Na
semana passada, na Sessão do Senado destinada à discussão do parecer que
analisava a procedência ou improcedência do impedimento da presidente afastada
Dilma Rousseff, a senadora Ana Amélia, do PP do Rio Grande do Sul, proferiu uma
frase infame que precisa ser rebatida em nome da verdade, da Justiça e do
respeito à veracidade da história brasileira.
Ana
Amélia disse ter “muita alegria” de “ser golpista ao lado de ministros do STF”.
Disse isso porque o presidente do Supremo, Ministro Ricardo Lewandowski,
preside o processo de impeachment de Dilma Rousseff. A senadora gaúcha tentou
confundir o público transformando a presença dele em plenário em aval ao
processo de impeachment.
Ana
Amélia, que deve se julgar mais esperta que a esperteza, como quer confundir as
pessoas poderia ter dito que, por Dilma estar se defendendo no processo, por
seu advogado, José Eduardo Cardozo, frequentar as sessões do Senado que tratam
do impeachment, por encaminhar petições e fazer sustentações orais, também está
convalidando o processo.
Tanto
Dilma não reconhece a seriedade do processo por se defender como Lewandowski
não o avaliza ao presidi-lo. Dilma e Lewandowski participam do processo de
impeachment porque o Senado, até o momento, não apoiou a tese farsesca aprovada
pela Câmara dos Deputados em abril último. Dessa forma, participam sob a
premissa de que o Senado pode agir corretamente e rejeitar essa farsa.
Não
espanta, porém, que a senadora Ana Amélia veja na simples presença de
Lewandowski no Plenário do Senado um aval à tese que desencadeou o processo de
impeachment, de que Dilma cometeu crime de responsabilidade. Afinal, ela
integra o Partido Progressista, o partido do golpe de 1964, o partido da
ditadura militar, sucedâneo da Aliança Renovadora Nacional (Arena). E, como se
sabe, ela não considera que houve um golpe em 1964.
Mas
não é só a natureza do partido que a senadora Ana Amélia integra que a levou a
proferir tamanha infâmia; é sua ignorância da história do Brasil. Sim, porque o
STF estar representado em um processo golpista não significaria nada mesmo que
Lewandowski estivesse lá dando apoio ao impeachment – quando, na verdade, ele
está lá cumprindo sua obrigação, assim como Dilma faz ao enfrentar o processo
–, pois o STF carrega em sua história a mácula de ter apoiado o golpe clássico
de 1964.
Aí
vai, pois, uma breve aula de história para a senadora Ana Amélia, para que, por
algum milagre, pare de proferir barbaridades e de esbofetear a tão maltratada
democracia brasileira.
Em
1964, Alvaro Moutinho Ribeiro da Costa presidia o STF. Nessa condição, o
ministro participou e deu cobertura ao golpe de Estado que depôs o presidente
constitucional João Goulart.
Entre
as 3 e as 4 horas da madrugada de 2 de abril daquele ano, Ribeiro da Costa
presenciou e deu a bênção “constitucional” à posse do deputado Ranieri Mazzilli
na Presidência da República.
A
Presidência havia sido declarada vaga, e os golpistas anunciavam que Goulart
deixara o país.
Os
golpistas rasgavam a Constituição vigente, de 1946, e o presidente do STF
trombeteava que a deposição de João Goulart era constitucional.
Outro
episódio do qual o STF não tem motivo para se orgulhar é a deportação de Olga
Benario para a Alemanha nazista, em 1936. Alemã, judia, comunista, procurada em
seu país, Olga estava grávida. Foi entregue pelo Brasil à Gestapo.
Quem
a entregou: o STF, em tabelinha com Getulio Vargas, que dali a um ano
cancelaria as eleições e instauraria a ditadura do Estado Novo.
Por
maioria, mesmo sabendo da gravidez de Olga, o tribunal recusou habeas corpus e
a expulsou. Motivo: ser “estrangeira” e por sua permanência no país
supostamente “comprometer a segurança nacional”. Olga Benario foi morta em
1942, na câmara de gás do campo de Bernburg na Alemanha nazista. Tinha 34 anos,
quando o STF a enviou à morte.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2016/08/ana-amelia-e-alegria-dos-golpistas.html
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