O
jornalista e colunista da Folha, Jânio de Freitas, decano desta profissão tão
violentada, sabe o que diz. Neste artigo ele revela que a delação premiada de
executivos da empreiteira Odebrecht subiu no telhado. A razão? Moro não
esperava que no rol dos acusados surgissem nomes como os dois estelionatários
da Presidência da República - o grupo político que articulou a queda dogoverno legitimamente
eleito.
Por
Janio de Freitas, na Folha de S. Paulo
A
discussão entre dirigentes da Odebrecht e a Lava Jato, sobre um acordo de
delação premiada, encontra dificuldades resistentes de parte a parte. A ponto
de ser admitida a hipótese de uma situação nova e de decorrências
imprevisíveis, com a mais importante das empreiteiras e os métodos da Lava Jato
postos em xeque.
Há
um mês, Sergio Moro e os procuradores divulgaram que só aceitariam mais um
"acordo" de delação. Havendo, porém, duas empreiteiras a discuti-lo,
era já um degrau mais alto nas pressões contra as dificuldades de dobrar a
Odebrecht e a OAS, nas pessoas de Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro. Nem por
isso os dois saíram correndo para conceder o que lhes é exigido, na concepção
de preço que a Lava Jato arbitra, sem parâmetros prévios, e submete à aprovação
do STF.
Marcelo
Odebrecht está preso em Curitiba há um ano e dois meses, a se completarem na
próxima semana. Aguardou quatro meses para a primeira e breve inquirição. Só na
semana passada foi ouvido pela primeira vez no grupo de procuradores, como
noticiado pela Folha. Léo Pinheiro recebeu outra pena. Os ex-diretores da
Petrobras, que agiram com várias empreiteiras, estão em suas casas de férias em
Itaipava e Angra dos Reis, e em edifícios luxuosos de Ipanema e Leblon.
Leia artigo:
Um Brasil para
derrotados
O
impasse entre a Lava Jato e a Odebrecht deixou bem caracterizado o seu início:
os vazamentos da força-tarefa curitibana de repente arrefeceram, e logo sumiram
mesmo por largo tempo. As informações propostas pela Odebrecht, para análise da
possível delação, davam rumo diferente à temática da Lava Jato: entrevam
lideranças do PSDB, governo paulista, Michel Temer e PMDB, enfim, muitos
daqueles que, se mencionados em depoimentos distantes, foram entregues depressa
aos resguardos do silêncio.
A
Lava Jato nada foi verificar ou quis descobrir nesses veios da corrupção, como
sabem, não o digam ou digam o contrário, os que têm as informações básicas
sobre o que se passa lá e nas adjacências. A confluência de novos citados e o
sumiço de vazamentos faz parecer a existência de uma contradição nessa fase da
Lava Jato, em cobrar mais delações e desprezar delações a mais do que o
esperado ou desejado.
Só
há quatro dias um assunto da nova temática apareceu, com a revelação da Folha,
pela repórter Bela Megale, de que dirigentes da Odebrecht informaram a Lava
Jato sobre doação "por fora" de R$ 23 milhões (hoje, R$ 54,5 milhões)
"à campanha" presidencial de José Serra em 2010.
Além
daquele montante, haveria ainda R$ 2,4 milhões (R$3,6 milhões de hoje) doados
por meio do Comitê Financeiro Nacional da Campanha, portanto, legais em
princípio.
Parte
daquele montante anterior foi depositada no exterior. E aí há, digamos, um
equívoco. Partido não precisa de dinheiro no exterior, o que até exige
complicadora remessa para o Brasil. Depósito no exterior indica como destino,
não campanhas, mas bolsos e contas pessoais, mesmo se encobertas por terceiros.
Ainda
no ramal novo, o aparecimento de Michel Temer e Eliseu Padilha, se bem que
citados por "Veja", traz delicada contribuição para o seu governo.
Não foi por casualidade destoante que a composição do ministério encheu-se de
pendurados na Justiça e estrelas das citações a jato. Pode-se agora deduzir
afinidades a conduzirem as escolhas. No fundo, é de fato o mesmo grupo do PMDB
e da Câmara. O governo montado por Temer tem unidade, pois. De cima a baixo.
Nem
mesmo é casual a proteção que Michel Temer e seus aliados proporcionam a
Eduardo Cunha para protelar sua cassação, já adiada, e agora marcada para 12 de
setembro.
http://blogzecarlosborges.blogspot.com.br/2016/11/segundo-colunista-da-folha-janio-de.html?m=1
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