Estudos
científicos comprovam que a meditação deve ser ensinada na escola.
Em
seu best seller The Happiness Hypothesis: Finding Modern Truth in Ancient
Wisdom (A Hipótese de Felicidade: Encontrando a Verdade Moderna na Sabedoria
Antiga), o psicólogo social e pesquisador americano, Jonathan Haidt, disse:
“Suponha que você leu sobre uma pílula que poderia tomar uma vez por dia para
reduzir a ansiedade e aumentar o seu contentamento. Suponha que a pílula tem
uma grande variedade de efeitos colaterais, todos bons: aumento da autoestima,
empatia e confiança, que melhora até a memória. Suponha, finalmente, que a
pílula é natural e não custa nada. Você a tomaria? A pílula existe, é chamada
meditação”.
A
meditação é, infelizmente, como vários outros temas, ainda bem menos conhecida
no Brasil do que em outros países, especialmente nos desenvolvidos. Isso
decorre dos mesmos fatores de sempre: a pobreza impede que informação avançada
chegue a mais da metade do país, o pouco conhecimento de línguas estrangeiras
dificulta o acesso aos estudos realizados no exterior, os brasileiros leem
pouco etc.
Há
também em torno da meditação alguns preconceitos, sendo ela associada à
religião budista ou ao espiritualismo, que é uma verdade apenas parcial, pois
já se tornou tratamento médico e psicológico há algum tempo.
Apesar
de já ser estudada cientificamente há mais de 50 anos, o número de estudos
cresceu exponencialmente nos últimos 20 anos [1]. Eles comprovam que os seus
benefícios são diversos e com potencial de mudar completamente a vida de um
indivíduo, tornando-o mais atento, equilibrado (menos estressado) e capaz de
tomar boas decisões. Meditar torna o praticante mais inteligente.
Estudos
realizados no Massachusetts General Hospital (Hospital Geral de Massachusetts)
por professores da Harvard Medical School (Escola Médica de Harvard), como
James E. Stahl e Sara Lazar, comprovam que a prática de artes de relaxamento,
como a meditação e a yoga, leva a um gasto muito menor de despesas com
saúde[2].
O
estudo vem sendo realizado desde 2006 e os dados são colocados numa base disponível
na Internet[3]. Não se trata apenas de relaxar. Muitos pensam, errada ou
acertadamente, que não são ansiosos e que, por isso, a meditação não se aplica
a eles. Estão errados.
Os
efeitos psicológicos envolvem cura ou redução de: ansiedade, sendo uma poderosa
ferramenta para ajudar alguém a parar de fumar, de depressão, síndrome de
fadiga, insônia, síndrome de irritação, raiva e assim por diante.
Os
efeitos[4] não são, contudo, apenas psicológicos, mas de melhoria neurológica,
cardiovascular (ex. controle de pressão alta), gastrointestinal, muscular (ex.
cura ou alívio da dor) e, provavelmente, outros ainda não conhecidos.
A
pesquisadora e professora de Psicologia em Harvard, Sara Lazar, é hoje uma das
maiores autoridades científicas na matéria. Ela conta que, alguns anos atrás,
estava treinando para a maratona de Boston e teve algumas contusões musculares.
Foi-lhe indicada a prática de yoga. Como costumeiro, ela pensou que ia para lá
fazer relaxamento, alongamentos e, então, melhorar os músculos.
Após
algumas semanas de prática, contra suas próprias crenças iniciais, Lazar notou
que estava mais calma, com mais compaixão e se sentindo melhor para lidar com
situações difíceis. A primeira conclusão foi a de que seria um efeito placebo
pelo fato de sua professora de yoga ter dito que ela perceberia tais
benefícios. Ao buscar a literatura científica, notou, entretanto, que já havia
muitos estudos mencionando esses mesmos efeitos.
A
primeira pesquisa conduzida por Lazar[5], juntamente com professores de Harvard,
Yale e de outras instituições, comparou meditadores experientes com um grupo
controlado. Eles notaram que praticantes de meditação de longo prazo tinham
mais massa cinzenta em regiões insulares e sensoriais, como no córtex auditivo
e sensorial, que estão relacionados à atenção na respiração e em sons, parte
das práticas de meditação e yoga.
O
aumento de massa cinzenta também foi notado no córtex frontal, que está
relacionado com a memória e a tomada de decisões.
Outro
estudo científico[6], realizado com 48 fuzileiros navais americanos, comprovou
que, com práticas do que os americanos chamam de mindfulness (atenção plena),
foi possível desenvolver nos soldados mais controle das emoções, melhor memória
e capacidade de decisão em situações de conflito. Tal prática só vem crescendo
no exército americano[7].
A
literatura, baseada em vastos dados empíricos, é variadíssima e convergente
quanto ao que está sendo dito aqui. Partindo, então, dessa premissa de que
estão amplamente comprovados cientificamente os efeitos muito positivos da
meditação, cabe questionar: por que não utilizá-la nas escolas?
Muitas
escolas australianas, britânicas, americanas e de outros países já vêm fazendo
isso e os resultados não são menos surpreendentes. Uma escola que se tornou
famosa não somente pela prática de meditação, porém, também, por um conceito de
ensino mais holístico, foi a Robert W. Coleman Elementary.
A
Função HolisticLife oferece nessa escola o programa HolisticMe (Eu Holístico),
envolvendo práticas de yoga, meditação, trabalhos comunitários e outras
atividades que buscam desenvolver as habilidades já comentadas neste texto,
além de maior senso de comunidade, de obrigação e outros aspectos morais do ser
humano quase nada trabalhados nas escolas brasileiras, a não ser por imposição
vertical de regras e castigos.
A
diretora da escola diz que crianças com problemas de raiva conseguiram
resolvê-los por meio da meditação. As crianças dizem que hoje conseguem se
concentrar e se controlar emocionalmente melhor, que percebem melhor os efeitos
das suas ações etc.[8]
É
importante notar que a meditação, para ser mais completa, não se resume apenas
à prática em si, mas, como acontece na yoga, há também o estudo de sua
filosofia, envolvendo a compreensão de aspectos morais necessários para que os
seus efeitos sejam maximizados.
Se
ensinadas desde muito cedo a filosofia moral e a prática da meditação na fase
em que as crianças estão absorvendo e integrando ao seu caráter com muito mais
facilidade as informações a sua volta; é possível construir futuros jovens bem
mais capacitados a conviverem socialmente e se destacarem individualmente.
A
Fundação David Lynch tem um programa chamado “Quiet Time” (Tempo Quieto) que
vem ensinando a Transcental Medidation (Meditação Transcendental), um tipo
famoso de meditação nos Estados Unidos e já existente no Brasil, a professores
e alunos em escolas de Los Angeles, San Francisco, Chicago, Nova Iorque e
outras cidades.
Os
resultados do trabalho da fundação divulgados em estudos são: redução das
suspensões de alunos em 86% (2003), redução do estresse psicológico em 40%
(2009) e aumento de 25% nas notas dos alunos (2013)[9].
Não
é só no exterior que os resultados da meditação para busca de uma mais ampla
consciência já são realidade. Há projetos pelo Brasil, como o da Escola
Ananda[10], em Salvador/BA, desenhada para trabalhar desde cedo um ensino que
una ciência, filosofia e religião.
O
que se apresenta aqui neste breve texto é apenas um grão de areia no deserto de
informações positivas existentes sobre meditação ao redor do mundo. Essa é, na
verdade, uma prática antiga, que existe há milhares de anos, porém, por motivos
já expostos, foi normalmente tratada de um modo folclórico ou religioso.
Com
os resultados práticos comprovados pela ciência, não há mais como dar as costas
à meditação. É preciso que sua prática invada as escolas, empresas, lares,
academias etc. do Brasil, para que seja possível construir uma sociedade mais
empática, equilibrada, menos estressada, mais capaz de lidar com dificuldades,
dentre tantos outros efeitos positivos apontados pelos estudos.
Parece
inegável que a prática longa de meditação pelo máximo de pessoas de uma
comunidade pode levar a mais paz e cooperação, a menos conflito, o que
resultará, inevitavelmente, em uma sociedade mais eficiente e justa, gerando
uma economia muito mais desenvolvida e sustentável.
Esqueçam
os remédios, as pulseiras e outros engodos vendidos por aí. O melhor meio de se
tornar mais inteligente é estudando e meditando, e não custa nada. Essa será
logo descoberta como a “droga” deste século, a primeira a resolver, de fato,
boa parte dos problemas humanos.
*Agradeço
ao amigo Daniel Almeida Filho, doutorando em Neurociência e pesquisador do
Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pelo
fornecimento de informações sobre o tema e pelos comentários sobre o
texto.
** Artigo
redigido para o movimento Mapa Educação e publicado no seu blog.
[1] O
gráfico foi desenhado com base em dados do Pubmed:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/
[2]
http://www.thenewsminute.com/article/harvard-study-finds-yoga-and-medita...
[3]
https://rc.partners.org/about/who-we-are-risc/research-patient-data-regi...
[4]
https://nccih.nih.gov/health/meditation/overview.htm
[5]
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1361002/
[6]
http://www.washingtontimes.com/news/2012/dec/5/marines-expanding-use-of-...
[7]
https://www.psychologytoday.com/blog/mindfulness-in-frantic-world/201207...
[8]
http://hlfinc.org/programs-services/after-school-programs/
[9] https://www.youtube.com/watch?v=NwMZQj1zciA
[10]
http://www.aratuonline.com.br/videos/criancas-sao-apresentadas-e-conhece...
http://jornalggn.com.br/noticia/meditacao-a-droga-dos-genios-por-marcos-villas-boas
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