Todo
governo ilegítimo tende a cair, em algum momento, na tentação de usar a força
para reprimir adversários. Temer sofrerá tal tentação porque vai propor e
tentar aprovar reformas impopulares, que subtraem direitos, como a da
previdência e a da legislação trabalhista. Inevitavelmente, os movimentos
sociais irão para as ruas. Já falam até em greve geral. A fala do ministro
Eliseu Padilha, ao comentar o risco de vaias e protestos contra Temer nesta
sexta-feira no Rio, na abertura das Olimpíadas, foi ambígua. Depois de anunciar
a disposição para ouvir manifestações democráticas, ele subiu o tom avisando
que quem protestar estará protestando contra o Brasil e deve arcar com as
consequências, em resumo. O que haverá no Rio, veremos amanhã. Mais preocupante
foi, porém, o envio de forças do Exército a Natal, para conter uma onda de
violência comandada de dentro das penitenciárias por organizações criminosas.
Paulo
Moreira Leite já comentou ontem, aqui no 247, sobre o grave significado do
emprego do Exército, que tem a função de defender a segurança e a soberania
nacionais, ao lado das outras Forças Armadas, como substituto das polícias – a
PM estadual, a Polícia Federal, a Força Nacional de Segurança. Lembrou que,
após a redemocratização, os presidentes sempre evitaram tal emprego, que
rebaixa a função do Exército. Nesta quinta-feira, o ministro da Defesa, Raul
Jungmann, deu uma declaração preocupante. A de que “a desordem não será
tolerada” pelo governo e que sempre que ela se manifestar as Forças Armadas
poderão atuar com energia.
A
fala de Jungmann deixa uma pergunta no ar e levanta uma preocupação. As Forças
Armadas serão acionadas também quando a “desordem” for de natureza social e
política? Vale dizer, serão usadas para conter protestos contra o governo e
contra suas políticas?
Quando
e se isso acontecer, já não faltará nada para a transfiguração do atual regime,
se efetivado no poder, em ditadura. As falas de Padilha e Jugmann semeiam este
temor.
http://www.brasil247.com/pt/blog/terezacruvinel/247770/Ensaios-sobre-a-repress%C3%A3o.htm
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