O
uso intensivo de fertilizantes químicos, a destruição e degradação de áreas
florestais e o agravamento das mudanças climáticas são as causas do declínio
das populações de insetos polinizadores, como abelhas, moscas e borboletas, ao
redor do mundo. A conclusão é de um amplo estudo de revisão feito por um grupo
internacional de pesquisadores, entre eles a bióloga Vera Lúcia
Imperatriz-Fonseca, do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências da
Universidade de São Paulo (IB-USP). Em artigo publicado na segunda-feira,
28/11, na revista Nature, a equipe apresenta as principais ameaças associadas à
diminuição de espécies polinizadoras em várias regiões do planeta tendo como
base dados biológicos e registros da lista vermelha das espécies ameaçadas da
União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais
(IUCN). No estudo, há ainda indicação de políticas e intervenções que poderiam
ajudar a reverter esse cenário.
A
informação é de Rodrigo de Oliveira Andrade, publicada por Pesquisa Fapesp,
edição Online, 07-12-2016.
As
abelhas e outros insetos polinizadores são conhecidos por proporcionar uma
variedade de benefícios econômicos e ambientais, entre os quais a polinização
de plantas e a produção de alimentos são os mais notáveis. No Brasil, as
abelhas respondem em média por até 24% do ganho em produtividade agrícola em
pequenas propriedades rurais. Também se estima que a exportação global de mel
tenha movimentado US$ 1,5 bilhão em 2007. Em 2016, os benefícios obtidos graças
à polinização no mundo, os chamados serviços ecossistêmicos, foi calculado em
aproximadamente US$ 577 bilhões.
No
estudo, os pesquisadores verificaram que as cerca de 20 mil espécies de abelhas
conhecidas polinizam mais de 90% das 107 principais culturas do mundo. Não por
acaso, 75% da alimentação humana depende direta ou indiretamente da ação de
animais polinizadores. O declínio de algumas espécies de abelhas está associado
ao processo de industrialização, sobretudo na Europa e na América do Norte,
segundo os cientistas. Espécies invasoras de polinizadores também podem causar
o desaparecimento ou a diminuição de populações de espécies nativas, como a
Bombus dahlbomii, na Argentina. Em algumas regiões da Europa, por exemplo, 9%
das espécies de abelhas podem desaparecer nas próximas décadas. É o caso da B.
franklini e da B. cullumanus. De acordo com os pesquisadores, as alterações
climáticas previstas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC) estão influindo na distribuição geográfica de muitos desses
polinizadores a uma velocidade maior do que a capacidade de dispersão desses
animais.
Os
problemas causados pela perda de polinizadores não se restringem à produção
agrícola. Segundo eles, há também impactos negativos na reprodução de plantas
silvestres, uma vez que mais de 90% das espécies de plantas tropicais com
flores e cerca de 78% das espécies de zonas temperadas dependem, pelo menos em
parte, da polinização desses insetos. “O estudo verificou que os polinizadores
são significativamente afetados pelo uso de pesticidas, pelas alterações
climáticas globais e mudanças no uso da terra”, diz Vera Lúcia, que também é pesquisadora
do Instituto Tecnológico Vale (ITV), em Belém, no Pará. “Com base nesse
conhecimento, apresentamos algumas ações de políticas públicas para conservação
desses animais que devem ser discutidas na Conferência das Partes da Convenção
da Diversidade Biológica, entre os dias 4 a 17 de dezembro no México.”
Entre
as medidas sugeridas no estudo estão políticas de estímulo a sistemas agrícolas
mais diversos, melhor regulamentação do comércio de polinizadores manejados,
como as colmeias de abelhas, de modo a controlar a propagação de parasitas e
patógenos, e maior investimento na educação dos agricultores sobre o controle
de pragas, a fim de reduzir a dependência de pesticidas. “O objetivo é melhorar
as condições de vida das populações rurais, conservar a biodiversidade,
melhorar as boas práticas de manejo do meio, e direcionar o planejamento para
guiar as ações futuras de restauração e conservação”, diz Vera Lúcia. “Garantir
a conservação dos polinizadores é retorno certo para a agricultura,
biodiversidade e desenvolvimento científico.”
Artigo
científico:
POTTS, S.
G. et al. Safeguarding pollinators and their values to human well-being.
Nature. 28 nov. 2016.
http://www.ihu.unisinos.br/maisnoticias/noticias/563231-estudo-faz-diagnostico-sobre-declinio-de-polinizadores-no-mundo
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