A
hipótese pode parecer um tanto deslocada em uma discussão séria e numa coluna
de política que se pretende séria. Mas vamos lembrar de Orson Welles. Ele tinha
um programa de rádio sério, numa emissora séria, e um dia anunciou a invasão da
Terra por marcianos. Até hoje, esse é considerado um dos experimentos mais
sérios havidos na mídia americana. Então, de saída, não há motivos para
descartar a hipótese.
Vamos
imaginar que existem seres que corretamente são designados como humanos. Eles
provêm do húmus. Esses indivíduos tem uma corpo só, uma só cabeça, e são
obrigados a pensar com ela. Acreditam que existe a realidade, e que algumas
coisas são verdadeiras e outras são falsas. Eles supõe que em certas condições,
se alguém é acusado por um crime que cometeu, por exemplo, há justiça. Em
outras, quando alguém é acusado por crimes que não cometeu, há injustiça.
Então,
vamos aqui simplificando ao máximo, dizer que assim são os humanos: tem uma
cabeça só, acreditam na realidade, distinguem entre o verdadeiro e o falso, e
entre o justo e o injusto.
Os
extraterrestres, tendo que descrevê-los, aparecem de forma bastante diferente e
é difícil acreditar que existam. Em seu universo, o das classes dominantes,
cada um existe através de outros corpos (de interpostas pessoas, laranjas,
testas de ferro, doleiros entre outros) e de outras carteiras de
identidade. Quando a cabeça principal está em perigo, uma ou algumas dessas
cabeças acessórias costumam rolar. O cabeça do grupo, ou seja, a cabeça do
cabeça, nada sofre.
Essa
é uma razão pela qual não gostam da democracia, em que todos tem uma cabeça só
e, em caso de encabeçar uma quadrilha, ninguém tem como sair impune.
Ao
contrário dos humanos, esses alienígenas têm uma noção muito diferente, se é
que têm alguma, do que seja “realidade”.
Eles abrem por exemplo empresas em um certo endereço. Normalmente uma
empresa tem um endereço. Mas eles criam várias empresas, todas no mesmo
endereço. Todas recebem muito dinheiro, geram grandes lucros, sempre
trabalhando para o poder público, mas sem prestar nenhum serviço.
Daí
se pode perceber que a noção de espaço, na dimensão em que eles habitam, é
muito diferente da nossa. Mais ainda quando se constata que, dessas empresas,
nenhuma existe. Nem existe o endereço. No entanto, sem existirem, produzem o
resultado: lucros enormes. São empresas fantasmas com resultados mágicos.
Para
os humanos tudo isso é um mistério incompreensível. Eles tem que trabalhar,
suar e no fim de tudo, produzem muito mas ganham pouco. É tudo o inverso na
dimensão dos humanos, talvez por terem sido expulsos do paraíso. Já os aliens
vivem ainda em paraísos exclusivos conhecidos como ‘paraísos fiscais’.
Mas,
além dos humanos, existem, digamos, os androides (um nome melhorzinho para
zumbis). Esses, sem conseguirem decifrar o mistério extraterrestre, são contudo
adoradores dos seus truques. Eles acreditam que se amarem, se adorarem, e se se
prosternarem de joelhos na frente da FIESP, em plena Avenida Paulista, podem,
por osmose, adquirir também poderes extraterrestres.
Acreditam
que se ficarem bem juntinhos de seus amos endinheirados, com o tempo, um pouco
dessa riqueza será deles também.
Eles
estão siderados e hipnotizados pelo mito da conversão e, por isso, qualquer
argumento que dirijamos a eles, tentando faze-los acordar desse transe, desse
sono dogmático, é tempo perdido. Eles
adoram, por exemplo, um extraterrestre que senta-se no topo de uma pirâmide e
que deve 7 bilhões aos cofres públicos, sendo considerado o maior devedor do
país.
E
isso nos faz lembrar que, os seres da linhagem intergaláctica, possuem também
alguns poderes além dos já mencionados: a ocultação de patrimônio é um deles.
Fazem
grandes remessas de recursos, através de offshores, para contas em bancos
suíços. Raramente são desocultados por um humano. Na maioria das vezes, são
intrigas e desavenças entre os próprios extras que acabam revelando algo dessa
quarta dimensão.
Agora
vamos imaginar que os aliens resolveram que não querem mais ver nem uma
presidente da república nem um ex-presidente, saídos os dois do clã dos
humanos, circulando livremente por aí. E até tendo poder e gozando de reputação
e respeito. O que eles fazem?
Eles
fazem exatamente como costumam fazer para conseguir seus lucros e sua
impunidade: inventam algo que não existe. Não se valem de motivos reais,
apontando crimes reais, mas constroem um simulacro. Isso que eles constroem, os
humanos, e principalmente os humanos mais crédulos, não conseguem assimilar.
Os
humanos acreditam que o simulacro é algo do tipo que eles conhecem, ou seja,
algo de real, que pode ser verdadeiro ou falso. Por isso, se juntam para
contestar o simulacro, usam argumentos e querem ‘desmontar’ sua verdade. Eles
querem discutir o simulacro. Vejam como são ingênuos.
Ora,
a verdade é que o simulacro é um tipo de logro, que obedece às leis do mundo
extraterrestre: não tem realidade (como as empresas fantasmas) mas são muito
produtivos (como lucros mágicos).
Assim,
vamos dar dois exemplos. No caso da presidente, eles a acusam de cometer
pedaladas. Ninguém sabe bem porque falam em “pedaladas” e de onde saiu esse
nome. O logro já começa aqui. Mas os humanos, porque acreditam na realidade,
supõe que a todo nome corresponde um objeto, e acabam acreditando que
’pedalada’ é um nome real para uma coisa real. Com isso, cometem um erro
fatídico.
Em
seguida, dentro desse nome fantasma, os aliens inserem diversas acusações que
nada tem que ver com um crime. Não são crimes, não ferem a Constituição, não
são nada na verdade. Justamente porque não são nada, elas convencem toda a
gangue extraterrestre de que estão no caminho certo. Assanhados por terem
criado mais essa, se reúnem em um imenso sabá e, através da mídia, insistem dia
e noite na mesma ficção.
Eles
sabem que é fictício. Eles sabem que todos os outros sabem disso. Mas estão
convencidos, e nisso estão certos, de que os humildes seres saídos do húmus vão
tentar, com todas as forças de suas parcas luzes, argumentar, contradizer,
apresentar defesas, etc. Com isso, contudo, só vão se afundar mais, porque o
simulacro é como areia movediça, quando mais alguém faz força para sair dele
mais é engolido.
As
acusações contra Lula são também, desde o começo, invenções sem pé nem cabeça.
E é interessante que pela lógica que o MPF insere nela – “Lula não podia não
saber” da corrupção na Petrobras – o filho do senador Perella já estaria preso
há muito tempo, porque “ele não poderia não saber” de 450 kg de pasta de coca
no seu helicóptero. É ou não é?
No
entanto, no caso dele, há uma verdadeira cortina de sigilo, a grande mídia fala
à meia voz, pisa na ponta dos pés, e tudo parece ter de ser feito com o máximo
escrúpulo e cuidado. Já no caso de Lula, que em outras partes seria exaltado
como figura histórica, tal como Mandela na África do Sul, reina o maior
escracho e os abusos mais desabridos.
O
que está em questão então para que, com tanta fúria, os extras fizessem um
ataque tão intenso contra a democracia? Talvez seja o fato de que, crescendo e
se ampliando, a democracia afirmaria o reino das pessoas comuns, essas que são
idênticas umas em relação às outras, em que nenhuma está acima da lei ou tem
duas cabeças. Criaria também um princípio de realidade comum, em que empresas
fantasmas e lucros mágicos acabariam.
Mas
acabar com isso, seria acabar com a seiva pela qual os extraterrestres,
parasitando o estado, se nutrem com o sangue de milhões de trabalhadores. Este
deve ser o motivo para a reação, tão compacta quanto brutal, desse clã contra a
democracia.
http://www.ocafezinho.com/2016/07/31/lula-e-dilma-atacados-por-extraterrestres-o-que-aconteceu-em-brasilia-a-capital-mundial-do-esoterismo/
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