Em 2006, uma nuvem tóxica
oriunda da pulverização aérea em plantações de soja chegou à área urbana e
provocou intoxicação aguda em crianças e idosos de Lucas do Rio Verde (MT). Já
em 2013, quase 100 pessoas, entre professores e alunos, tiveram intoxicação
depois que um avião jogou defensivos agrícolas sobre uma escola de Rio Verde
(GO).
O professor do Núcleo de
Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador da Universidade Federal de Mato
Grosso (UFMT) Wanderley Pignati, que participou da perícia dos dois casos,
acredita que a poluição causada por agrotóxicos pode ser considerada
intencional, uma vez que, para atingir o alvo, afeta também o solo e a água.
“Não é acidente. O avião
passa ao lado e, de qualquer jeito, o vento vai levar para um lado ou para
outro. Essa história de que o vento não leva o veneno para outro lugar fere os
princípios da aviação, inclusive, pois se o vento estiver parado, o avião nem
levanta voo”, disse o especialista durante uma palestra na Assembleia
Legislativa do Ceará, em Fortaleza, em maio deste ano.
Um dos principais argumentos
contra a pulverização aérea é a chamada deriva, quando a aplicação de defensivo
agrícola não atinge o local desejado e se espalha para outras áreas. O
pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Aldemir
Chaim, no artigo Tecnologia de aplicação de agrotóxicos, de 2004, declara que a
aplicação de agrotóxicos no século atual não é muito diferente da forma como
era praticada no século passado. A principal característica dessa aplicação é o
desperdício de produto químico.
Em 1999, Chaim e outros
pesquisadores desenvolveram uma forma de quantificar esse desperdício em
diferentes formas de aplicação de agrotóxicos. Dependendo da altura das
plantas, apenas metade do produto aplicado atinge o alvo. O restante cai no
solo ou se perde pela deriva. Em 2013, a Embrapa desenvolveu o Programa Gotas,
um software que ajuda na calibração das pulverizações.
Segundo Pignati, no caso da
pulverização aérea, a deriva pode atingir áreas mais distantes devido ao espaço
entre o alvo e o avião: quanto mais alto a aeronave estiver da lavoura que
receberá os defensivos, maior será a deriva por conta da ação do vento.
A professora do Departamento
de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará
(UFC) Raquel Rigotto participou de um estudo que identificou princípios ativos
de agrotóxicos no solo da região da Chapada do Apodi – uma das áreas mais
ocupadas pelo agronegócio no Ceará. Segundo a especialista, as substâncias
encontradas – difenoconazol e epoxiconazol – são muito tóxicas: o
difenoconazol, por exemplo, pode comprometer seriamente o fígado e é tido como
possível causador de câncer, segundo classificação da Agência de Proteção
Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês).
A especialista acredita que
as substâncias podem chegar até mesmo às cisternas que abastecem as casas
durante a seca.Também foram encontrados princípios ativos de agrotóxicos no
aquífero Jandaíra, localizado entre o Ceará e o Rio Grande do Norte. As águas
subterrâneas são usadas tanto pelo setor produtivo como pelas populações dos
oito municípios cearenses, incluindo Limoeiro do Norte, e potiguares que
abrangem o aquífero.
“Esses contaminantes são
transportados pelo vento, podem se depositar no telhado das casas e, quando vem
a chuva, ela lava os telhados e é essa a água que as calhas recolhe e se dirige
para as cisternas. Temos uma preocupação muito grande se essas águas, que
muitas vezes garantem o abastecimento hídrico das famílias nos períodos de
seca, podem também estar contaminadas com esses produtos”, indaga Raquel.
(Edwirges Nogueira – Agência Brasil)
By Carta Campinas
http://cartacampinas.com.br/2016/07/50-do-agrotoxico-de-pulverizacao-aerea-contamina-o-solo-e-a-agua-diretamente/
Nenhum comentário:
Postar um comentário