O
PMDB tornou-se o partido que adere a todos os governos. Não consegue viver fora
do poder, porque vive da repartição das prebendas – de cargos e de recursos –
de quem detém poder. Esteve com FHC, com o PT e agora com o golpe.
Mas
nem sempre foi assim. O PMDB foi o partido central da luta institucional contra
a ditadura e pelo retorno da democracia. Congregou setores muito diferenciados,
mas unidos por essa luta.
Teve
a direção do maior líder da luta democrática, Ulysses Guimaraes. Que teria sido
o candidato favorito para ser eleito presidente do Brasil, caso a campanha das
diretas tivesse tido sucesso. A própria transição à democracia teria sido
diferente, porque o PMDB tinha um programa de reformas econômicas e sociais,
que acompanhavam indissoluvelmente a reinstalação da democracia no pais.
A
derrota das diretas e a morte de Tancredo Neves permitiram que a transição
fosse vitima da mesma elite da época da ditadura, com o ex-presidente do
partido da ditadura e dirigente da campanha contra as diretas, José Sarney
sendo, paradoxalmente, o primeiro presidente civil da democracia, eleito pelo
Colégio Eleitoral para ser vice-presidente.
A
transição ficou assim restrita a um novo pacto de elite na história brasileira,
com o novo regime instalado não com a cara da resistência democrática e da
campanha das diretas, mas com a cara do Colégio Eleitoral e do compromisso do
novo com o velho, sob a égide de um dirigente da ditadura – Sarney. Não como
acaso, ACM foi o todo poderoso ministro das comunicações, enquanto Ulysses
ficava escanteado.
Ainda
assim, Ulysses comandou o momento mais alto da transição democrática, a
Assembleia Constituinte, da qual ele foi o presidente e que ele denominou de
Constituinte Cidadã, justamente porque afirmava o que a ditadura havia
liquidado e o que o neoliberalismo voltaria a atacar. Apenas aprovada, Sarney
já a atacou, afirmando que ela tornava o Estado ingovernável – diagnóstico já
neoliberal -, porque garantia direitos que o Estado não estaria em condições de
promover.
O
fracasso do governo Sarney esgotou o impulso democrático, levou a candidatura
de Ulysses à presidência, em 1989 a não ter nenhuma transcendência, porque o
PMDB, embora não dirigisse o governo Sarney, pagou o preço de tê-lo eleito e
apoiado.
Com
a morte de Ulysses Guimaraes, o PMDB se descaracterizou completamente. Ficou
reduzido a um partido fisiológico, sem capacidade de nem sequer lançar
candidato à presidência, mas controlando o Congresso e assim negociando seu
apoio aos governos, seja o de FHC, como os de Lula e de Dilma.
A
chegada de Michel Temer à presidência é a resultante desse processo fisiológico
e que teve num nome anônimo o perfeito para presidir um partido anônimo e
adesista a todos os governos. O PT não o escolheu como vice, apenas aceitou a
indicação do PMDB pelo seu presidente, em aliança que se tornou indispensável,
depois que Lula quase foi derrubado por impeachment, em 2005, sem maioria
parlamentar.
Vice
decorativo, conforme confissão dele mesmo, Temer ficou disponível para
aventuras políticas, como o golpe, e ameaçado de condenação nos inúmeros casos
de corrupção em que ele mesmo está diretamente envolvido, além de acobertar
todos os outros casos do seu partido, sob a sua
presidência. Salvo pelo seu mentor Eduardo Cunha, Temer pôde ser o
instrumento do golpe da direita para tirar o PT do governo e impor o programa
derrotado, ao qual o próprio Temer se opôs, quando foi eleito vice presidente
em 2010 e reeleito em 2014.
Traidor,
corrupto, oportunista, medíocre, incompetente, covarde – vai acumulando os
piores epítetos que um político pode ter e, por isso mesmo, se prestou para ser
instrumento do golpe e ser condenado por todo o País, que entoa o “Fora Temer”.
Até
que o PMDB se propõe a expulsar um dos últimos parlamentares dignos do partido,
Roberto Requião porque, como ele diz, ele não é ladrão. Ao que chegou o partido
do doutor Ulysses, honesto e combativo dirigente democrático brasileiro, a quem
Temer não teria podido sequer se aproximar, pelo horror que provocaria naquele
que protagonizou as glórias do PMDB, hoje partido reduzido ao golpismo, à
corrupção e ao neoliberalismo, contra o povo, a democracia e o Brasil.
http://www.brasil247.com/pt/blog/emirsader/250853/O-PMDB-do-Doutor-Ulysses-ao-golpista-Temer.htm
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