“Éramos
lindos até o impeachment ser irreversível”
A
frase do ano já foi proferida e é de um procurador que não quis se identificar
à coluna Painel, da Folha.
Ele
— porque só tem homem ali, como o ministério do interino — se referia às
críticas que Gilmar Mendes, o rei do Brasil, fez à Lava Jato depois que um
vazamento respingou no amigo Toffoli.
Anote:
“Éramos lindos até o impeachment ser irreversível. Agora que já nos usaram,
dizem chega”.
Podia
ser de Lana Turner em algum bom noir. É quase um lamento sertanejo e uma trilha
sonora ideal seria a linda canção de Gilberto Gil e Dominguinhos (“Eu quase não
saio, eu quase não tenho amigos, eu quase que não consigo ficar na cidade sem
viver contrariado”).
A
confissão do rapaz — porque só tem rapazes lá — tem um grau de ingenuidade ou, se
você também quiser, cara de pau.
Desde
o início, há mais de dois anos, o partidarismo da operação comandada por Sérgio
Moro ficou absolutamente claro. Nomeou-se um culpado — Lula —, uma cúmplice —
Dilma — e, em torno deles, tentou-se criar uma teia de crimes, a imensa maioria
“hipóteses”.
A
Veja resumiu tudo naquela fantástica capa no fim de semana das eleições de 2014
(“Eles sabiam de tudo”). Depois era preencher os pontinhos.
Essa
narrativa começou a ser quebrada com a delação de Sérgio Machado, ex-presidente
da Transpetro, que entregou Michel Temer e Aécio “o primeiro a ser comido”
Neves. Depois ainda viria Serra. Não houve como conter os delatores.
Moro
e seu time posaram de heróis, foram saudados em protestos, deram entrevistas,
viraram popstars. De repente, imbecis desmiolados como Faustão e artistas que
eles viam nas novelas estavam falando o nome deles e pedindo autógrafo.
Na
ficção, eles iam acabar com a corrupção. Na verdade, estavam acabando com
apenas um partido. No caminho, ajudaram a apear do poder, numa fraude, uma
presidente eleita democraticamente.
Feito
o serviço, começaram a sumir do noticiário. Gilmar, que nunca deu um pio
enquanto eles acusavam petistas, os chamou de “cretinos”, mandou-os calçar “as
sandálias da humildade”, lembrou que “o cemitério está cheio desses heróis”.
Tio
GM dá palmadas em seu traseiros e eles são obrigados a engolir o choro.
Dormiram sobre os louros de uma fama vagabunda, alimentada pelos mesmos urubus
que comeram e cuspiram Joaquim Barbosa.
Quando
acordaram, estavam no Brasil. Agora não adianta chamar a mamãe.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/eramos-lindos-os-herois-da-lava-jato-engoliram-o-choro-depois-das-palmadas-de-gilmar-por-kiko-nogueira/
Um comentário:
Nem Temer escapou da delação de Machado. Que as delações continuem ajudando a elucidar os esquemas obscuros que ainda existem em nosso país.
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