2016
terminou com o assassinato friamente premeditado do embaixador grego Kyriakos
Amiridis; 2017 começa com o assassinato enlouquecido de 12 pessoas em Campinas,
inclusive a ex-mulher e o filho de oito anos do assassino, que se matou.
Dizem
de ambos que foram crimes passionais.
Por
favor, não façam isso com a palavra paixão, ou pelo menos com seu sentido mais
comum, o de amor intenso.
Não
há amor que deseje o mal do amado.
Não
há quem ame que queria surrar , balear ou matar seu amado.
Nisso
só há egoísmo e brutalidade, marcas deste tempo de regressão que vivemos.
O
amor desfeito, frustrado, perdido não é bala, não é tapa, não é soco. É lágrima
e lágrima escorre e seca.
A crônica de fim de ano
do meu bom amigo Marceu Vieira diz, com a sabedoria de quem já viveu:
Até
o amor que a gente imaginava pra sempre passa. Deixa feridas, mas passa.
Feridas que, às vezes, demoram a sarar, mas passam. Passam, sim. Se passa o
prazer do sexo, tão intenso, mas fugaz, por que não passaria uma saudade aguda
e doída? Passa o que devia e passa o que não devia. Passam a glória eterna, a
tristeza que imaginamos sem fim e o riso de segundos.
Não,
no amor e na política, quem pensa em soluções dramáticas e “finais” ,esquece
que tudo passa e, “sic transit gloria mundi”, tudo é fugaz.
As
campanhas moralistas, o exercício das “convicções” acima da leis, as vinganças,
as chacinas, a punição atroz como redenção só conduzem ao absurdo da loucura.
É
o que tem sido feito em nosso país, o exercício da intolerância, busca sem limites pelas vantagens que traz a
destruição do outro.
A
violência não nos é inata, e, há exatos três anos, num texto de ano novo, o
escrevi aqui:
O
[filho] mais novo ganhou no Natal um joão-bobo, destes de super-heróis, e não
se animou a socá-lo.
“Por
que eu tenho de bater nele, pai?”
Como
descrer do mundo ouvindo isso?
Em
nome da moralidade – que da esfera pública transfere-se para a privada e para o
comportamento de nossos parceiros e ex-parceiros – esquecemos o perdão pela
punição, o afastamento pelo confronto, o desprezo pelo ódio.
E
transformamos o que seria decepção e dor em agressão e morte.
Quando
os “justiceiros” são heróis, cada um de nós se acha no direito de invadir a
vida dos outros.
E,
algumas e cada vez mais vezes, destrui-las.
http://www.tijolaco.com.br/blog/o-ano-terminou-com-o-assassinato/
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