Se
as instituições do Estado não estivessem podres; se existisse imprensa de fato
no Brasil, e não uma organização mafiosa eternamente contrária aos interesses
populares e nacionais ; se os integrantes dos poderes da República fossem
minimamente sérios e honrassem suas funções públicas e se as classes média e
alta, além de profundamente ignorantes, não chafurdassem no pântano da
intolerância e do ódio, o Brasil teria de pedir desculpas à Dilma e
devolver-lhe o governo, para o qual foi eleita legitimamente com mais de 54
milhões de votos de brasileiros e brasileiras.
Contudo,
como dizem os boleiros, "o se não entra em campo". Sacudida pelas
primeiras delações de executivos da Odebrecht que vieram a público neste final
de semana, a República treme diante das acusações diretas contra Temer e todos
os integrantes da quadrilha que com ele assaltou o poder. Abro parênteses :
continuo achando abomináveis os vazamentos de investigações, deplorando moralmente
o papel dos alcaguetes e considerando que suas revelações devem ser
escrutinadas com rigor, pois estão sujeitas a chuvas e trovoadas. Fecho
parênteses.
Dois
aspectos sobre os tiros certeiros contra a camarilha de Temer, e que alvejou
também tucanos graúdos, merecem atenção: 1) As delações seletivas contra
integrantes do PT e do governo, vazadas pela Lava Jato e amplificadas pela
mídia, estiveram no centro da estratégia golpista que levou ao afastamento de
Dilma; 2) Como justamente uma das peças mais importantes da engrenagem que
feriu de morte a democracia no Brasil, o monopólio midiático, resolveu voltar
suas baterias contra o núcleo central do governo usurpador apoiado por ele, é
gigantesca a possibilidade de as acusações serem verdadeiras. Isso sem falar na
vida pregressa dos delatados.
Dilma
Vana Rousseff não foi citada uma vez sequer nas delações arrasa-quarteirão da
Odebrecht. A contrário, um dos delatores chegou a dizer que a presidenta jamais
se envolveu em qualquer negociação nebulosa envolvendo dinheiro. Para os que
resistem ao golpe, nenhuma novidade. Desde que os verdugos da democracia
começaram a afiar suas garras, denunciamos a ação infame dos conspiradores
corruptos que queriam afastar uma presidenta honesta com o objetivo de se abrigar
sob o manto da impunidade. Consumada a farsa criminosa do impeachment sem crime
de responsabilidade, a melhor definição partiu da manchete de uma respeitável
publicação internacional: "uma assembleia de bandidos presidida por um
bandido."
Chega
ser chocante o cinismo da Rede Globo, Folha de São Paulo, Veja ,Estadão e
congêneres. O Jornal Nacional dedicou 25 minutos da edição de sábado para
liquidar a pretensão de Temer de permanecer no governo até 2018. Mas, é claro,
nem a mais pálida autocrítica. É como se eles nada tivessem com isso. Pudera.
Pedido de desculpas é coisa de quem tem um pingo de nobreza de caráter, o que
está a anos luz de distância dos anões morais que controlam as comunicações no
país.
No
momento se desenha no horizonte com alguma nitidez a saída preconizada pela
mídia para o caos econômico, político, social e institucional causado pelo
golpe : o descarte de Temer e sua substituição por alguém como FHC ou Carmem
Lúcia, através do Congresso Nacional em eleição indireta. Temer ficará apenas
para fazer o jogo sujo da aprovação da PEC 55 e o encaminhamento da reforma da
Previdência. Depois, deixa de ser funcional e ganha um pé no traseiro.
Desde
bem jovem abracei a causa da democracia e de uma sociedade mais justa e
igualitária. Por isso, sofro vendo o Brasil arruinado pela elite mais mesquinha
e tacanha do planeta. Mas que dá um certo prazer de ver a cara de panaca dos
que bateram panela e foram paras as ruas xingar a presidenta Dilma, acusar o PT
de ter inventado a corrupção e clamar pelo golpe de Estado, isso dá. Espero que
tenham aprendido a lição. Aliás, não espero. Sei que, para a causa democrática
e da civilidade política, são caso perdido.
Fora
Temer! Diretas Já!
http://blogdobepe.com.br/index.php/politica/item/1235-dilma-10-x-0-paneleiros
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