Quando
assumiu a Presidência o atual primeiro mandatário, registrei aqui mesmo a
impressão de que, dessa vez, nem mesmo as moscas mudavam – tal era a repetição
de velhos, batidos e malcheirosos nomes no primeiro escalão. Dei, então, um
desconto: o governo era mais que provisório, era incerto quanto ao futuro: a
titular, a esse tempo, estava apenas afastada. Era ainda possível que, passada
essa fase, um gabinete mais consistente e menos comprometido fosse nomeado.
Mas,
desde então, se as coisas mudaram, foi para pior. A indiferença dos governantes
pela opinião pública e as constantes afrontas a ela cresceram de ponto. No
atual governo, a relação entre indicado e indiciado deixou de ser mera
semelhança verbal; chegou-se a definir a crença de que alguém com ficha
absolutamente limpa não poderia aceitar nomeação alguma para não despertar
suspeitas. Aliás, dizem que isso chegou a ocorrer pelo menos em um caso.
A
escalada nunca cessou. Sucessivas designações e dispensas por conta de
malfeitorias passadas ou presentes continuaram e continuam a ocorrer, uma atrás
da outra. Sequer explicações aceitáveis foram dadas a cada uma delas; o
olímpico desprezo pela opinião chegou ao ponto da consagração explícita: era
preciso aproveitar a “falta de popularidade” para fazer tudo o que ninguém
quer.
Parecia
que o limite fora alcançado quando se criou um ministério (na contramão da
apregoada redução numérica das excelências imunes à jurisdição comum) com o fim
especial de ofertar foro privilegiado a um dos mais notórios gatos da praça.
Repetiu-se, assim, a manobra anteriormente tentada pela ex-presidente, no fito
de blindar um amigo e conselheiro, então detida pela indignada comoção nacional
contrária e pelo veto do STF.
Mas
não havíamos ainda chegado ao fundo. Quando se tratou de nomear um novo integrante
da Suprema Corte para substituir o “acidentado” (sim, entre aspas, pois, por
menos que se goste de teorias de conspiração, a ingenuidade tem limites), o
Impassível tira do bolso o nome mais óbvio e adequado ao fim de “delimitar”
(também entre aspas, por que a palavra não é minha) a Operação Lava Jato. E, de
quebra, cria uma vaga preciosa a ser preenchida, com certeza, pelo mesmo
critério do compadrio.
Certo,
não havia outro Teori Zavascki, figura absolutamente destoante do perfil a que,
ai de nós, estamos habituados a ver na cena pública. Mas, se houvesse, também
não seria o escolhido, à luz dos critérios vigentes. E daí? Daí, nada. O baile
segue. Quem for crente, reze. Quem não for, que aguente o desaforo
privilegiado, já que os panelaços, pelo visto, acabaram.
Fonte:
www.espacovital.com.br
http://www.espacovital.com.br/noticia-34677-suprema-desfacatez-desaforo-privilegiado
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