O
rebaixamento do Brasil para a segunda divisão das democracias ocidentais teve
três momentos significativos: a votação da admissibilidade na Câmara, com
aquela malta aos berros invocando o nome do pai e da mãe; a performance de
Janaina Paschoal no comício do Largo São Francisco; e o jovem procurador
gaguejante, armado de um Power Point capenga, conduzindo um discurso tatibitate
naquele que deveria ser o grande desfecho da mais massacrante campanha já
movida contra uma pessoa no país.
O
comentário é de Luís Nassif, jornalista, publicado por Jornal GGN, 15-09-2016.
Foi
como se todo o edifício de marketing erigido em torno da Lava Jato desmoronasse
de uma vez.
Até
agora era ensaio e jogo para a plateia. O jogo de verdade começou ontem. E,
ali, não houve marketing que resolvesse.
O
dia começou com as críticas à parcialidade do Procurador Geral da República
(PGR) Rodrigo Janot, culminando com uma Carta Aberta de seu ex-melhor amigo,
procurador Eugênio Aragão. E terminou com um palco iluminado, com os olhos do
país sobre a Lava Jato, para que procuradores provincianos, armados com todos
os recursos do marketing – prejudicado por um Power Point sofrível – se exibissem
para a torcida durante 90 minutos, sem marcar um gol sequer.
O
único chute, aliás, foi gol contra: a afirmação do procurador de que “não temos
prova, mas temos convicção”. Que mereceu uma blague matadora: uma foto do
helicóptero com os 400 quilos de cocaína e a frase “nós temos provas, mas não
temos convicção”.
Depois
de meses com o país aguardando em suspense o grande dia da apresentação da
denúncia, a peça acusadora assemelha-se a um livro de ensino básico montado com
a assessoria do Google. Descrevem os escândalos da Petrobras, o mensalão, o
presidencialismo de coalizão, a história de José Dirceu no PT, em um
“enrolation” sem par. E terminam com um duplo abuso.
O
primeiro, de não terem apresentado uma prova sequer contra Lula. O segundo de,
mesmo assim, terem alimentado os jornais de manchetes falsas por meses e meses,
e, agora, oferecerem a denúncia, com uma peça que expõe o Ministério Público
Federal à galhofa.
Com
um texto paradidático para ensino fundamental, explicam o que é o
presidencialismo de coalizão.
“Dentro
do “presidencialismo de coalizão”, a formação da base aliada do Governo envolve
três momentos típicos. Primeiro, a constituição da aliança eleitoral, que
requer negociação em torno de diretivas programáticas mínimas, a serem
observadas após a eventual vitória eleitoral. Segundo, a constituição do
governo, no qual predomina a distribuição de cargos e compromissos relativos a
um programa mínimo de governo. Finalmente, a transformação da aliança em
coalizão efetivamente governante, momento em que emerge o problema da
formulação da agenda real de políticas e das condições de sua implementação.
Numa estrutura multipartidária, o sucesso das negociações, na direção de um
acordo explícito entre o Poder Executivo e os integrantes do Poder Legislativo,
que aprova as leis que concretizam o plano de governo, é decisivo para
capacitar o sistema político a atender demandas políticas, sociais e
econômicas”.
Fantástico!
Entenderam o que é o presidencialismo de coalizão!
Mas
o de Lula é diferente.
“No
entanto, de forma contrária, em vez de buscar apoio político por intermédio do
alinhamento ideológico, LULA comandou a formação de um esquema criminoso de
desvio de recursos públicos destinados a comprar apoio parlamentar de outros
políticos e partidos, enriquecer ilicitamente os envolvidos e financiar caras
campanhas eleitorais do PT em prol de uma permanência no poder assentada em
recursos públicos desviados”.
Antes
do Lula os partidos queriam cargos para fazer o bem comum, procurar o bem e a
caridade e pagar dízimo para a Igreja.
Mais:
descobriram novidades fantásticas! Que além de construir a governabilidade,
Lula “objetivou também a perpetuação no poder do próprio partido”. Alvíssaras!
No seu curso de Ciências Políticas por correspondência, os doutos procuradores
de Curitiba descobriram que os partidos políticos lutam para se perpetuar no
poder.
Em
um trecho, desenvolvem a tese da caixa única centralizada, como se fosse peça
central para fechar o raciocínio em torno da tal organização criminosa. “Considerando
que o dinheiro é um bem fungível, e tendo em vista que os recursos ilícitos de
cada uma das empreiteiras revertia para o mesmo caixa geral de cada partido, os
valores desviados de diferentes fontes nesse caixa se misturavam”, uma maneira
douta e erudita de dizer que os partidos recebiam propinas de diversas frentes.
Na
falta de provas, recheiam a acusação com uma salada monumental, misturando
acusações diversas, de escândalos e sub-escândalos já levantados, das
mutretagens da André Barbosa com agências de publicidade, à Eletronorte, para
atribuir tudo a Lula.
O
leitor esperando as provas, e nada. Em cada capítulo repetem a história do
apartamento tríplex – sem apresentar um dado sequer de que é ou era de Lula; e
a guarda dos documentos presidenciais, bancada pela OAS.
É
para isso que se quer as Dez Medidas. Para conferir um poder avassalador para
procuradores sem discernimento, que sabem apenas jogar para a mídia.
Com
esse espetáculo burlesco, os procuradores da Lava Jato facilitaram o trabalho
dos que pretendem esvaziar sua atuação. Fizeram o mesmo que seus colegas
portugueses com o ex-primeiro-ministro José Sócrates: montaram uma campanha sem
provas para destruir a imagem política. Entregue o trabalho sujo, chegou a hora
do Alto Comando enquadrá-los. E, nada melhor, do que a apresentação canhestra
de procuradores imberbes e deslumbrados para facilitar o desmonte.
http://www.ihu.unisinos.br/560114-denuncia-inepta-da-lava-jato-expoe-o-ministerio-publico
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