Quem acredita que não pesou
nada acredita em tudo, na grande frase de Wellington.
A Globo é uma empresa que
sempre subordinou a Igreja ao Estado. Igreja e Estado foi uma histórica
expressão cunhada cerca de um século atrás por um dos maiores gênios do
jornalismo, Henry Luce. Luce fundou a Time e, com ela, a indústria das revistas
semanais de informação. A Veja é filha — bastarda, é verdade — da Time.
Luce sabia que para o
sucesso da revista era imperioso separar os interesses da redação e os da área
comercial. A redação era a Igreja. A área comercial, o Estado.
Nos bons tempos da Editora
Abril, quando havia uma cultura jornalística respeitável, falava-se
intensamente no muro que devia haver entre Igreja e Estado.
Eram exatamente estes os
termos que usávamos. Era comum, nos finais de tarde das sextas feiras, os
vendedores de publicidade serem enxotados da sala do diretor de redação.
Queriam colocar mais anúncios, e a redação não aceitava a patadas porque a
revista já estava infestada de publicidade.
A cultura da Globo é o
oposto da Time. A Igreja — o jornalismo — existe para servir o Estado. Os
anunciantes terão tratamento privilegiado editorial caso coloquem dinheiro na
Globo. Serão poupados da publicação de notícias desagradáveis. Tente encontrar
na Globo uma notícia ruim sobre um grande anunciante.
A lógica com os políticos é
diferente. Se eles fizerem coisas que não atendam aos interesses da Globo,
sabem que ficarão na mira. Morrem de medo por isso.
Eduardo Cunha pôde roubar
sem problemas por décadas porque nunca fez nada que contrariasse a Globo. Como
presidente da Câmara, ceifou qualquer discussão sobre a regulação da mídia e
apoiou uma causa caríssima à Globo: a terceirização da mão de obra.
Tivesse estimulado qualquer
discussão sobre a mídia, Eduardo Cunha estaria preso há muito tempo.
A cultura predadora da Globo
lembra a da ditadura militar. Armando Falcão, um dos ministros mais poderosos
de Geisel, escreveu ao chefe que o governo tinha armas formidáveis para
controlar, ou subjugar, a imprensa: o dinheiro público.
Empréstimos jamais pagos e
nem cobrados, publicidade farta, mamatas fiscais como o papel imune (as
empresas jornalísticas não recolhem imposto sobre o papel usado em jornais e
revistas) — tudo isso era usado pela ditadura na relação com a mídia.
O Jornal do Brasil, então o
mais influente diário nacional, contratou como articulista nos anos 1960 Carlos
Lacerda, então inimigo dos generais. Falcão chamou a um encontro o dono do JB e
avisou que isso não seria tolerado, ou os privilégios seriam cortados.
A Globo sabe a força que
tem, assim como a ditadura, e como os generais usa isso sem nenhuma cerimônia.
Você de alguma maneira
prejudicou o Estado na Globo? Você está frito. A Igreja — o jornalismo — vai
caçar você.
Esse mecanismo de extorsão
disfarçada vai se exaurindo com a Era Digital, que mina a influência da Globo e
de toda a mídia tradicional.
Isso parece dar ainda mais
ferocidade à empresa na defesa de seu Estado.
Vistas as coisas em retrospectiva,
o grande erro de Lula foi não ter moralizado logo no começo de seu governo,
quando tinha força, a indecente verba de publicidade da Globo.
Quantos hospitais, quantas
escolas, quantas estradas deixaram de ser construídos com o dinheiro que foi
dar no bilionário patrimônio dos Marinhos?
Duzentos milhões de reais a
menos com certeza enfureceram os donos da Globo. Roberto Marinho, quando pedia
favores aos militares, dizia que empresa que não cresce acaba morrendo. (Isso
está dito no livro Dossiê Geisel, à base de papéis de trabalho guardados por
Geisel.)
Em dado momento, e já
escrevi aqui sobre isso, a Globo passou a se comportar como a Veja. Ficou
aloprada. Todas as suas mídias se dedicaram a desestabilizar Dilma.
Saber agora que isso
coincidiu com a redução do dinheiro fácil da publicidade federal dá lógica à
guinada — aliás nada discreta — da Globo.
A Igreja na Globo é um
instrumento do Estado — os cofres da empresa e dos acionistas. E a Igreja foi
acionada, ao que tudo indica, para punir quem ousou reduzir o dinheiro público
bilionário que vai dar no Estado.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/quanto-o-corte-na-publicidade-da-globo-pesou-para-o-ataque-selvagem-da-empresa-contra-dilma/
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