De
novo, um 31 – desta vez sem a necessidade de antecipar a data, como no 1º de
abril de 1964 – marca a ruptura institucional em nosso país.
Param
aí, porém a semelhanças óbvias entre um e outro golpe.
Ainda
que o de hoje possa ter a simpatia de setores militares, talvez com a exceção
daqueles que não conseguem atingir uma visão mais enxuta, tecnológica e
estratégica da Força, não são eles que têm protagonismo na face repressora que
vai se tornar mais evidente nos próximos dias e meses.
Não
há – e a fria recepção que Michel Temer
terá na reunião do G-20 deixará isso claro para qualquer observador atento que
o perceberá quase como um corpo estranho entre os chefes de Estado- para um
socorro internacional que ajude a levantar-nos rapidamente do buraco econômico
em que nos encontramos.
Buraco
que será todo o tempo destacado pelos incômodos companheiros de viagem do
Golpe, os quais vêem em Temer pouco mais que uma ferramenta que já cumpriu
metade de suas finalidade – derrubar o governo eleito com alguma formalidade de
rito – e que não terá serventia se não aplicar todo o arrocho social e
trabalhista que se pretende.
Não
é exatamente o plano do usurpador, que pretende legitimar-se politicamente e
não ocupar o posto de zumbi destruidor que a direita convencional, sua
vocalização na mídia e o “mercado” exigem dele.
Muito
menos o da base fisiológica da qual ele depende – PMDB e partidos satélites –
com o complicador adicional de Cunha e dos imprevisíveis respingos da Lava
Jato. Mas o inferno astral de Cunha deixa, neste momento, este grupo em baixa.
Temer,
num primeiro momento, terá de “mostrar serviço” às forças que o viabilizaram e
só mais discretamente atender às suas – ou quase suas – bases. E elas querem o
combate bruto aos direitos sociais e às liberdade públicas, já, duro, imediato.
Como
diz Elio Gaspari, em sua coluna desta quarta-feira : “A partir de hoje começará
a avaliação de Michel Temer”.
O
protesto institucional, imaterial , abstrato ao golpe vai ganhar contornos
objetivos, com a questão dos aposentados, dos direitos trabalhistas, com os
cortes nas áreas sociais que vão se agudizar, embora já se encontrem em níveis
de estrangulamento.
Tenho
a impressão que Temer terá, nos próximos meses,
uma outra bancada, indispensável. Será a Polícia Federal – a sua polícia
política- e a Força Nacional de
Segurança – a sua guarda pretoriana- e a infantaria das polícias militares dos
governadores que lhe passam o chapéu.
Seu
papel será o de permitir que possa se deslocar na única área por onde pode
caminhar: a sombra.
http://www.tijolaco.com.br/blog/o-vencedor-desfilara-pelas-sombras/
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