A
conjunção de forças que patrocinou o golpe conserva grande unidade em relação
às medidas econômicas e sociais que aceleradamente estão implementando. Não
vacilam no apoio à “PEC do congelamento”, Reforma da Previdência, desmonte do
BNDES, Banco do Brasil e Petrobras. Estão unidos no programa da ofensiva neoliberal,
enquanto um bloco de poder, embora comecem a travar uma intensa disputa interna
sobre quem assumirá a condução política do golpe.
Nas
últimas semanas, o estrato jurídico político do golpe vem assumindo de forma
escancarada o papel de verdadeiro “Partido da Lava Jato”. Agora com o apoio
explícito da Rede Globo, que retoma sua função de convocar atos públicos,
assume a clara representação da classe média alta. Não se trata de uma disputa
secundária. É inevitável comparar o momento atual com a disputa política após o
golpe de 1964, quando os militares sufocaram seus aliados civis, hegemonizando
o controle político.
Partido
“Lava Jato” deixa claro que não vai se limitar aos ataques seletivos ao PT,
como vinha fazendo, investindo cada vez mais para assumir o controle político
do golpe.
Temer
vai se tornando uma representação política cambaleante, pressionado para
acelerar ao máximo as medidas econômicas e sociais do programa golpista.
Não
podemos esquecer que o grande movimento político em curso no atual golpe é o
esvaziamento das margens de governabilidade do Poder Executivo. Caso não
compreendam esse processo, as forças populares correm o risco de ver sua tática
esvaziada, permanecendo impotentes na luta política. Afinal, desde as primeiras
eleições diretas após a ditadura, em 1989, a disputa presidencial converteu-se
no objetivo tático central da esquerda brasileira.
O plano de
Moro e o desafio da esquerda
O
elo frágil do plano político golpista é a inabilitação de Lula para impedi-lo
de disputar as eleições de 2018. Sergio Moro precisa condená-lo ainda no início
do primeiro semestre de 2017, para assegurar o tempo mínimo de confirmação da
sentença pelo Tribunal Regional Federal de Porto Alegre, impedindo que a
inabilitação pela “Lei da Ficha Limpa” adentre o ano eleitoral.
Se
conseguirem inabilitar Lula, único candidato de esquerda capaz de atrair uma
votação significativa das massas populares desorganizadas, estaremos correndo o
grave risco de nos pulverizar em candidaturas inexpressivas, restritas a uma
lógica de autoconstrução, aprisionadas numa centralidade eleitoral que já não
corresponde ao momento atual.
É
previsível que as tensões sociais se agravem nos próximos meses, com as perdas
salariais e redução de políticas públicas. A longo prazo, esvaziar as margens
democráticas do Estado acarretará uma bomba social, ainda mais numa conjuntura
internacional cuja marca é a imprevisibilidade. Um provável cenário futuro como
este explica a necessidade do “Estado de Exceção” e o papel do Partido da “Lava
Jato” capaz de assegurá-lo.
Na
atual situação, deixar de compreender coletivamente o processo político em
curso e manter uma centralidade tática que já não atende à realidade configuram
um previsível erro. Sair da defensiva implica em retomar a campanha pela
convocação de uma Assembleia Constituinte, não apenas do sistema político, mas
capaz de reorganizar de forma soberana e democrática o Estado brasileiro. Esta
pode se converter na principal bandeira para derrotar o golpe.
Para
tanto, a Frente Brasil Popular, principal instrumento unitário surgido no
enfrentamento ao golpe, precisa se converter numa ferramenta capaz de
apresentar um projeto de país, convertendo-se num polo de organização popular.
https://www.brasildefato.com.br/2016/12/06/o-partido-da-lava-jato/
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