Não
consegui conter a explosão de uma lâmina d’água sobre meus olhos quando a
presidenta Dilma mencionou, em seu discurso, o ataque a autoestima dos
brasileiros e brasileiras que o governo usurpador quer implicar com uma pauta
derrotada e injusta para aqueles que mais precisam.
Mas,
a despeito das minhas lágrimas praticamente sincronizadas com a da presidenta,
não foi a tristeza que me dominou durante todo o discurso dela, muito pelo
contrário, foi um sentimento de inspiração e, sobretudo, de esperança acerca da
difícil luta que iremos travar com a fina-flor do conservadorismo nacional.
A
inspiração que encontrei está, justamente, na firmeza e na força das palavras
da presidenta eleita, principalmente no que tange ao endurecimento - sem perder
a ternura ou a razão - com que ela desenhou, para todo o país, que está
sofrendo um golpe de Estado. Ademais, há de se destacar que Dilma apontou o dedo
de maneira muito clara para os principais inimigos do povo e da democracia: a
elite política e econômica, o parlamento capitaneado por um chantageador e a
mídia hegemônica que bancou a atmosfera pessimista que culminou na tentativa de
golpe.
Portando,
ao indicar os antagonistas históricos que tentam destruir, não só a democracia
mas também o pouco que avançamos nas política sociais, Dilma praticamente
chamou a luta todos brasileiros e brasileiras que não compactuam com uma agenda
aristocrata de retirada de direitos básicos (como a CLT e a previdência),
liberdade de expressão popular e recursos essenciais para o avanço do combate a
desigualdade social.
As
palavras de Rousseff foram, nesse sentido, combustível importante e necessário
para alimentar a chama da resistência (e quiçá da revolução, não custa nada
sonhar) que será primordial na longa batalha que travaremos contra a
plutocracia nacional por uma justa divisão de bens e riquezas no país.
Além
disso, não posso deixar aqui de destacar a importância desse discurso histórico
ter saído dos lábios - e do coração - de uma mulher, a primeira chefe de
executivo da história do Brasil.
Sei
que é complicado um homem escrever sobre a luta das mulheres, afinal nasci do
lado opressor e ainda vivo dessa maneira mesmo tentando melhorar a cada dia,
mas não posso deixar passar o simbolismo que representa a superação de Dilma
vir, justamente, no mês que expressa tragédias históricas nacionais.
Vejam
bem: tanto o suicídio de Getúlio quanto a renúncia de Jânio e a morte de JK,
que marcaram para sempre a má fama do mês oito no Brasil, possuem uma
característica comum: foram protagonizadas por homens. Portanto, é fascinante -
e eu diria até poético - que agosto renasça como o mês da esperança graças ao
forte e emocionante discurso de uma mulher sendo injustamente atacada por um
golpe misógino, que fez culminar um executivo de traidores exclusivamente
masculino.
E
olha, só tenho a agradecer a Dilminha pela marca histórica alcançada, por pelo
menos dois motivos: primeiro por que eu nasci em agosto e nunca gostei da fama
azarada que o mês tem, pois apesar de ser agnóstico sou estranhamente
supersticioso (a ponto de ter crescido com raiva do desenho “Ursinhos
Carinhosos” pois o leão, meu signo, era muito covarde) e em segundo pois 2016 é
o ano no qual nasceu minha filha e vou poder mostrar a ela, minha primogênita,
tanto o discurso da presidenta quanto meu texto, evidenciando que papai sempre
estava do lado certo da história: que lutou pela democracia e contra a elite
golpista e conservadora que não aceitou perder a quarta eleição seguida.
A
farsa do impeachment está chegando ao fim e o tempo sombrio para todos cidadãos
e cidadãs brasileiras não acontecerá sem luta e resistência. Sendo assim, esse
golpe pode até sair, mas a partir do primeiro dia vamos vender cara essa
traição, insipirados nas belas palavras da presidenta.
Portanto,
parabéns Dilma! Afinal, no discurso e nas respostas, na postura e na
honestidade, na coragem e na temperança você lacrou, querida!
E
pode ter certeza que não terá sido em vão.
Tadeu
Porto é pai da Valentina e Diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte
Fluminense
http://www.ocafezinho.com/2016/08/29/dilma-no-senado-nas-palavras-de-uma-mulher-agosto-deixa-de-ser-tragedia-e-vira-o-mes-da-esperanca/
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