Da Rosa dos Ventos de
Mauricio Dias, na Carta Capital:
Dignos e perseguidos
Oprazer
estranho dos justiceiros da Lava Jato favoreceu o aumento de efeitos danosos na
mídia brasileira com a utilização de vazamento de informações sem qualquer sustentação
de provas materiais. As delações premiadas, a troco de redução de penas e de
devolução de dinheiro ilegal, forçadas pela prisão indiscriminada, ganharam a
dimensão de linchamento com o silêncio dos tribunais. Uma cumplicidade ruim
para o jornalismo nativo e comprometedora para a Justiça.
Não
é um fato novo na história da mídia brasileira trocar a presunção de inocência
por presunção de culpa. Facilita mais quando certos juízes, como agora, criam
um inimigo político.
Tem
sido assim com Lula, com a família dele e seu partido. Para acabar com o
ex-presidente é preciso também destruir o moral dos familiares e do PT.
Ao
entregar, em julho, um recurso de proteção ao Alto-Comissariado das Nações
Unidas para os Direitos Humanos, o advogado Cristiano Zanin explicou por que
Lula tomou aquela decisão: "Ele é vítima de abuso de poder por um juiz,
com a cumplicidade dos procuradores, que atuam lado a lado com os meios de
comunicação”.
Esse
corpo a corpo tem sido assim no Brasil. Lula não é o único a sofrer perseguição.
Vai
para o prelo, em breve, um novo livro de Roberto Saturnino Braga, ex-senador
pelo Rio de Janeiro e ex-prefeito da capital. É uma incursão pela trajetória
pública de um homem honradíssimo, embora ciente das diabruras da política e
cioso do poder da mídia. Nem por isso fez pacto com o diabo.
Saturnino
é cidadão de invejável serenidade. Nele, porém, a suavidade não sufoca a
coragem. Pagou por isso ao longo do tempo. Eis uma das razões, recolhida do
livro: a ilegal relação, nos anos 1960, entre a Globo e a Time-Life. "A
presidência da CPI (...) me valeu o veto do Globo pelo resto da vida…”
Saturnino
conta que, no início dos anos 80,na campanha de reeleição para o Senado,
Ulysses Guimarães esteve no Rio para uma manifestação durante a campanha eleitoral,
realizada na ABI. O Globo deu metade da segunda página para registrar a
presença de Ulysses "sem mencionar” o nome dele. A isso Saturnino
acrescenta: "E sem tocar numa linha sequer no motivo principal, que era a
minha candidatura”.
Hoje,
aos 85 anos, Saturnino Braga recorda o que se passou com Getúlio Vargas, Leonel
Brizola e João Goulart. Lula é o herdeiro desse influente e progressista rastro
na história da República. E paga o preço. Ele só aparece no noticiário para ser
apresentado da forma mais desfavorável possível.
A
mídia tem opções. Pode ser de direita ou de esquerda. Só não precisa ser
desonesta.
http://www.conversaafiada.com.br/pig/lula-e-saturnino-vitimas-da-globo
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