Na
esteira dos britânicos, que recentemente cederam à pressão de grupos
conservadores nacionais e decidiram por deixar o bloco da União Europeia, no
movimento que ficou conhecido como 'Brexit', o governo interino de Michel Temer
vem demonstrando claramente que planeja se afastar dos BRICS, bloco econômico
que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Sob
a gestão do ministro interino das Relações Exteriores, senador José Serra
(PSDB-SP), o Itamaraty não esconde que a atual administração é alinhada com os
interesses norte-americanos e pretende dar às costas para as relações
multilaterais na Ásia e África.
Circula
nos corredores do Itamaraty a informação de que o atual governo interino de
Temer mantém ligação direta com a Casa Branca, em Washington, restaurada após o
golpe de Estado, e que a presença do Brasil entre os maiores credores do
Tesouro norte-americano tornou-se incômoda, a ponto de o governo atual
permanecer “na geladeira”, como afirmou um diplomata brasileiro ao jornal
Correio do Brasil, em condição de anonimato.
Desde
que assumiu a presidência do Brasil, Michel Temer ainda não foi recebido por
nenhum dos líderes dos BRICS. Sinal de que já preveem um 'Braexit' (acrônimo
para Brasil e a palavra exit, saída em inglês).
Do
ponto de vista econômico, o Brasil tem muito mais a ganhar com o BRICS do que
em relações unilaterais com os Estados Unidos.
Um
exemplo prático é que no futuro, com o banco dos BRICS, podemos ter uma
economia menos suscetível a variação do dólar e menos dependente da moeda
norte-americana, como explicou o ex-ministro Celso Amorim em entrevista ao DW
Brasil, em 2015.
Mas
para os golpistas nada disso vem ao caso. O governo interino de Michel Temer
não segue nenhuma lógica econômica, se trata do mais puro entreguismo.
Abaixo segue o artigo da
agência oficial do governo russo, Pravda.
***
BRICS
preparam-se para um "Braexit": adeus, Brasil
"Só
para lembrar: a última vez que os EUA instalaram governo fantoche foi em 2014,
quando, em mais um "golpe sem derramamento de sangue" (sic),
derrubaram o presidente da Ucrânia e lá instalaram um bilionário oligarca. É
cenário comparável ao do Brasil, em 2016" (Zero Hedge, 13/5/2016)
no
Pravda
É
possível que o novo governo pró-EUA no Brasil force uma "Braexit" e
derrube a muralha que protege os BRICS? Segundo Oliver Stuenkel, professor
assistente de Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas em São Paulo,
"muitos (sic) brasileiros acreditam que é hora de deixar" os BRICS.
Há
apenas três anos, a maior nação da América do Sul declarou que desejava
desconectar-se da Internet controlada pelos EUA, por causa da vigilância ilegal
que a Agência de Segurança Nacional dos EUA sobre o país, que incluíam gravar
as conversas telefônicas da (então) presidenta Dilma Rousseff. Hoje, o mesmo
país, sob governo (interino) de Michel Temer, considerado por muitos em todo o
mundo como informante dos EUA, tende fortemente na direção do campo
norte-americano. Parece também estar-se movimentando para longe do grupo BRICS,
do qual o Brasil é membro fundador.
A
'conversão' do governo brasileiro não acontece por acaso. É efeito do
descomunal revide contra o Partido dos Trabalhadores de Dilma Rousseff,
orquestrado por uma coalizão de direita praticamente dominada por população
crescente de extremistas evangélicos. De apenas 5% da população em 1970, os
evangélicos já são hoje 22% dos 200 milhões da população do Brasil. Estão a
caminho de se tornarem maioria já em meados do século.
As
igrejas evangélicas com conexões fortes com quartéis-generais nos EUA - e não
raras vezes controladas pelas 'matrizes' - já são atores muito ativos nas
eleições no país, e já conseguiram reverter várias leis sociais brasileiras
progressistas. É muito provável que os fiéis dessas igrejas 'de televisão',
criadas à imagem de muitas que há nos EUA, logo passem a interferir também na
política exterior do Brasil. Com isso, certamente o Brasil se afastará - e
provavelmente se porá em campo adversário - de países como Rússia e Índia, onde
ainda predomina um ethos liberal progressista.
"Campanha contra os
BRICS confirma a importância dos BRICS" - Ryabkov
Em
apenas 35 anos, é possível que o Brasil tenha população majoritariamente
pró-EUA. É tempo mais do que suficiente para que os BRICS preparem-se para a
vida sem Brasil. Há quatro vias claras para conseguir isso.
Expandir,
expandir, expandir!
Ser
pequeno só é virtude se você for anão em circo de excentricidades. Se a OTAN
pode trabalhar com 28 membros, os BRICS, claramente muito mais importantes que
a OTAN, também podem. Tendo surgido e amadurecido em torno de um núcleo de
cinco nações, os BRICS devem agora se abrir para outras frentes, para ganhar
mais tração. O grupo capturou a imaginação mundial como corpo capaz de pôr fim
à fracassada agenda neocolonial do Ocidente. Outro trunfo dos BRICS é a ideia
de crescimento equitativo, que é atrativa para um conjunto diversificado de
nações.
O
grupo deve investir nessa boa-vontade e convidar economias de dimensões
medianas como Indonésia, Malásia, Argentina, Nigéria e Egito. Algumas dessas
economias nem precisarão ser convidadas, porque querem vir. A Argentina seria
excelente candidata, porque pode substituir o Brasil como representante da
América do Sul. Além disso, se o Brasil decidir sair, a inclusão da Argentina
obrigará o governo golpista a repensar a decisão. Ninguém no Brasil aceitará
sem protesto que seu grande rival do sul substitua o Brasil numa organização
poderosa como os BRICS.
Temer, o
Interino
Wikileaks
revela que o presidente interino do Brasil, Michel Temer, forneceu informações
de inteligência ao Conselho de Segurança Nacional e a militares dos EUA, quando
ainda na função de líder do partido PMDB que integrava a coalizão governante.
Conforme aquela organização internacional de divulgação de informação
considerada 'secreta' pelos interessados em ocultá-la, Temer manteve contato
extraoficial com a embaixada dos EUA no Brasil e forneceu informação que o
governo dos EUA considerou "sensível", para conhecimento "exclusivo
do governo dos EUA". Dois telegramas chamam especialmente a atenção: um,
datado de 11/1/2006, o outro de 21/6/2006. Um é documento enviado de São Paulo,
Brasil, para - dentre outros destinatários - o Comando Sul dos EUA em Miami.
Mas
em que sentido isso diz respeito aos BRICS? Se Temer é efetivamente instrumento
da ação política dos EUA, pode bem introduzir uma cunha na maquinaria do grupo
BRICS e paralisá-lo, mais ou menos como a Grã-Bretanha operou como cavalo de
Troia dos EUA na União Europeia.
Temer,
um dos articuladores do golpe para derrubar a presidenta Rousseff, ativa
defensora dos BRICS, está, ele próprio sob investigação policial.
É
provável que Temer e seu grupo lancem o Brasil em período de agitação e
instabilidade. Como se lê no website "Zero Hedge" de inteligência
financeira: "Só para lembrar: a última vez que os EUA instalaram governo
fantoche foi em 2014, quando, em mais um "golpe sem derramamento de
sangue" (sic), derrubaram o presidente da Ucrânia e lá instalaram um
bilionário oligarca. É cenário comparável ao do Brasil, em 2016."
O
grupo BRICS deve garantir que Temer não tenha meios para sabotar a coesão dos
BRICS, que já está tendo de lidar com a tensão geopolítica entre Índia e China,
por causa da presença de uma considerável frota da Marinha da Índia no Mar do
Sul da China e da recusa, por Pequim, de aceitar New Delhi no Grupo de
Fornecedores Nucleares.
Aprender
com o destino de Dilma Rousseff
No
governo da presidenta Rousseff, a economia brasileira andava devagar, mas
andava. Contudo, como pilar fundamental do grupo BRICS, o Brasil parece ter
atraído a ira dos EUA. A coalizão de partidos anti-Dilma, como o PMDB de Temer,
e os grupos das igrejas evangélicas - com certeza teleguiados por Washington -
criaram tantas e tais dificuldades, que a presidenta foi forçada a governar
praticamente por decretos, durante a maior parte de seu segundo mandato.
Como
se viu acontecer na Ucrânia, que está hoje em total desarranjo, o PIB do Brasil
encolheu 3,8% em 2015, e tudo indica que encolherá outro tanto em 2016.
Inflação e desemprego estão acima de 10%. O mercado de ações caiu 7% durantes
as duas primeiras semanas do governo Temer; e o real perdeu 3,5% do valor em
relação ao dólar norte-americano.
Índia, que
assume agora a presidência dos BRICS, fará avançar as iniciativas russas
Primeiro
a Ucrânia, depois o Brasil, o que virá depois? A China parece impenetrável aos
esforços de desestabilização e revoluções 'das flores' dos EUA - mas a
Revolução dos Guarda-Chuvas em Hong Kong foi claramente inspirada pelo
ocidente. A Rússia já expulsou as agências USAID e o British Council, por
interferência na política russa. Resta a Índia, que é vulnerável às táticas de
desestabilização da CIA-EUA. A ascensão do Partido Aam Admi, que recebe fundos
da Fundação Ford - um dos corpos operados e mantidos pela CIA - é prenúncio do
que está por vir.
Livrem-se
do nome "BRICS"
BRICS
é sigla elegante - todos parecem adorar o som e o modo como desliza sobre a
língua. Mas há um problema com siglas de organizações baseadas em nomes dos
membros. Se o Brasil se afasta, a sigla encurta para RICS? Se a África do Sul
deixa o grupo, o nome passa a ser BRIC?
Além
disso, a sigla BRICS tem problemas também de crescimento, porque não se pode
encompridar indefinidamente a sigla. De BRIC para BRICS foi fácil, mas o que
acontecerá se Indonésia ou Argentina se incorporarem ao grupo. BRICSI? BRICSA?
Algum
novo nome não precisa ser necessariamente harmonioso, como som. Por exemplo, o
banco dos BRICS é conhecido como Novo Banco de Desenvolvimento - nada muito
extraordinário, mas excelente e importante alternativa ao grandiloquente Banco
Mundial. Nessa linha, todo o grupo hoje BRICS poderia ser renomeado: Novo Grupo
Econômico (NGE), em inglês New Group Economic, NGE [ou, mesmo, NEW [ing.
"novo"] - prosaico, mas, melhor denominação que antes.*****
http://www.ocafezinho.com/2016/07/18/russos-ja-se-preparam-para-saida-brasileira-do-brics-sob-gestao-de-serra-no-itamaraty/
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