Não vou tirar “onda” de
“jornalismo investigativo”.
Até ontem, os resultados
incongruentes do Datafolha, a mim e em muitos, provocavam estranhamento, mas
não tínhamos de onde puxar o fio.
Quem “peitou” mesmo os
resultados da pesquisa foram o Glenn Greenwald e o Erick Dau, que publicaram,
sem meias palavras, que a pesquisa Datafolha estava sendo usada de forma
fraudulenta.
E quando um jornalista lê
algo corajoso assim deve – ou deveria – ficar com todas as antenas ligadas.
Foi o que aconteceu hoje,
quando um amigo enviou-me o link dos questionários do Datafolha, enfim
publicados no site do instituto.
Aparentemente, nenhuma
novidade, números iguais.
Mas havia a frase perdida:
60% são favoráveis a nova eleição.
E o nome do arquivo, que
terminava com um ‘V2.PDF’.
Lógico, segunda versão.
Então, conversando com um
colega que havia acessado, mas não percebera a frase solta, a curiosidade, que
matou o gato mas salvou o repórter, fez experimentar: V1.PDF; V0.pdf e só vo
nome, sem versão.
E pronto, apareceram os
parágrafos eliminados, as perguntas abduzidas, as tabelas sonegadas.
Perdoem-me os mais jovens,
por terem de ir ao Google descobrir o que isso , não houve nada de Dick Tracy
na história.
Sorte, um pouco de palpite
e, sim, mais ainda de “estar ligado” e ainda mais de não aceitar o que não faz
sentido.
Quando se denunciou aqui a
extensão do vazamento do poço da Chevron, na Bacia de Campos, também foi assim:
nenhuma “inside information”, apenas o estranhamento da explicação da
multinacional de que havia ocorrido uma “exsudação natural” de petróleo. Daí em
diante, trabalho: descobrir onde exatamente era o poço e ousar escrever para um
“doido” que monitora as imagens dos satélites dando as coordenadas do local
acidentado e receber de volta a foto da imensa mancha de óleo.
A Folha acabou por borrar-se
e dar uma explicação que não convence nem mesmo crianças de cinco anos de
idade.
Não há razão para louvor em
boca própria que, ensinou Cervantes no D. Quixote, é vitupério, embora seja
mentira se eu disser que a pouca vaidade não se excita ao ver El País registrar
que o jornalão “pediu penico” sobre a maioria apoiar uma nova eleição admitindo
que “a existência desta e de uma outra pergunta, a respeito da percepção
popular sobre os procedimentos do impeachment, foram reveladas pelo site
Tijolaço“.
Não seria verdadeiro e
sincero nega-lo, mas seria igualmente falso não reconhecer que tive nisso a
ajuda da Letícia Sallorenzo, que pacientemente listou, ontem, as perguntas
“sumidas” do questionário do Datafolha, a Maria, que me avisou da matéria do
The Intercept, do Olímpio Cruz, que me
mandou os links , do Fernando Molica, que não podia acreditar no que estava se
passando e, sobretudo, a do Glenn Greenwald que “botou a cara” de um Prêmio
Pulitzer à mercê dos problemas que enfrenta um jornalista que não se conforma em
virar porta-voz dos poderosos.
E chega disso, porque a
gente aprendeu que “jornalista não é notícia”, assim como não é uma criatura
especial, apenas outro trabalhador.
Mas é algo extraordinário o
que nos permite um blog, uma publicação independente, sem preço de capa e sem
patrocínio de quem quer que seja, exceto o chapéu estendido aos anônimos,
quando a gente pode dividir cada hora, cada ato, cada acerto e cada erro com
quem nos lê.
E reconhecer que o que a
gente faz, afinal, pode ter alguma importância para a consciência coletiva.
http://www.tijolaco.com.br/blog/folha-greenwald-e-o-acaso-que-fez-o-tijolaco-desmontar-farsa/
Nenhum comentário:
Postar um comentário