A
leitura da entrevista do presidente em exercício, Michel Temer, no Valor
(acesso apenas a assinantes) é enfadonha como assistir ao desempenho de um
canastrão: tudo é superficial, vaidoso e vazio de convicções e projetos de
longo prazo.
A
valorização cambial da moeda brasileira, por exemplo, que é uma grave ameaça ao
pouco que tem funcionado a indústria brasileira – os ganhos da balança
comercial apontam para uma desaceleração do superavit comercial significativa
em agosto, mostra como a cabeça de Temer está mergulhada do egocentrismo:
Ontem
veio um grupo aqui [de 15 grandes empresários e banqueiros] e um dos temas que
conversamos era sobre isso [a supervalorização do real] Mas eles vieram aqui
para dar apoio [a ele, Temer].
Temer
acha que a legitimidade internacional que lhe falta – é só olhar seu abandono
durante as olimpíadas – vai resolver-se magicamente com a votação do
impeachment.
Vocês
sabem que se o Senado vier a me confirmar, vou começar a fazer viagens pelo
exterior. China, Nova York, Índia, países árabes… fiz viagens quando era vice e
via que todo mundo queria aplicar no Brasil. Quando o governo estiver instalado
e sem embargo de dizer que exerço a Presidência…
O
descompromisso com responsabilidade fiscal fica patente nessa pergunta do Valor
e em sua resposta:
Valor:
Há uma história de que o governo vai enviar um projeto de lei aumentando o
déficit primário deste ano em R$ 25 bilhões. É verdade?
Temer:
Nem sei se será necessário, mas isso jamais chegou aos meus ouvidos.
Como
“não sabe se será necessário”?
No
meio de uma confusão destas – quando se espalham previsões de queda na
arrecadação e insuficiência das já gigantescas metas de déficit deste ano e de
2017, o presidente da República diz que “nem sabe” se é necessário um “rombo
suplementar”?
Mas
é na maldade da aposentadoria que Temer se supera em cinismo.
Diz
que não vai esperar a eleição municipal para anunciar as mudanças para “não
cometer estelionato eleitoral”. Como se não fosse estelionato não apenas deixar
para anuncia-la após sua confirmação no cargo e, mais além, de enfiar goela
abaixo do povo brasileiro uma reforma nos critérios de aposentadoria que nunca
foi exposta à população quando se lhe pedia o voto.
E
que reforma! Tudo é genérico, impreciso. Os 65 e 62 anos como idade mínima para homens e
mulheres terem direito a se aposentar –
mesmo que completem antes o tempo de contribuição – são defendidos com o
critério de “na minha cabeça”…
Na
minha cabeça, tem que haver uma pequena diferença, se o homem se aposenta com
65 a mulher pode se aposentar com 62.
Na
sua cabeça, claro, a idade para ele se aposentar foi de 55 anos. Estas idades
foram calculadas com base em que? Quantas pessoas atinge, com que gravidade.
Na
próxima semana espero, já com a saúde recuperada, postar uma série de
informações sobre quem custa quanto à Previdência, e quanto os trabalhadores
darão a mais de suas vidas, sobretudo os mais pobres, que começam a trabalhar
mais cedo,
E
ajudar, com exemplos e cálculos práticos e pessoais, cada leitora a ver o
tamanho da monstruosidade que isso representará.
http://www.tijolaco.com.br/blog/temer-sobe-no-salto-e-sinaliza-que-vai-atropelar-logo-os-direitos-sociais/
Nenhum comentário:
Postar um comentário