Folha
de S.Paulo, Estadão e TV Globo desvalorizaram a credibilidade jornalística,
bastante fragilizada, em nome da defesa do golpista Michel Temer. A recente
manipulação da pesquisa Datafolha em favor de Temer explicita isso. Jornalistas
que combatem o monopólio da comunicação afirmam que é fundamental fortalecer
sites e blogs alternativos para mostrar o outro lado dos fatos e alimentar a
denúncia nas ruas e redes.
A
jornalista Maria José Braga assume no dia 26 de agosto a presidência da
Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) após ser eleita no último final de
semana. Maria José vai reforçar a denúncia do golpe, que tem sido combatido
desde o início pela gestão da Fenaj que se encerra no final do mês.
Segundo
ela, a imprensa tradicional deixou o jornalismo de lado para realizar uma
campanha pela destituição da presidenta eleita e para deformar os partidos
políticos do campo da esquerda. "A nossa principal ação agora é a política
e a sociedade brasileira tem mostrado disposição para a resistência e para a
luta", declarou.
Visibilidade
para a informação crítica
“Precisamos
também usar todas as oportunidades que a tecnologia oferece. Precisamos
utilizar essa rede alternativa e crítica contra o pensamento hegemônico e fazer
disso um locus de produção de informação e de difusão, como tem sido feito, a
questão é fortalecer esses canais e dar uma dimensão mais pública”, propôs.
Ela
explicou que esse pólo de informação criaria redes de comunicação de
trabalhadores, ativistas e diversas categorias profissionais e movimentos
dentro do campo dos que defendem a democracia. As informações que existem
circulariam a partir destas redes para ganhar visibilidade.
Comunicação
partidária
Para
ela o caso da pesquisa Datafolha mostra que o veículo abandonou o jornalismo
para defender interesses políticos, econômicos e partidários. “Houve um
interesse em favorecer o presidente em exercício que é na verdade um presidente
golpista”.
A
partir de pesquisa DataFolha realizada nos dias 14 e 15 de julho, a Folha de S.
Paulo publicou que 50% dos entrevistados preferiam que Temer continuasse no
mandato em lugar da presidenta Dilma Rousseff. Ainda pela pesquisa, segundo a
Folha, apenas 3% optaram por novas eleições.
O
site The Intercept, do jornalista Glenn Greenwald, foi um dos primeiros a
apontar a manipulação e divulgar que o relatório da pesquisa mostrava outro
dado que dizia que “60% são favoráveis a nova eleição”.
Conselho
Nacional de Comunicação
Maria
José informou que o Brasil não possui instrumentos legais de regulação da
mídia, portanto, nesses casos de abusos da comunicação não há a quem recorrer.
Ela
defende a criação do Conselho Nacional de Comunicação, que existe em diversos
países, entre eles os Estados Unidos, por exemplo.
“É
um mecanismo democrático de fiscalização dos meios de comunicação que fazem
jornalismo para garantir que a sociedade receba uma informação jornalística,
apurada e veraz”, argumentou Maria.
Ataques à
internet
Renata
Mielli, coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação,
citou 62 projetos que tramitam no Congresso Nacional sobre a internet. Segundo
ela, a grande maioria deles tem o objetivo de restringir direitos na internet.
Segundo
a jornalista, por trás desses ataques há o objetivo de diminuir o espaço de
atuação da mídia alternativa.
“Há
um campo mais largo de jornalistas, comunicadores sociais, dirigentes
sindicais, redes sociais, pessoas que começam a buscar mais fontes de
informação e vão construindo uma contra-opinião na sociedade que funciona como
uma certa vacina”, observou.
Legitimidade
ao golpe
“Em
um período de restrições de direitos o primeiro alvo é o direito à comunicação,
é o ataque à pluralidade e à diversidade. Para que o golpe se consolide ele
precisa de um aparato de comunicação que dê credibilidade e sustentação”,
explicou Renata.
Desse
ponto de vista, Renata conclui, em uma visão pessoal dela, que o trabalho da
imprensa alternativa, com os blogs e iniciativas nas redes sociais, tem
incomodado a grande mídia. E, portanto, precisam ser combatidos.
Como
parte dos ataques ela citou, além dos projetos legislativos em trâmite sobre a
internet, a tentativa de asfixiar economicamente blogueiros.
“A
suspensão de contratos e verbas de publicidade para os veículos alternativos
assim como a judicialização da censura são formas de calar sites e blogs”,
ressaltou.
Retrocessos
Renata
reafirmou a declaração de Maria José sobre o fortalecimento da comunicação
alternativa e acrescentou que é preciso proteger a mídia independente e todos
os segmentos que atuam para fazer o contraponto da informações dominante.
“O
momento agora é de denunciar, resistir e fortalecer os mecanismo que nós temos
e impedir retrocessos nos campos institucionais e principalmente na internet
que, hoje, está sob ataque”, defendeu.
Desconforto
nas redações
Maria
José respondeu ainda sobre a disputa travada dentro das redações dos grandes
veículos. Para ela as redações são um local permanente de desconforto e que
muitas vezes acaba em demissão e em afastamento do profissional de determinada
área.
“Não
existe debate interno nos veículos cada um faz o seu trabalho e muitas vezes as
pressões sofridas não chegam ao conhecimento dos colegas”, disse Maria José.
Mesmo
reconhecendo as dificuldades que o profissional enfrenta, ela defendeu que o
jornalista atue para tornar pública a verdade para a população.
“O
jornalista tem que denunciar e se posicionar política e internamente. Se todos
baixarem a cabeça não há enfrentamento. Se alguns levantarem, o enfrentamento
se dá de forma moderada. Se todos se levantarem o enfrentamento se dá de maneira
bastante significativa e os resultados são mais positivos”, enfatizou.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2016/08/blogs-e-sites-sao-opcao-midia-do-golpe.html
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