domingo, 1 de janeiro de 2017

NÃO SÃO CRIMES PASSIONAIS, SÃO CRIMES DE INTOLERÂNCIA. Por Fernando Brito

2016 terminou com o assassinato friamente premeditado do embaixador grego Kyriakos Amiridis; 2017 começa com o assassinato enlouquecido de 12 pessoas em Campinas, inclusive a ex-mulher e o filho de oito anos do assassino, que se matou.

Dizem de ambos que foram crimes passionais.

Por favor, não façam isso com a palavra paixão, ou pelo menos com seu sentido mais comum, o de amor intenso.

Não há amor que deseje o mal do amado.

Não há quem ame que queria surrar , balear ou matar seu amado.

Nisso só há egoísmo e brutalidade, marcas deste tempo de regressão que vivemos.

O amor desfeito, frustrado, perdido não é bala, não é tapa, não é soco. É lágrima e lágrima escorre e seca.

A crônica de fim de ano do meu bom amigo Marceu Vieira diz, com a sabedoria de quem já viveu:

Até o amor que a gente imaginava pra sempre passa. Deixa feridas, mas passa. Feridas que, às vezes, demoram a sarar, mas passam. Passam, sim. Se passa o prazer do sexo, tão intenso, mas fugaz, por que não passaria uma saudade aguda e doída? Passa o que devia e passa o que não devia. Passam a glória eterna, a tristeza que imaginamos sem fim e o riso de segundos.

Não, no amor e na política, quem pensa em soluções dramáticas e “finais” ,esquece que tudo passa e, “sic transit gloria mundi”, tudo é fugaz.

As campanhas moralistas, o exercício das “convicções” acima da leis, as vinganças, as chacinas, a punição atroz como redenção só conduzem ao absurdo da loucura.

É o que tem sido feito em nosso país, o exercício da intolerância,  busca sem limites pelas vantagens que traz a destruição do outro.

A violência não nos é inata, e, há exatos três anos, num texto de ano novo, o escrevi aqui:

O [filho] mais novo ganhou no Natal um joão-bobo, destes de super-heróis, e não se animou a socá-lo.

“Por que eu tenho de bater nele, pai?”

Como descrer do mundo ouvindo isso?

Em nome da moralidade – que da esfera pública transfere-se para a privada e para o comportamento de nossos parceiros e ex-parceiros – esquecemos o perdão pela punição, o afastamento pelo confronto, o desprezo pelo ódio.

E transformamos o que seria decepção e dor em agressão e morte.

Quando os “justiceiros” são heróis, cada um de nós se acha no direito de invadir a vida dos outros.

E, algumas e cada vez mais vezes, destrui-las.

http://www.tijolaco.com.br/blog/o-ano-terminou-com-o-assassinato/


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