Está
mais ou menos assentada a ideia – à
esquerda e, sobretudo, à direita – de que Michel Temer, que já andava mal das
pernas, perdeu as condições de permanecer, mesmo a médio prazo, no que, em
tese, seria o comando do país.
Em
tese, porque, em que pese a folgada maioria que tem ainda para aprovar
medidas no Congresso vai se tornando
evidente que essa maioria custa caro – como Renan, no Senado – e não está
disposta a aceitar que o PSDB se adone mais do governicho da República, como
deixou claro o “centrão”.
A
delação da Odebrecht, claro, é um rombo da sua já rota imagem, mas nada é mais
grave que a economia em deterioração – e
sem sinais de recuperação adiante, sonho de uma noite de verão do golpismo – e
sujeita ainda ao imponderável reflexo das mudanças na economia mundial que
virão com o Governo Trump.
É
atingido por este torpedo abaixo da linha d’água que um governo com menos de 10% de aprovação
– as pesquisas devem começar a sair nos próximos dias – se joga numa reforma
previdenciária tão obtusa que consegue, por incrível que pareça, ter um grau de
aceitação que nem ele, Temer, conseguiu atingir: zero.
Dela,
recolhe já a incredulidade da elite, que não vê como se vá conseguir implantar
tal grau de arrocho – que atinge em
cheio a classe média de meia idade, sua massa de manobra política – e o ódio do
povão que, aturdido, espanta-se ao ver reimplantada a escravatura do labor
eterno. Que, aloás, mesmo no Império havia sido mitigada pela Lei do
Sexagenário, a Lei Saraiva-Cotegipe, que dava ao negro cativo a liberdade aos 60 anos, trabalhando ainda
mais três para indenizar o seu “proprietário”. Ainda assim, nem este “pedágio”
teria de pagar se atingisse 65 anos.
Todo
o esforço da direita, diante disso, será para manter a pauta das atenções
nacionais voltadas pela uma cruzada anti-corrupção que, embora seletiva,
transborda lama sobre os santos – sem trocadilho com os apelidos da Odebrecht –
de seu próprio altar.
O
nosso, distinto, deve se voltar para a preservação dos direitos, pelo emprego,
pela retomada da atividade econômica .
Se
prevalecer a política das elites, é certo que estaremos, com tal ou qual
formalidade, ao golpe dentro do golpe, com a instituição de um governo de matriz autoritária pior do que a deste e de entrega do país tão danoso quanto o atual.
Se
a esquerda, porém, deixar de lado a auto-análise, disputas de segmentos e de espaços minúsculos e
assumir a defesa do nosso povão, fazendo dela o único divisor de águas da
política, as ruas se encherão e novas eleições serão inevitáveis.
Do
contrário, ficaremos disputando votos em bares e bairros de classe média.
http://www.tijolaco.com.br/blog/2017-ou-rua-ou-ditadura/
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