Ex-ministro
da justiça condena discurso moralista de Deltan Dallagnol, Procurador da
República e Coordenador da Força Tarefa do Ministério Público Federal na Lava
Jato.
Aragão
chama Dallagnol de fascista!
É
um delírio pensar que se controla a corrupção com uma corporação descontrolada
Por
Eugênio Aragão
É
evidente que o Senhor Dallagnol, por melhor que se ache, por mais ungido que se
sinta para erradicar a corrupção no Brasil, não pode pretender ter comando
sobre o processo legislativo de um projeto que de iniciativa popular não tem
nada senão a casca. Foi gestado in camera por um grupinho de procuradores
justiceiros, que, tendo logrado criar no País um ambiente de obsessão pela
agenda do "combate" à corrupção, não teve dificuldade de juntar 2
milhões de chamegões desavisados. Foram intensamente apoiados pela direita
política que tinha só um objetivo: enlamear a esquerda representada pelo PT. E,
para se cacifar, esse grupo fez o papel que se esperava dele, tendo o Senhor
Dallagnol se prestado a apresentar um pífio PowerPoint em que Lula era representado
como o próprio capeta, princípio e fim de todo o mal na terra. Agora, que seus
parceiros de caminhada política veem-se na iminência de serem colhidos pelo
monstrinho que cevaram, mostra indignação por aquilo que chama de
"manobra" e quer a seu lado todos os brasileiros.
A
mim ninguém perguntou se estou com Dallagnol e sua trupe de justiceiros. Mas,
mesmo não perguntado, digo-lhe NÃO. HISTERIA FALSO-MORALISTA NÃO!
Já
vimos ontem onde esse processo de inoculação de apoios obsessivos chegou. Fez
ressurgirem em pleno século XXI fantasmas de um fascismo que se esperava
superado.
Por
fascismo entendo essa pratica politica oportunista que se aproveita das fobias
coletivas para incutir ao público o ódio a um inimigo comum: o judeu, o índio,
o corrupto, o político, o comunista... seja lá o que for. E, mobilizado esse
ódio, busca, com a promessa populista de soluções não realizáveis, com
argumentação simplória de autoridade, estabelecer seu domínio totalitário sobre
a sociedade e o estado.
É
isso que essa campanha pelo "combate" à corrupção está trazendo. O só
uso do substantivo "combate" já diz a que essa campanha veio: a uma
guerra, com inimigos a serem eliminados.
Foi
assim que um pai dominado pela ira obsessiva matou seu filho único em Goiânia e
depois se suicidou. Foi assim que ontem um grupelho de fascistas desvairados
assaltou o plenário da Câmara dos Deputados para pedir a volta da ditadura
militar. Foi assim que senadores resolveram jogar seu carro oficial sobre um
grupo de estudantes que bloqueava o acesso ao Palácio da Alvorada.
O
que mais estamos esperando? Mais mortes? Mais mártires? Um Horst Wessel?
Estamos
jogando nossa democracia arduamente conquistada no lixo da história. E
fazemo-lo mesmo sabendo que o preço a pagar será altíssimo para nossos filhos e
nossos netos. Convertemo-nos numa república bananeira, onde resultados
eleitorais são desrespeitados pelos perdedores sob os cândidos olhares do
judiciário e do ministério público!
E
agora essa: a pretensão de que a coleta de 2 milhões de chamegões desavisados
bastam não só para apresentar a iniciativa popular fake (porque, na verdade,
trata-se de iniciativa corporativa), mas também para comandar o parlamento! O
sonho parece ser Deltan Dallagnol para presidente do Congresso, se é que o
congresso para esses obsecados ainda faz sentido, já que sujeito a
"manobras".
Isso
é puro fascismo, desrespeito profundo ao processo político, ao mandato e à
soberania popular.
Não
seremos reféns dessa corporação. O Congresso tem o direito e o dever de adequar
esse projeto ao que é política e funcionalmente comportável pelo País e não
pode ser levado a jogar a sociedade à aventura de aniquilar garantias
processuais em nome de um"combate" em que sequer valem os costumes da
guerra expressos nas convenções da Haia e de Genebra.
Pensar
que corrupção se controla com uma corporação empoderada e descontrolada é um
delírio.
Urge,
isso sim, pacificar o País, ainda que para isso se calem os protagonistas da
guerra do ódio e da violência estrutural e institucional.
Assina:
Ex-Ministro
da Justiça Eugênio Aragão
http://www.ocafezinho.com/2016/11/17/aragao-dallagnol-histeria-moralista-nao/
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