamento de casas, a
regulação de empréstimos pelo Instituto de Aposentadoria e Pensões dos
Bancários (IAPB) e o reconhecimento dos funcionários do Conselho Fiscal do
Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários.
Em
janeiro de 1954, Jango começou a estudar um aumento no salário mínimo, enfrentando
dois tipos de pressão: a mobilização dos trabalhadores nas grandes cidades a
favor de um reajuste de 100% e a rejeição dos empresários à revisão do salário
desde o governo de Eurico Gaspar Dutra, que contribuiria para o empobrecimento
de vários segmentos da sociedade brasileira. As entidades empresariais
concordavam com um aumento de 42% no mínimo, uma medida que, segundo elas,
igualaria os custos de vida aos de 1951. No Dia do Trabalhador, Vargas assinou
o decreto do novo salário mínimo, aumentado em 100%, como exigia a classe
trabalhadora.
Jango
foi forçado a renunciar ao cargo em 23 de fevereiro de 1954, após conceder o
aumento do mínimo, que causou forte reação entre empresários e imprensa.
Presidente nacional do PTB, tornou-se o principal nome trabalhista do país após
o suicídio de Getúlio.
Vice-presidente
Em
1955 foi eleito vice-presidente do Brasil, na chapa PTB/PSD. Na ocasião, obteve
mais votos que o presidente eleito, Juscelino Kubitschek. Naquela época, as
votações para presidente e vice eram separadas. No ano seguinte, casou-se com a
jovem Maria Teresa Goulart, com quem veio a ter dois filhos: Denize e João
Vicente.
Na
eleição de 1960, foi novamente eleito vice-presidente, concorrendo pela chapa
de oposição ao candidato Jânio Quadros, do Partido Democrata Cristão (PDC) e
apoiado pela União Democrática Nacional (UDN), que venceu o pleito.
Em
25 de agosto de 1961, enquanto João Goulart realizava uma missão diplomática na
República Popular da China, Jânio Quadros renunciou ao cargo de presidente. Os
ministros militares Odílio Denys (Exército), Gabriel Grün Moss (Aeronáutica) e
Sílvio Heck (Marinha) tentaram impedir a posse de Jango, e o presidente da
Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, foi empossado presidente.
Presidente
da República
A
renúncia de Jânio criou uma grave situação de instabilidade política. Jango
estava na China e a Constituição era clara: o vice-presidente deveria assumir o
governo. Porém, os ministros militares se opuseram à sua posse, pois viam nele
uma ameaça ao país, por seus vínculos com políticos do Partido Comunista
Brasileiro (PCB) e do Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Apesar
disso, não havia unanimidade nas altas esferas militares sobre o veto a Jango.
Liderada
por Leonel Brizola, cunhado de Jango e governador do Rio Grande do Sul, teve
início o que ficou conhecido como campanha da legalidade. Brizola e o general
Machado Lopes, comandante do III Exército, baseado no Rio Grande do Sul,
mobilizaram o estado em defesa da posse de Jango. Usando uma cadeia de mais de
cem emissoras de rádio, o governador gaúcho conclamava à população a sair às
ruas e defender a legalidade. A campanha da legalidade logo recebeu o apoio dos
governadores Mauro Borges, de Goiás, e Nei Braga, do Paraná.
No
Congresso Nacional, os parlamentares também se opuseram ao impedimento da posse
de Jango.
Na
volta da China, Goulart aguardou em Montevidéu, capital do Uruguai, a solução
da crise político-militar desencadeada após da renúncia de Jânio. Como os
militares não retrocediam, o Congresso fez uma proposta conciliatória: a adoção
do parlamentarismo. O presidente tomaria posse, preservando a ordem
constitucional, mas parte de seu poder seria deslocada para um
primeiro-ministro, que chefiaria o governo.
No
dia 2 de setembro de 1961, o sistema parlamentarista foi aprovado pelo
Congresso Nacional.
No
dia 8, Jango assumiu a presidência. Tancredo Neves, do PSD de Minas Gerais,
ministro do governo Vargas, tornou-se primeiro-ministro.
Neves
demitiu-se do cargo em junho de 1962 para concorrer às eleições de outubro do
mesmo ano, que iriam renovar o Congresso e eleger os governadores. Goulart
articulou a retomada do regime presidencialista. Após a saída de Tancredo,
tornou-se primeiro-ministro o gaúcho Brochado da Rocha, também do PSD. Neste
período foi convocado um plebiscito sobre a manutenção do parlamentarismo ou o
retorno ao presidencialismo para janeiro de 1963. O parlamentarismo foi
amplamente rejeitado, graças, em parte, às propagandas feitas por Jango.
Medidas do
Governo Jango
A
economia continuava com uma taxa inflacionária elevada e, com San Tiago Dantas
como ministro da Fazenda e Celso Furtado no Planejamento, lançou-se o Plano
Trienal, um conjunto de medidas que deveriam solucionar os problemas
estruturais do país. Entre as medidas, previa-se o controle do déficit público
e, ao mesmo tempo, a manutenção da política desenvolvimentista com captação de
recursos externos para a realização das chamadas reformas de base, que eram
medidas econômicas e sociais de caráter nacionalista que previam uma maior
intervenção do
Estado
na economia.
As
reformas de base abrangiam as seguintes áreas:
Reforma
educacional: visava combater o analfabetismo com a multiplicação nacional das
pioneiras experiências do Método Paulo Freire. O governo também se propunha a
realizar uma reforma universitária e proibiu o funcionamento de escolas
particulares. Foi imposto que 15% da renda produzida no Brasil seria
direcionada à educação.
Reforma
tributária: controle da remessa de lucros das empresas multinacionais para o
exterior; o lucro deveria ser reinvestido no Brasil. O imposto de renda seria
proporcional ao lucro pessoal.
Reforma
eleitoral: extensão do direito de voto aos analfabetos e aos militares de baixa
patente.
Reforma
agrária: terras com mais de 600 hectares seriam desapropriadas e redistribuídas
à população pelo governo. Neste momento, a população agrária era maior do que a
urbana.
Reforma
urbana: foi estipulado que as pessoas que tivessem mais de uma casa poderiam
ficar com apenas uma; as demais seriam doadas ao Estado ou vendidas a preço
baixo.
O Golpe de
64
Os
congressistas não aprovaram a medida, o que impediu que o Plano Trienal
obtivesse sucesso. Desgastado com a crise econômica e com a oposição de
militares, o presidente procurou fortalecer-se, participando de manifestações e
comícios que defendiam suas propostas. O comício mais importante ocorreu no dia
13 de março de 1964, em frente ao Edifício Central do Brasil, sede da Estrada
de Ferro Central do Brasil. O Comício da Central, como ficou conhecido, reuniu
cerca de 150 mil pessoas, incluindo sindicatos, associações de servidores
públicos e estudantes. Os discursos pregavam o fim da política conciliadora do
presidente com apoio de setores conservadores que, naquele momento, bloqueavam
as reformas no Congresso.
O
presidente, em seu discurso, anunciou uma série de medidas, que estavam no
embrião das reformas de base. Defendeu a reforma da Constituição para ampliar o
direito de voto a analfabetos e militares de baixa patente e criticou seus
opositores que, segundo ele, sob a máscara de democratas, estariam a serviço de
grandes companhias internacionais e contra o povo e as reformas de base.
Goulart
anunciou que tinha assinado um decreto encampando as refinarias de petróleo
privadas e outro desapropriando terras às margens de ferrovias e rodovias
federais. A oposição acusava o presidente de desrespeito á ordem constitucional,
pois o Congresso não havia aprovado a proposta do governo de alteração na forma
de pagamento das indenizações aos proprietários. Carlos Lacerda, então
governador da Guanabara, disse que o presidente era um “subversivo”.
O
decreto da SUPRA assinado no comício da Central do Brasil, em 13 de março de
1964 provocou forte reação nos setores mais conservadores e contribuiu para a
derrubada de João Goulart, o decreto nº 53.700, de 13 de março de 1964,
revogado por Ranieri Mazzilli, em 9 de abril de 1964 dizia:
“Declara
de interesse social para fins de desapropriação as áreas rurais que ladeiam os
eixos rodoviários federais, os leitos das ferrovias nacionais, e as terras
beneficiadas ou recuperadas por investimentos exclusivos da União em obras de irrigação,
drenagem e açudagem, atualmente inexploradas ou exploradas contrariamente à
função social da propriedade, e dá outras providências.”[1]
Em
19 de março, em São Paulo, foi organizada a Marcha da Família com Deus pela
Liberdade, cujo objetivo era mobilizar a opinião pública contra o governo de
Jango e a política que, segundo eles, culminaria com a implantação de um regime
totalitário comunista no Brasil.
Após
a revolta dos marinheiros e do discurso no Automóvel Clube do Brasil – que
representou uma quebra da hierarquia militar -, em 31 de março de 1964 o
general Olímpio Mourão Filho iniciou a movimentação de tropas de Juiz de Fora
(MG) em direção ao Rio de Janeiro. Este foi o início da “Revolução Redentora“,
maneira como ficou conhecido o golpe de estado que derrubou o governo de João
Goulart entre os militares.
No
dia 1º de abril de 1964, Jango retornou a Brasília e, de lá, para o Rio Grande
do Sul. Brizola sugeriu um novo movimento de resistência, mas Goulart não
acatou para evitar “derramamento de sangue” (uma guerra civil). Jango exilou-se
no Uruguai e mais tarde na Argentina, onde veio a falecer em 1976. No dia 2 de
abril, o Congresso Nacional declarou a vacância de João Goulart no cargo de
presidente, entregando o cargo de chefe da nação novamente ao presidente da
Câmara dos Deputados Ranieri Mazzilli.
No
dia 10 de abril, João Goulart teve seus direitos políticos cassados por 10
anos, após a publicação do Ato Institucional Número Um (AI-1).
Morte
João
Goulart morreu, oficialmente, vítima de um ataque cardíaco, no município
argentino de Mercedes, Corrientes em 6 de dezembro de 1976.
Existem,
contudo, suspeitas por parte de familiares, colegas de política[2] e outras
personalidades[3] de que João Goulart tenha sido assassinado por agentes da
Operação Condor.
[4]
Não foi realizada autópsia alguma em seu corpo antes de seu sepultamento. Supõe-se
que tenha sido envenenado.
No
dia 27 de janeiro de 2008, o jornal Folha de S. Paulo,[5] publicou uma matéria
com o depoimento do ex-agente do serviço de inteligência uruguaio Mario Neira
Barreiro, que declarou que João Goulart foi envenenado por ordem de Sérgio
Fleury, delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). A
autorização teria vindo do presidente da época, Ernesto Geisel (1908-1996).
Em
julho do mesmo ano, uma comissão especial da Assembleia Legislativa do Rio
Grande do Sul divulgou um relatório afirmando que “são fortes os indícios de
que Jango foi assassinado de forma premeditada, com o conhecimento do governo
Geisel”. [6]
Em
março de 2009, a revista CartaCapital publicou documentos inéditos do Serviço
Nacional de Informações (SNI) produzidos por um agente infiltrado nas
propriedades de Jango no Uruguai que reforçam a tese de envenenamento. A
família Goulart ainda não conseguiu identificar quem seria o “agente B”, como é
denominado nos documentos. O agente era tão próximo de Jango que descreveu que
durante a festa de 56 anos do ex-presidente, este teve uma discussão com o
filho por causa de uma briga entre os funcionários Manoel dos Santos e Tito. De
acordo com o agente, Manoel sacou uma faca contra Tito, um “invertido sexual“,
por não ter sido “atendido” por ele.[7]Após a publicação da reportagem, a
Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados decidiu investigar a
suspeita de envenenamento de Jango.[8] Posteriormente, na mesma revista,
Maria
Teresa mostra documentos do governo uruguaio que reforçam suas denúncias do
monitoramento a Jango. Os militares uruguaios seguiam os passos de Jango, seus
negócios, etc.
Nestas
fichas de 1965 (um ano após do golpe no Brasil) com dados sobre Jango naquele
país e tudo mais sobre ele, consta que ele poderia ser vítima de atentado. Em
documento requisitado ao Uruguai pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos e
pelo Instituto Presidente João Goulart, o Ministério do Interior uruguaio
informou que “fontes sérias e responsáveis brasileiras” falavam de um
“presumível complô- contra o ex-presidente brasileiro”.[9]
Em
maio de 2010, após investigar por dois anos as circunstâncias da morte de
Jango, o historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira afirmou em entrevista à Folha
de S. Paulo que a teoria do envenenamento não condiz com a verdade, acusando a
família Goulart de endossar a suspeita na tentativa de obter indenizações do
governo. A tese sobre o suposto assassinato do ex-presidente é analisada num
apêndice inédito a seu livro O Governo João Goulart. Segundo o historiador,
companheiro do ex-presidente no exílio, as denúncias carecem de provas, e a
autópsia do corpo não foi feita não por veto da ditadura, mas por decisão da
família. Ele afirma ainda não ter dúvidas de que Goulart morreu de infarto,
dado seu histórico de problemas cardíacos e falta de cuidados com a própria
saúde.[10]
Homenagens e
anistia
Em
1984, exatos vinte anos após o golpe militar, o cineasta Sílvio Tendler
realizou um documentário reconstruindo a trajetória política de João Goulart
através de imagens de arquivo e entrevistas. Jango atraiu mais de meio milhão
de espectadores às salas de cinemas, se tornando o sexto documentário de maior
bilheteria do país. O filme também foi aclamado pela crítica, recebendo três
troféus no Festival de Gramado e um no Festival de Havana, além da Margarida de
Prata da CNBB.
Existem
em todo país pelo menos onze escolas cujo nome é uma homenagem a João Goulart,
de acordo com o Google Maps. A maioria delas ficam no Rio Grande do Sul, nos
municípios de Alvorada, Ijuí, Novo Hamburgo, Porto Alegre, Viamão e em São
Borja, cidade natal do ex-presidente. Na cidade do Rio de Janeiro há três
escolas homenageando Goulart: uma estadual e duas municipais (uma em Ipanema e
outra na Tijuca). Há também uma no município catarinense de Balneário Camboriú
e outra no município de São João de Meriti no Rio de Janeiro.
Ainda
em Balneário Camboriú foi inaugurada, no dia 6 de dezembro de 2007, exatos 31
anos após a morte do ex-presidente, uma escultura de João Goulart sentado num
dos bancos da Avenida Atlântica brincando com seus dois filhos pequenos. A obra
foi concebida pelo artista plástico Jorge Schroder a pedido do prefeito Rubens
Spernau.[11]
No
dia 28 de junho de 2008 foi inaugurada a Avenida Presidente João Goulart em
Osasco, São Paulo. A Avenida tem cerca de 760 metros de extensão e é a primeira
da cidade com ciclovia.[12] Cidades como Canoas, Caxias do Sul, Cuiabá, Lages,
Pelotas, Porto Alegre, Porto Velho, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro,
Rondonópolis, São Borja, São Leopoldo, São Paulo e Sobral já possuem vias
homenageando João Goulart, de acordo com o Google Maps.
Em
15 de novembro de 2008, foi julgado pela Comissão de Anistia Política do
Ministério da Justiça o pedido de anistia movido por Maria Teresa. O julgamento
ocorreu em caráter de sessão extraordinária e foi realizado durante o 20º
Congresso Nacional dos Advogados, em Natal, no Rio Grande do Norte. O pedido
foi aprovado e, de acordo com tal, a viúva de Goulart receberá uma pensão
mensal de R$ 5.425, valor correspondente ao salário de um advogado sênior, pois
Jango era bacharel em Direito. O valor da é retroativo a 1999, o que totaliza
R$ 643,9 mil. Maria Teresa também foi anistiada e recebeu uma indenização de R$
100 mil.[13]
O
governo reconhece os erros do passado e pede desculpas a um homem que defendeu
a nação e seu povo do qual jamais poderíamos ter prescindido.
—
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
https://luizmuller.com/2017/03/01/dia-1o-de-marco-e-aniversario-de-nascimento-de-joao-goulart-jango/
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