Um
homem foi espancado até a morte e teve a casa incendiada e o bar destruído após
ser acusado de ser o responsável pela morte de uma adolescente no interior do
Estado de São Paulo há algum tempo. A investigação na época, contudo, não havia
confirmado que ele era o responsável.
O
povaréu envolvido no linchamento, que aumentou a bola de neve de rumores,
fofocas e maldizeres, não quis saber e decidiu que ele era culpado. Ao final,
questionado pela barbárie, um dos participantes da loucura declarou: “Se a gente
fez, ele deve. Alguma coisa ele deve''.
Nas
últimas semanas, brigas entre o Primeiro Comando da Capital e o Comando
Vermelho e aliados levaram à morte de mais de 100 encarcerados em cadeias do
país. Muitos dos quais, conforme relevaram boas reportagens de colegas, eram
presos provisórios, que não tinham sido julgados ou condenados – parte dos
quais réus primários.
Quantos
inocentes, que estavam lá por erro do sistema judiciário ou da polícia, podem
ter sido assassinados devido à incompetência ou incapacidade do Estado
brasileiro em garantir a vida de pessoas sob sua custódia e da própria Justiça
em analisar, em um curto espaço de tempo, os casos de prisões provisórias?
Essa
é uma situação angustiante. Ser preso por um crime que não se cometeu e morrer enquanto
busca se provar a própria inocência.
Mais
angustiante ainda é verificar, através de postagens em comentários de redes
sociais, opiniões em blogs e textos em sites, que uma parte da sociedade não se
importa com isso. E comemora como se fosse gol da seleção em final de Copa do
Mundo a morte indiscriminada de presos.
Afinal
de contas, para essas pessoas “se a gente colocou o sujeito na cadeia, ele
deve. Alguma coisa ele deve''.
Parte
da população, em momentos de comoção, feito uma horda desgovernada, pede
sangue. Afinal de contas, ''aquele bando de bandidos não são seres humanos
porque desrespeitaram a lei''. E mesmo ''os que não mataram ou estupraram,
matariam se pudessem'', não é mesmo? ''Devem apodrecer por lá''. ''Inocentes?
Não há inocentes na cadeia. Se estão na cadeia é que são culpados.''
Tenho
medo desse ponto de vista. Ele está presente em turbas ensandecidas que ignoram
a lei e fazem Justiça por conta própria. Mas também em uma população com tanto
medo de si mesma que acaba por ignorar as leis e se guiar por discursos que
prometem o impossível: garantir a paz promovendo a guerra. Pois, no final das
contas, essa guerra com ares de inquisição se estenderá a todos, sem exceção.
O
que me lembra sempre de Oscar Wilde: ''Há três tipos de déspotas. Aquele que
tiraniza o corpo, aquele que tiraniza a alma e o que tiraniza, ao mesmo tempo,
o corpo e a alma. O primeiro é chamado de príncipe. O segundo de papa. O
terceiro de povo''.
http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2017/01/14/nao-ha-inocentes-na-cadeia-diz-um-povo-ignorante-ou-doente/
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