Meu
barco nunca gostou de ficar ancorado em algum porto seguro. Ele tinha vocação
para navegar em mares turbulentos e assim o fez. Ainda jovem defini minha
trajetória, coloquei o pé na estrada e fui à luta, conhecendo lugares, coisas e
pessoas dos mais diversos matizes. Com os olhos de aprendiz, transitei por
metrópoles, favelas, becos e vielas, tomei contato com a realidade e descobri
que o mundo não correspondia àquele ideal que me pintavam os livros, meus pais
e os meus primeiros mestres. Na verdade, acabei aprendendo que se existe o bem,
ele está inteiramente sufocado pelo que há de pior na natureza dos seres
humanos.
Mas
como nunca aprendi a lidar com hipocrisias, sou hoje considerado por muitos
“aquele cara que sempre é contra tudo” e aceito isso com um misto de resignação
e de muito orgulho, apesar de causar um certo desconforto na maioria das
pessoas que me cercam a cada vez que exponho minhas idéias, sempre consideradas
fora dos padrões.
Bem.
Sabemos que a humanidade, liderada por algumas pessoas iluminadas que muitas
vezes tiveram que nadar contra a corrente obteve alguns avanços que devem ser
preservados ainda que a duras penas, entre eles, alguns no campo do direito.
Assim sendo, peço que me desculpem, mas cultivo a mania antiquada de abraçar
causas perdidas, entre elas, esta de defender as grandes conquistas do direito
penal universal que são os princípios da ampla defesa, do contraditório, do
devido processo legal, do juiz natural e tantos outros que vários segmentos da
sociedade insistem em vilipendiar. Esquecem-se eles, que poderão amanhã ser
vítimas destes mesmos julgamentos e condenações sumárias que hoje insistem em
aplaudir e fomentar. E nesta hora, irão clamar pelo retorno daquelas garantias
que um dia lutaram por desmoralizar e reduzir a letra morta.
Desculpem-me
ainda por tentar me opor veementemente ao obscurantismo que está sendo
apregoado por todos aqueles que verberam pela legalização da tortura como meio
de obtenção de provas, pela pena de morte (que já existe de fato) e pela volta
da condenação e execução sumária fundamentada no mero clamor público, muitas
vezes criado artificiosamente com o fito de macular ou se descartar de alguma
pessoa que está obstaculizando o caminho de algum poderoso.
Gente!
Quero dizer que não podemos deixar que o estado se transforme em fortaleza na
qual se refugiam apenas as minorias aquinhoadas de poder econômico. Ou ele
existe para trazer dignidade e o mínimo existencial para toda a população ou
então, não terá serventia nenhuma. Infelizmente, a humanidade está mais uma vez
navegando em mares tempestuosos e há que se ter cuidado ou naufragaremos todos
nós. Como me disse um amigo, se não aprendermos pelo amor, aprenderemos pela
dor.
Jorge
André Irion Jobim. Músico e Advogado de Santa Maria, RS
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