Nos
dias de Natal, tenho publicado aqui textos que tentem nos elevar da maldade, da
mediocridade e da desumanidade que teimam em nos fazer perder o gosto do
milagre de cada dia.
Neste,
até agora, não dá.
Porque
me chega aqui uma história que é o anticonto de Natal, escrita pelo colega
Pedro Ferro, do portal Gazetaweb, de Maceió.
Conta
um pedaço da história de Cícero e Laís. Ele, 50 anos, de Girau do Ponciano, no Agreste. Ela, 21, de
São Luís do Quitunde, da Zona da Mata.
Mas
ambos não estão mais lá, como estavam, poucos meses atrás.
Estão
nas calçadas de Maceió: ele, catando latinhas; ela, pedindo esmolas nas
calçadas.
São,
conta Pedro Ferro, dois dos 19 mil excluídos pela fúria moralizadora dos cortes
no Bolsa Família.
Teriam
de levar documentos para provar o que seus retratos já provam: são muito
pobres, miseráveis mesmo, que precisa de uma mão que se lhes estenda e não que
os esbofeteie mais ainda do que a vida já fez.
Documentos?
CPF, para eles, só se for “Certidão de Passar Fome”, que sirva para algum
tecnocrata pançudo lá de Brasília convencer-se de que são apenas miseráveis e
não corruptos que se locupletam com 70, 80, 150 reais por mês, menos do que estes filhos da puta gastam numa
noite restaurante, vindo igualmente do dinheiro público.
Cícero
agarra um santo e reza para a família ter o que comer no jantar. Laís fica à
porta dos bancos e do comércio, pedindo para as filhas, troféus dolorosos que
mostra que ela, como nós, se reproduz, embora no rosto de sua filha maior o que
se veja é a dor que a menor ainda não descobriu e para a mãe, talvez já nem
mais lhe consiga franzir o rosto, de tão “normal” sentir.
Vidas
que secaram, como eram secas as vidas de Fabiano e sua família, que minha
geração conheceu pela obra de Graciliano Ramos.
E
me vem um pensamento mau, lembrando o céu que sonhou Baleia, a cachorrinha dos
retirantes, na hora da morte, onde havia um borralho de fogão para espantar as
pulgas e preás, preás, preás da abundância que nunca teve.
Pois
eu agora tento espantar do coração o desejo de que aos desgraçados que fizeram
isso a esta gente sem nada o desejo que não haja calor a lhes espantar as
pulgas e que, em lugar de preás, lhes assombrem as imagens de Cícero, Laís e
suas filhas, as vidas pobres que eles fizeram virar miseráveis.
Que
a maldição dos pobres os persiga para sempre.
http://www.tijolaco.com.br/blog/uma-historia-anti-natal-da-maldade-humana/
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