Depois
de três anos bombardeando a todos com pessimismo, ódio e com a percepção de um
país em frangalhos, destruído, derrotado, não deixa de ser curioso observar a
súbita guinada da mídia brasileira, com o auxílio providencial dos Jogos
Olímpicos. O Brasil de repente parece outro lugar, com mais humor, energia e
esperança no futuro. “Este é um país que vai para a frente” seria o lema
perfeito para os tempos que vivemos, se não tivesse sido um dos slogans
utilizados pela ditadura militar para ludibriar os incautos. Ops.
Como
em todo golpe que se preza, o derrotismo explícito da velha mídia e de seus
sabujos a soldo se transformou rapidamente em um ufanismo rastaquera, vulgar.
Exatamente como em 1964, agora os (de)formadores de opinião reconhecem que este
é um país incrível, capaz de espantar o mundo com seus feitos, como a abertura
de uma Olimpíada. Ora, e quem é que não sabia disso? Somente os vira-latas da
imprensa e os que vestiam camisetas da CBF para protestar até outro dia
apostavam no vexame, que seríamos incapazes de fazer uma festa daquelas. Pois
eu acho até que foi fraca para o potencial que temos.
A
festa idealizada por Fernando Meirelles, Daniela Thomas e Andrucha Waddington
foi bonita, mas infelizmente contribuiu para este clima ufanista, ao pintar um
país onde brancos, negros e índios convivem pacificamente e onde se respeita a
natureza exuberante como nenhum outro. Nada mais oposto ao que vivemos e
viveremos com os golpistas no poder. OK, faz parte do espetáculo, ninguém
mostra suas desgraças e incoerências em eventos como este, mas que foi irônico
assistir aquilo neste momento, foi.
O
otimismo está à venda nas manchetes e nos telejornais, que se igualam enquanto
versões replicadas do Jornal Nacional da época da ditadura. As Olimpíadas são a
nova Copa de 1970, usada pelos militares para convencer os brasileiros de que o
país ia bem. O apresentador da TV Globo Galvão Bueno chegou a mentir aos
telespectadores dizendo que o presidente ilegítimo Michel Temer tinha sido
“vaiado e aplaudido” na abertura. Que papo furado, Galvão! Temer foi apenas
vaiado. O jornal italiano La Repubblica fez o dever de casa e mostrou a quem
quiser ouvir.
Assistir
às transmissões dos jogos ao vivo pelas emissoras de televisão é para quem tem
estômagos fortes, e não me refiro aos embates entre os atletas. São vomitivos
os comentários exagerados, falsamente contaminados por um otimismo
recém-inventado para enganar trouxas. Aliás, é só isso que a mídia brasileira
tem feito nos últimos tempos: enganar trouxas. Só um trouxa acreditaria que o
país “catastrófico” de menos de seis meses atrás se transformou em um paraíso
de uma hora para outra e que isso se deve ao “novo” governo imposto por um mal
disfarçado golpe apoiado mais uma vez pelos meios de comunicação.
Claro,
é fácil sorrir diante das câmeras quando se almeja apenas o lucro e é
principalmente isso que as emissoras querem com os jogos, uma forma de ajudá-las
a sair da bancarrota em que se encontram. Para obter audiência, é preciso
transmitir a imagem de um país “vencedor” e as Olimpíadas caem como uma luva.
Cheguei a ouvir um comentarista dizendo que a abertura dos jogos “resgatou a
auto-estima dos brasileiros”. E quem a destruiu?
Comparemos
com o clima reinante na Copa do Mundo em 2014, com Dilma Rousseff ainda no
poder e candidata à reeleição. A velha mídia torceu contra desde o primeiro
momento. Falou-se inclusive na possibilidade de alguma das novas arenas
simplesmente desabar, matando gente, o que felizmente não aconteceu. Derrota
para a Alemanha à parte, a Copa do Mundo foi um sucesso, a maior de todos os
tempos, apesar do derrotismo constante da mídia, que só larga o complexo de
vira-latas quando interessa, como agora.
Com
Temer na presidência, a palavra de ordem nas redações da mídia golpista é
“otimismo”, o que não chega a ser uma novidade: o otimismo como instrumento do
golpe é mais uma novela reprisada pela Globo e suas cópias. O roteiro é o mesmo:
enquanto o povo celebra o delírio de que o Brasil “melhorou”, nossa pátria-mãe
é subtraída em tenebrosas transações… Só falta agora ressuscitarem a “Semana do
Presidente” para o clima de revival da ditadura se instalar de vez.
http://www.socialistamorena.com.br/vende-se-otimismo-o-derrotismo-virou-ufanismo/

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