Os
pretensos boys magia da Car Wash, na República de Curitiba, foram tragados por
alguma espécie de histerismo paranoico diante de uma decisão tomada pela Câmara
dos Deputados, em Brasília, que soterrou as desmedidas criadas e capitaneadas
pelos magnânimos Redentoristas da Procuradoria da República. Travestido de
projeto de iniciativa popular, as desmedidas apresentadas foram gestadas por
longos meses no ventre de todos os Ministérios Públicos do Brasil, com
utilização de expressivos recursos públicos. Não me surpreenderia se tivéssemos
a notícia de que palestras e assinaturas ao projeto fossem critérios de
avaliação do estágio probatório dos que recém ingressaram na carreira. Não se aventa, portanto, iniciativa popular
nas medidas que propalavam necessárias para o combate eficiente à corrupção.
Tudo foi um sortilégio. A iniciativa do projeto de lei é de um ente estatal
chamado Ministério Público, o qual usou toda a sua estrutura e poder de fogo
para buscar assinaturas de cidadãos induzidos a erro pelo título do projeto. O
título do projeto de lei vendia combate à corrupção, mas o conteúdo dava ao
cidadão também opressão e violação de direitos fundamentais.
De
cunho autoritário, algumas delas buscavam solapar em suas bases o estado
democrático de direito para que se erigisse, em seu lugar, um estado
policialesco gerido por integrantes de um ministério cada vez menos público e
cada vez mais corporativo, unido na sanha persecutória inspirada no
segregacionismo, na parcialidade seletiva e no sectarismo social, ideológico e
político.
O
Projeto aprovado, e talvez deva ser essa a razão do ódio profundo que suas
Excelências devotam ao parlamento integrado por deputados eleitos pelo voto
popular, inclui responsabilização criminal para promotores e juízes, entre
outros atos, por atos ilícitos por eles praticados, antes “punidos” apenas na
seara disciplinar. Com arroubos próprios de primas-donas descompensadas, sem
qualquer razoabilidade, “ameaçaram” renunciar caso o projeto legislativo seja sancionado
pelo Presidente. Um motim praticado por altos servidores públicos, integrantes
de uma Carreira de Estado, que estão no topo da pirâmide da remuneração
estatal. Este disparate dos Procuradores
da República, junto com todo conjunto da obra, é algo inominável.
Queriam
acaso poder violar, sem punição alguma, a Constituição e todas as leis do país?
Acaso fazem parte de uma classe de superdotados infalíveis que deve ser
colocada acima de todos os demais cidadãos para poder prejudicar com seus atos,
impunemente, o cidadão, a nação e o país? Há bem pouco tempo, a lembrança me é
vaga, os ilustrados integrantes da Car Wash diziam que a lei deve valer pra
todos. Para todos, menos para eles.
A
julgar pelo que falaram, vê-se que são muito ciosos de si e os únicos que podem
fazer alguma coisa para salvar o Brasil. Passam a impressão, por este discurso
mendaz e bravateiro, que a Procuradoria da República são eles e o resto dos
seus pares constitui o rebotalho sem cérebro e sem estampa daquela instituição.
Os demais membros do Ministério Público Federal não devem valer nem mesmo o
auxílio-moradia que recebem, quanto mais o subsídio integral. É sério isso,
preclaros jurisconsultos?
Vê-se
que os bem dotados juristas desta novel república nos ensinam sempre uma nuance
jurídica que escapa aos simples mortais como nós. Assim como, para dar um único exemplo,
aprendemos com eles regras nunca antes vistas no cenário jurídico nacional ou
mundial, do tipo que estabelecem conduções coercitivas sem lastro em Lei e na
Constituição, aprendemos agora que a um membro do Ministério Público se concede
a prerrogativa de dar às costas ao seu trabalho e ir voltar ao dolce far niente
de seu gabinete ou o que quer que possa ser entendido como “voltar às nossas
atividades”.
Pelo
nível do discurso, deve-se entender que são uns incendiários da República que
propalam proteger. Seu discurso toca as almas daqueles embebidos de ódio e
rancor, em busca da destruição de um inimigo, qualquer inimigo, que possa dar
vazão, como num transe, aos seus sentimentos mais violentos e lhes sirva de
catarse.
Nos
passam a impressão, falsa espera-se, que não tiveram outro interesse além de
levantar, através do uso absoluto dos meios de comunicação, uma massa de
cidadãos com os quais se alinharam, desde a primeira hora, na ação e na
ideologia, no ódio e no rancor, para concretizar uma ruptura institucional de
consequências nefastas para o nosso Brasil.
Neste domingo, 4 de dezembro, todo planeta saberá, mais uma vez, que
tipo de manifestações de massa eles tiveram a capacidade de invocar, provocar e
estimular sem se importar com quaisquer consequências.
É
sintomático perceber, e também é um traço revelador do que se trata, que
olhando para o passado vemos uma sincronia temporal mágica entre as ações
destes paladinos da justiça, do Juiz Supremo, dos vazamentos, das grandes
manchetes, dos eventos políticos e das manifestações de rua. Nós, comuns
mortais, sequer conseguimos planejar com tal acurácia e eficiência um almoço em
família num domingo. Estes caras respeitáveis, notáveis juristas e comportados
piás de prédio, fizeram uma “revolução”, alinhando-se, desavisadamente
espera-se, ao que tinha de mais retrógrado no esquema de poder que submete este
país debaixo de uma canga desde 1500. A
história não os absolverá.
Graças
a esses gênios, pioneiros da jurisdição-espetáculo, teremos, ano que vem,
eleição indireta para eleger o Presidente da República pela primeira vez desde
o fim do regime instaurado pela Redentora Revolução de 64. Graças a esses notáveis de vanguarda, temos
uma ÚNICA operação policial comandando os destinos de um país inteiro, gestada
à forma de um seriado de televisão para durar anos, indo para a 4ª temporada,
enquanto o nosso país definha econômica, social e politicamente. Cansados da “brincadeira”, esses luminares
agora ameaçam “renunciar”.
Transformaram
nossa terra numa Bananalândia. Nosso
País, com o recrudescimento das divisões internas que vão se tornando a cada
dia mais inconciliáveis está deixando de ser uma Nação. Aos poucos, também, o
Brasil vai deixando de ser uma País soberano.
Não,
a história nunca os absolverá.
Fuad Farad
é Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Paraná.
http://www.debateprogressista.com.br/curitiba-em-transe-por-fuad-farad/?utm_source=dlvr.it&utm_medium=twitter
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