Na
nota oficial de solidariedade a Deltan Dallagnol, aquele pastor fanático do
ministério público que se auto-atribui poderes bíblicos, Rodrigo Janot
demonstrou que mais se assemelha a um chefete do arbítrio do que a um
procurador-geral da República.
Na
manifestação, Janot não defendeu uma instituição do Estado brasileiro, mas uma
corporação que se organiza a partir não da proteção e da defesa dos direitos
fundamentais e dos interesses difusos da sociedade e do conjunto da cidadania,
mas de uma estratégia de construção do poder corporativo próprio.
A
ver:
1.
Janot reclamou que a ação do Lula foi direcionada unicamente contra Deltan: “A
ação de reparação por danos morais contra um único procurador, quando a
apresentação da denúncia foi feita por um grupo de 13 integrantes da
força-tarefa”. Ao dizer isso, Janot implicitamente admite que Lula tem razão em
processar todos os caluniadores e justiceiros da Lava Jato.
Ocorre,
contudo, que Deltan Dallagnol é o “Coordenador da Força Tarefa do MPF na Lava
Jato” e, como tal, foi quem apresentou, de maneira dolosa, sem provas e com
muita convicção, o espetáculo midiático burlesco do Power Point contra Lula,
transmitido durante horas ao vivo pela Globo News. Os advogados do Lula têm
razão em processar primeiramente o Coordenador do Power Point, para avaliar
medidas subseqüentes contra os demais justiceiros;
2.
Janot diz que a medida individual contra “o bíblico” Deltan “revela uma
tentativa de isolar um dos procuradores do grupo, para facilitar o ataque e
enfraquecer a defesa”.
Por
trás desta tolice retórica, a linguagem denota o caráter beligerante que
orienta os fanáticos do MP, que se auto-atribuem atribuições supremas na
“guerra” de “combate” [não de enfrentamento] à corrupção. As palavras ataque e
defesa, portanto, pertencem a uma gramática persecutória, e não garantista que
o ministério público constitucionalmente deveria observar. Aliás, em coerência
com esta visão messiânica-militar, a nota oficial do Janot foi encaminhada à
imprensa pela Assessoria de Comunicação Estratégica [sic] do PGR. Não basta
“assessoria de comunicação”; tem de ser de “comunicação estratégica”!;
3.
Janot entende que “o ataque a um membro do Ministério Público no exercício da
função é um ataque a todo o Ministério Público”. Nesta passagem, ele apelou
para o espírito de corpo de uma corporação que se solidariza na prática ilegal
e do desvio: os “bíblicos” do exército mais moral da Terra ameaçaram abandonar
o trabalho [deveriam ser demitidos] caso não sejam aprovadas as medidas
fascistas de combate à corrupção propostas por eles.
Estranho
que Janot nunca se pronunciou a respeito de Demóstenes Torres, colega corrupto
do MP que, apesar de afastado por corrupção, recebeu mais de R$ 2,2 milhões de
reais sem trabalhar desde 2013. Será que Demóstenes recebe tratamento
diferenciado de Janot pelo simples fato de não ser do PT e por ter sido um
senador do DEM, aliado fiel do PSDB? Condenar Demóstenes significaria “um
ataque a todo o Ministério Público”?
4.
Janot é um piadista. Ele entende que “O processo contra Deltan Dallagnol é uma
retaliação e mais uma tentativa de intimidação contra procuradores que têm
agido de modo profissional, impessoal, equilibrado e responsável”. Hahaha.
5.
Janot é bi-piadista: “A força-tarefa Lava Jato se colocou corajosamente diante
de pessoas com grande poder econômico e político”. Aécio, Temer, o “Primo”
Padilha, o “Angorá” Moreira Franco, FHC, Serra e toda a camarilha que está na
gênese da corrupção da Petrobrás, de Furnas, da Eletrobrás e de outras
estatais, mesmo sendo multi-citados, não são investigados e, certamente não
serão condenados. Por isso, hahaha de novo, Janot.
6.
Ao final da nota, Janot sustenta que “Num Estado de Direito, aquele que exerce
a função da persecução criminal, em favor do interesse público, precisa ser
protegido da retaliação dos acusados”. Em outras palavras: Janot quer passe
livre para o arbítrio e para o abuso de poder. Por isso “os bíblicos” se
insurgem contra os projetos que tramitam no Congresso que visam coibir abusos e
ilegalidades judiciais e policiais.
O
meio jurídico e a mídia internacional reconhecem que “o bíblico” Deltan
Dallagnol exorbitou da sua função institucional e agiu como agente
político-partidário, mas Janot se recusa a aceitar essa realidade.
Com
suas decisões posicionadas a favor “do bíblico”, o chefe da corporação, que
também é presidente do Conselho Nacional do Ministério Público, perdeu a
isenção para julgar seu subordinado pelas infrações funcionais cometidas, e que
são fartamente comprovadas.
A
ação de reparação de danos impetrada por Lula contra “o bíblico” é um benefício
à democracia e ao Estado de Direito.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2016/12/janot-age-como-chefe-da-arbitrariedade.html
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