Apostaram
no caminho do golpe para chegar ao poder sem votos, e o resultado é um governo
totalmente ilegítimo, uma constituição manchada, e uma democracia gravemente
ferida. Apostaram no “quanto pior melhor”, num verdadeiro “vale tudo”, com
arbitrariedades legais, manipulação da informação, exceções jurídicas,
vazamentos seletivos, criminalização da política. Valeram-se do necessário
enfrentamento à corrupção como instrumento político para promover uma
verdadeira perseguição direcionada apenas a algumas forças e quadros políticos,
preferencialmente da esquerda.
Condenaram
uma inocente e proclamam um novo país. Dilma não cometeu nenhum crime de
responsabilidade ou sequer foi citada nas investigações de corrupção ou nas
delações premiadas. Seus algozes, Temer, Aécio e Cunha, dentre outros, sim,
muitas vezes. Nada os constrangeu, no entanto, a empossar um governo elitista,
sem votos, sem negros, mulheres, pobres, mas já com muitos investigados,
acusados de corrupção.
Tudo
sob o silêncio hipócrita e obsequioso dos que antes incentivaram manifestações
e bateram panelas nas varandas gourmet contra a corrupção. Perguntamos então,
que país pode emergir, e ser melhor, depois de um golpe e de tantas injustiças?
É
importante lembrar que as mesmas elites conservadoras e reacionárias, na
história brasileira, utilizando-se das mesmas armas da intolerância e do ódio
político, e contando com o apoio dirigente de boa parte da grande mídia
nacional, perseguiram e levaram a morte o presidente Getúlio Vargas; tentaram o
mesmo com Juscelino Kubitschek; e também perseguiram e golpearam o presidente
João Goulart.
E
mais uma vez perguntamos: o Brasil, os brasileiros e a democracia melhoraram
depois destes golpes? Definitivamente não! Ao contrário. Vivemos anos de
arbitrariedades, autoritarismos, perseguição política, torturas, censura,
reaparecimento de ideias fascistas, crise econômica, crescimento da pobreza, e
uma forte concentração da renda do país nas mãos de poucos.
Hoje,
mais uma vez, o pano de fundo real dos patrocinadores do golpe são os
interesses econômicos de uma minoria, o ajuste fiscal contra os mais pobres, a
retirada de direitos sociais e trabalhistas, a austeridade e redução do Estado
nos serviços públicos (educação, saúde e segurança), mas não a redução dos
incentivos e renúncias fiscais, não os impostos sobre lucros, as remessas de
lucros ao exterior, as grandes fortunas.
Novamente,
o que está em jogo são os interesses privados e internacionais sobre os grandes
ativos econômicos e as potenciais fontes de riqueza do país, como as jazidas de
petróleo do Pré-Sal e a desnacionalização de diversos setores.
O
Brasil precisa refazer o pacto social e democrático depois de uma ruptura tão
profunda, com graves consequências para a sociedade e o nosso futuro. Apenas o
voto popular pode repactuar o Brasil. Devemos resistir, lutar e exigir novas
eleições, iniciando por um plebiscito em que o povo descida sobre novas
eleições e uma constituinte exclusiva para uma reforma política que garanta a
mudança profunda do sistema político brasileiro. O novo pacto nacional, assim
como o novo país, passa obrigatoriamente por sua gente e pela democracia.
*Deputado
federal (PT/RS)
http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2016/09/1817864-uma-aposta-contra-o-brasil-um-golpe-contra-a-democracia.shtml
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