“Com
as águas com que se ‘Lava a Jato’ a corrupção no Brasil, pretendem lavar para
fora também a soberania nacional, o patrimônio público, tecnológico e mineral
da nação e o direito dos trabalhadores.”
O Jantar
Recebi
um convite para um jantar, terça-feira, na casa do Presidente do Senado, nosso
companheiro Renan Calheiros, na companhia do Ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles. Nesse jantar, como prato principal, servirão a soberania nacional e,
como sobremesa, os direitos dos trabalhadores. Agradeço o convite do
Presidente, mas não é essa a dieta da minha preferência. Eu não estarei
presente nesse jantar.
Todos
nós somos a favor da luta contra a corrupção, mas, paralelamente a isso, vem o
Governo interino agredindo pesadamente a soberania brasileira, o Estado social
e os direitos trabalhistas. Rapidamente, enquanto prendem alguns bandidos, o
Congresso, assustado, está entregando de bandeja tudo pelo qual lutamos por
décadas, para saciar a fome do grande capital internacional e o interesse
geopolítica das grandes potências.
O
Sacrifício Ritual
Permitam-me
uma incursão pela antropologia sociocultural, mais especificamente, o
sacrifício ritual.
Como
todos sabem, o sacrifício ritual faz parte da história da humanidade.
Sacrifício de humanos, por exemplo, estão presentes nas crônicas de todas as
civilizações em todos os continentes.
Um
exemplo clássico está na Bíblia, no Gênesis, quando Deus testa a fidelidade de
Abraão ordenando-lhe que sacrifique o seu filho Isaac. O sacrifício não se
realiza, mas Abraão não vacila um segundo na determinação de matar o filho em
louvor a Deus. O mesmo Deus que, segundo os Evangelhos, não poupa o seu próprio
filho, Jesus; preso, torturado e executado para lavar, com o seu sangue,
pecados alheios.
À
medida que o homem evolui, civiliza-se, e, no compasso da desbrutalização de
usos e costumes, o objeto do sacrifício ritual também muda. Os animais
substituem os homens, mas a ideia do sacrifício ritual continua a mesma e está
viva até hoje, inclusive na linguagem popular, o ‘bode expiatório’. O propósito
é fazer com que Isaac, Cristo ou o cordeiro esvaiam-se em sangue até a morte
para, dessa forma, aplacar a ira divina.
Más
colheitas ou boas colheitas, falta de chuvas ou excesso de chuvas, pragas,
pestes, doenças, vitória na guerra; seja o que fosse, sempre era necessário que
o sangue jorrasse. O sangue de quem? De quem o sangue devia jorrar? É claro que
não era o sangue dos sacerdotes, dos governantes, da nobreza, dos bem
aquinhoados. Quem expiava em nome deles eram representantes dos estratos
inferiores, o povo de sempre. E é assim até hoje.
Quando
as coisas não vão bem, quem paga o pato, quem assume a conta, quem arca com os
prejuízos são os trabalhadores, os assalariados, as camadas subalternas e a
classe média.
O bode
expiatório no Brasil
Elenquemos
todas as medidas que o Governo interino quer propor ao País e digam-me, quem
está sendo sacrificado, quem está sendo estendido na pedra do altar para ser
imolado?
Não
são as 20 mil famílias de rentistas que detêm a quase totalidade da dívida
pública brasileira. E lucram de forma indecorosa, infame com os juros dessa
dívida.
Não
são os brasileiros que mantêm mais de um R$1,3 trilhão ilegalmente em contas no
exterior.
Não
são os banqueiros e seus lucros pornográficos.
Não
é o capital vadio e sua ganância sem freios.
Não
são os beneficiários da mais perniciosa e imoral concentração de renda do
planeta Terra, como é a concentração de renda no nosso Brasil.
Não
é a aristocracia do funcionalismo público, as carreiras privilegiadas no
Judiciário, no Ministério Público, no Legislativo.
Como
ao longo da história da humanidade, exigem-se vítimas que se sacrifiquem, que
expiem, que sangrem para o bem-estar dos dominantes.
Mas
não estamos mais na antiguidade, nos templos e nos tempos bíblicos. Estamos no
ano 16 do século XXI.
Senado,
Justiça e Ministério Público: a mesma cruel indiferença
No
entanto, o Senado reage à condução dos trabalhadores, dos assalariados, das
camadas inferiores das classes médias ao matadouro, ao sacrifício com a mesma
indiferença dos sacerdotes maias ou astecas.
Será
que este Senado não vai reagir?
Faço
agora uma lista das barbaridades que os interinos pretendem perpetuar. E
pergunto aos nobres senadores, se o distinto brasileiro e a valiosa e valorosa
sociedade que nos veem e ouvem, neste momento, subscrevem, assinam embaixo.
Vamos lá:
1) Fixação de limite máximo para os gastos
públicos.
2) Desvinculação constitucional dos gastos com
saúde e educação.
3) Limitação da dívida pública.
4) Torniquete sobre as estatais
O
Governo interino quer congelar por dez anos, prorrogáveis por mais dez, os
gastos com educação, saúde, saneamento, segurança, habitação popular, em
pesquisas e tecnologia e assim por diante.
Os
gastos com saúde e educação, que têm percentuais constitucionalmente amarrados,
seriam desobrigados dessa vinculação. É uma loucura!
Quem
é que vai ser sacrificado? Se a ação do Governo nas áreas de saúde e educação,
hoje, é sofrível, imaginem o que vai acontecer se esses gastos forem
reduzidos...
Os
cortes nos gastos com a saúde colocam em risco a sobrevivência do SUS e a
gratuidade da assistência à saúde. Terá atendimento quem puder pagar.
Da
mesma forma, os cortes nos gastos com a educação colocarão em risco a
gratuidade do ensino. Com isso, o acesso à escola será um privilégio para
poucos, muito poucos.
Mas
a insensatez da fixação de um teto para os gastos públicos vai além, ainda mais
quando acompanhada de outra sandice, que é a limitação da dívida pública.
Qual
o resultado dessa mistura peçonhenta? A privatização do que ainda restou de
empresas públicas no País. Lá se vão a Petrobras e o pré-sal, o Banco do
Brasil, a Caixa Econômica Federal, os Correios e muito mais.
Enfim,
de um lado, a deterioração e consequente privatização dos serviços públicos
provocados pela limitação dos gastos governamentais; de outra banda, a
privatização, a preço de fim de feira, e a entrega de nosso petróleo, dos
minérios e até mesmo das florestas amazônicas.
E
a nossa mídia, esses comentaristas de rádio e televisão, esses políticos que se
proclamam liberais ficam dizendo que é preciso, sim, cortar gastos públicos e
que a gastança do Governo é demais, sem, no entanto, esclarecer que não são
objeto dos cortes:
-
as mordomias,
-
os salários exorbitantes
-
os privilégios abusivos
Esses
não serão cortados, mas sim aumentados! Porém, gastos para atender a população
mais humilde e que impactam diretamente com a vida do povo brasileiro, serão
sumariamente reduzidos pelo ajuste do governo Temer.
Outro
item é (6) a mudança de idade para aposentadoria. O Governo interino quer fixar
em 65 anos a idade mínima para aposentadoria. Em média, os homens dos Estados
do Norte e do Nordeste vivem pouco mais que 65 anos. Quer dizer, com a nova
regra, contribuem a vida toda, alguns desde os 14 anos, aposentam-se e morrem.
Que maravilha para os que querem cortar os gasto públicos para pagar juros para
os pobres banqueiros!
7)
Fim do abono salarial.
8)
Fim da correção das pensões dos aposentados que recebem um salário mínimo.
9)
Fim do aumento real do salário mínimo.
O
PIS e o Pasep estão aí há 46 anos. E nenhum governo mexeu com esse abono
salarial, nem os militares da ditadura, pago para quem recebe até dois salários
mínimos. No entanto, Meirelles e Goldfajn querem acabar com o abono para
diminuir os gastos públicos.
Perderam
até a máscara, a desindexação das aposentadorias e pensões e o fim do próprio
aumento real do salário mínimo são um atentado explícito ao sonho de um país
desenvolvido e às condições mínimas de vida de idosos e trabalhadores, Deus
meu!
Um
dos pilares da remissão dos pobres da miséria, do aumento do consumo, da
elevação do poder de compra em consequência do aumento da produção foi, sem
dúvida, a política de aumento real do salário mínimo implantada no governo Lula
e continuada no governo Dilma.
Contudo,
o governo interino pouco se lixa para isso, eles não querem um país com 200
milhões de consumidores. Para eles, basta um país com vinte milhões de
consumidores ainda mais abastados.
10)
Mudança na legislação trabalhista, com a prevalência do negociado sobre o
legislado
11)
A instituição, em larga escala da terceirização e precarização do trabalho.
O
Ministro Meirelles proclamou que não existem direitos adquiridos. Ao menos para
os trabalhadores mais humildes...
E
os sempre atentos editorialistas das Organizações Globo, do Estadão, da Folha e
do Grupo Abril aproveitaram a deixa e se regozijam em coro exigindo mudanças
nas leis trabalhistas, afinal, lembraram, a CLT é da distante década de 40.
Algo ultrapassado, dizem.
CLT
é antiga, mas a Lei Áurea é mais antiga, acrescentaria
Por
falar em lei áurea, devemos lembrar que as empregadas domésticas só foram
equiparadas a outros trabalhadores em 2015 e assim mesmo sem todos os direitos
deles. Tem muita gente ansiosa em acabar com essas conquistas.
O
juiz trabalhista Jorge Souto Maior, em artigo publicado pelo blog da Editora
Boitempo, com base em estudos do cientista social Werneck Vianna, lembra
reações de Parlamentares e do patronato, quando, na década de 20, foi
instituída no Brasil a chamada lei de férias.
Percebam
isso, os opositores à lei de férias recorriam ao empresário americano Henry
Ford, para quem nada poderia fazer um mal maior a um homem do que permitir que
ele folgasse nas horas de trabalho.
Assim
diziam os nossos empresários, a lei de férias seria imprópria e desnecessária,
já que, em oposição ao desgaste intelectual, o trabalho manual solicita apenas
atos puramente animais da vida vegetativa.
Logo,
dentro de certos limites, o trabalho do operário não exigiria tempo livre para
a recuperação, argumentavam os patrões. Ócio é oficina do diabo, diziam eles.
Os
inimigos dos direitos trabalhistas, comparavam os operários a burros de carga,
que não precisavam descansar e, se exauridos, seriam facilmente substituídos,
como se fazia com os muares. Como esses, os trabalhadores também estariam
acostumados a praticarem atos puramente animais da vida vegetativa. Imagino que
eles não desejem isso para a própria família, que por direito “meritocrático”
de berço, estaria talhada para o trabalho intelectual e, portanto, merecedora de um bom descanso de férias. De
preferência na Europa.
O
juiz trabalhista expõe ainda outros argumentos dos opositores às férias dos
trabalhadores.
Ouçam
só a preciosidade desta contestação, abro aspas:
"Os
lazeres, os ócios, representam um perigo iminente para o homem habituado ao
trabalho e nos lazeres ele encontra seduções extremamente perigosas, [...] as
férias operárias virão quebrar o equilíbrio de toda uma classe social da nação,
mercê de uma floração de vícios, e talvez, de crimes [...]" – fecho aspas.
Da
mesma forma, a jornada de trabalho de 12, 14, 16 ou mais horas era considerada
normal e adequada a uma classe de homens, mulheres e até crianças supostamente
acostumados desde sempre à faina exaustiva, aos atos puramente animais da vida
vegetativa.
Essa
mesma jornada para os menores de idade era tida como pedagógica, uma verdadeira
escola, diziam os empresários brasileiros.
Além
de necessária para não quebrar, abro aspas, "o ritmo e a ordenação do
trabalho industrial".
Citado
por Souto Maior, o sociólogo Werneck Vianna refere-se a um documento enviado
por associações patronais de São Paulo à Câmara dos Deputados contra a
regulamentação do trabalho dos menores.
O
argumento central, era que a retirada dos menores das máquinas, depois de uma
jornada de trabalho de oito a nove horas, quebraria o andamento da produção. Os
autores falam de uma multa aplicada a uma fábrica paulista por não seguir a
regulamentação do trabalho de menores.
No
processo da empresa, testemunharam a favor dela quatro dos maiores industriais
da época. Todos usaram a mesma justificativa de quebra do ritmo da produção.
Mentira!
Impostura! Embuste! A verdade é esta – abro aspas: "Os menores de idade
representavam mais de 60% da mão de obra da indústria têxtil paulista, e o
contingente restante, , era em grande parte formado por mulheres."
Ora,
os salários dos menores e das mulheres equivaliam a uma pequena fração do já
aviltado salário dos homens adultos, que eram absoluta minoria nas fábricas.
Como se vê, a retirada dos menores da linha de produção realmente causaria
grave problema para os lucros exorbitantes desses tão incensados capitães da
indústria nacional. É o pessoal do pato, é o pessoal da Fiesp, de São Paulo.
Pois
bem, eis que esse mesmo tipo de raciocínio, esses mesmos conceitos obtusos,
primitivos, boçais e escravocratas são ressuscitados ainda agora, quando se põe
à mesa a flexibilização da CLT, com a adoção do princípio da prevalência do
negociado sobre o legislado. Quer dizer, tudo que está na legislação pode se
transformar em letra morta, se patrões e empregados acordarem suspender as
férias; acabar com o descanso remunerado; cancelar o pagamento do décimo
terceiro salário, aumentar a jornada; diminuir o salário; suspender o depósito
do Fundo de Garantia; cancelar o vale-transporte; eliminar o vale-refeição, e
assim por diante. E algumas barbaridades reinantes no País até a década de 30,
como as que relatei, podem ser reintroduzidas neste século XXI. É o que significa
a flexibilização da CLT.
Em
uma situação de crise como a de hoje, com o aumento continuado dos índices de
desemprego, todo patrão vai querer negociar com os seus trabalhadores. E quem é
que está com a faca e o queijo na mão? Ora, sob ameaça de desemprego, os
trabalhadores vão acabar aceitando o corte de direitos. Não há dúvida quanto a
isso. E quanto menos protegida a categoria, ou por falta de representação
sindical, ou por causa dos pelegos que dominam a representação sindical, mais
fácil será impor o negociado sobre o legislado. Não é preciso exercício
precioso de raciocínio, de raciocínio mais elaborado para saber o que vai
acontecer com os direitos dos empregados domésticos recentemente conquistados.
"Quem pode mais chora menos" é a nova lei.
É
claro, como sempre, as nossas organizações patronais, com a sua invencível
vocação escravocrata, contam com a solidariedade da mídia para cingir o pescoço
dos trabalhadores e da baixa classe média com a canga da submissão e da
exploração.
A
Constituição que “não caberia” no orçamento
Sempre
na liderança do atraso, a mídia monopolista, que, ao longo das últimas sete,
oito décadas, distinguiu-se pela dura oposição à legislação trabalhista,
festeja mais um funeral das conquistas sociais, da Constituição de 1988.
Constituição
que, segundo o Ministro Meirelles, que vai jantar com o Renan e com alguns
Senadores na próxima terça-feira, não cabe no orçamento dele e do Temer. Mas,
para ele, os juros mais altos do mundo e a dívida não auditada cabem
confortavelmente.
Enfim,
ainda mais uma vez, imolam-se direitos, anulam-se conquistas, impõem-se
sacrifícios para que os ganhos, os proveitos, as vantagens e os rendimentos dos
dominantes não sejam arranhados. Está no altar de Governo interino dois corpos
estendidos. O corpo do trabalhador. O corpo da Pátria.
A água suja
que ficou
Eu
iniciei dizendo que, com a água com que a Lava Jato limpa a corrupção do
Brasil, querem lançar fora o Estado social, o patrimônio nacional e os direitos
trabalhistas.
Como
posfácio, quero lembrar que neste jantar que o nosso Presidente Renan oferece
ao Meirelles, o prato principal seria a soberania nacional e, como sobremesa,
ofereceriam o direito dos trabalhadores. E jamais iria beber desse sangue
desses cadáveres. Não irei em tal jantar e recomendo o mesmo a meus colegas
senadores.
Insisto
em uma tese: temos que apoiar, sim, a ação do Ministério Público e a firmeza de
certos juízes contra a corrupção, mas temos que ver que, atrás disso, existe um
movimento de entrega do Brasil. Não é nem um movimento de direita, porque a
direita também tem um vezo nacionalista; é o entreguismo; é a entrega da
Amazônia; é a entrega da Petrobras; é o fim dos direitos trabalhistas; é um
movimento comandado pelo setor financeiro instalado no Governo, porque o Governo
interino, quando escolhe um ministro, como o da educação, não pergunta se ele
sabe ler ou escrever.
Pergunta
apenas qual é a base que ele tem na Câmara Federal para garantir as mudanças
econômicas do entreguismo e do fim do sonho de um Projeto Nacional.
Não é
“Volta, querida”
O
que estou dizendo não é "Volta, querida", nem mesmo "Fora,
Temer". Quero apenas defender a Pátria, o Povo. Quero apenas defender um
projeto de construção nacional, um projeto nacional. E o único caminho é
derrubarmos o processo do impeachment, que está servindo ao entreguismo, e
convocarmos um plebiscito para o povo decidir se quer eleições já.
Quero
que o povo decida democraticamente o que lhe é de direito. Quero que o povo
discuta sobre a política e sobre que futuro quer para si, como faz no dia de
hoje, 23 de junho, na Inglaterra. Quero apenas que o povo brasileiro diga o que
pretende do País, e não mais o Meirelles, o Goldfajn, o Bradesco, o Itaú e as
conversas feitas nos corredores de embaixadas de países geopoliticamente mais
fortes que querem que o Brasil seja uma espécie de Porto Rico, um Estado
associado aos interesses dos países poderosos e do grande capital.
Perdoe-me
o meu velho companheiro Temer. O que está acontecendo não é o que se esperava
do velho MDB de guerra, do PMDB que conduziu nossa bela Constituição Cidadã de
1988. E tenho certeza de que a Base do meu Partido não assina embaixo dessa
política entreguista que se realiza no Brasil hoje.
Apelo
assim para uma nova eleição e plebiscito antecipado por uma grande discussão
nacional.
Debate com
os senadores
Com
todo prazer, com a permissão do nosso Presidente, quero conceder um aparte ao
Senador Paim.
O
Sr. Paulo Paim (PT - RS) – Serei muito breve, Senador Requião, até porque
quando V. Exª iniciou, eu estava presidindo, e, com essa visão de prever o que
vai acontecer no momento depois, V. Exª disse que eu assinaria embaixo do seu
pronunciamento. Então, eu quero aqui dizer que, com muito orgulho, eu assino
embaixo do seu pronunciamento. E quero dizer para aqueles que diziam há um
tempo que não iria haver reforma trabalhista nenhuma, que não iria haver
reforma da Previdência, que não iriam tirar direitos, é só pegar a própria
mídia, como V. Exª destacou de hoje. O governo interino agora diz que, em 15
dias, encaminha a reforma da Previdência, a reforma da CLT.
E
o eixo é terceirização e o negociado acima do legislado. Podem encaminhar, mas
vai haver uma resistência aqui que eles não imaginam. Eu diria até, com
segurança: encaminhem, que não passarão! Aqui faremos uma grande frente, uma
frente em nome dos trabalhadores, em nome do Brasil, e essas propostas de
rasgar a CLT e de acabar com o Ministério da Previdência, aqui eu digo que não
passarão. Parabéns a V. Exª pelo pronunciamento.
O
Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) – Senador, algumas coisas têm passado. Passou
na Câmara Federal a entrega de 100% do espaço aéreo brasileiro a empresas
estrangeiras. Não existe isso no Planeta Terra. O próprio Estados Unidos, com a
sua liberalidade, vai até 25%, quando há contrapartida. Os outros países é até
mais nacionalista. É entrega da soberania aérea. É uma patifaria e passou na
Câmara.
Eu
acredito que a consciência nacional aqui no Senado é maior, pela direita e pela
esquerda. Eu acho que, aqui, nós seguraremos as patifarias.
Mas
quero ir um pouco mais longe. É claro que eu concordo com o Senador Lasier, com
discurso que fez, se regozijando da operação policial que existiu hoje onde
foram presos políticos do PT. Mas, Senador Lasier, eu fico me perguntando que
espécie de onagro ondulado acreditaria que, na sede do PT em São Paulo, depois
do mensalão, da prisão dessa gente toda e da condenação de outros tantos – em
merecidas condenações – haveria algo que justificasse uma operação de guerra
com fuzis, metralhadoras e homens com roupas camufladas.
Eu
não digo que não justifica tamanha ostentação de força militar na sede de um
partido político. E eu sou a favor dessas operações.
Alguém
acreditaria, não sendo um onagro ondulado, que existiria na sede do PT algum
documento incriminatório ou uma resistência armada? Claro que não. Foi uma
operação para a mídia. Foi um show para a Rede Globo, para os helicópteros que
lhe acordaram hoje pela manhã e a mim também, uma vez que moramos na Quadra
309. Desnecessário. É para reforçar o impeachment.
E
sabemos que, atrás do impeachment, há o entreguismo; atrás do impeachment, há a
liberação do espaço aéreo; atrás do impeachment, há a entrega do petróleo;
atrás do impeachment, há o fim da legislação trabalhista; atrás do impeachment
há o Banco Itaú, há o Meirelles, há o Goldfajn.
Atrás
disso tudo, se embala o nosso Michel Temer, que nunca se referiu a essa posição
política na vida. Essa nunca foi a sua posição. Ele nunca foi um radical. Mas
está capturado por um movimento entreguista que precisa ter uma reação pelo
menos no Senado da República.
A
Srª Fátima Bezerra (/PT - RN) – Senador Requião, eu quero parabenizá-lo por
mais este importante pronunciamento. Eu dizia agora há pouco na Comissão
Especial do Impeachment, que cada dia me convenço mais da inocência da
Presidenta Dilma, porque a Presidenta Dilma não cometeu nenhum crime. Ela não
responde a nenhum processo de investigação por corrupção etc.
Tanto
é que a acusam, na Comissão Especial do Impeachment, do quê? Pedalada fiscal,
edição de decretos de suplementações orçamentárias? Já está fartamente
demonstrado que todos esses atos não têm nenhuma ilegalidade. A maioria das
testemunhas que lá estiveram, disseram isso claramente. E não só as testemunhas
convidadas pela Defesa, mas também testemunhas convidadas pela Acusação, todas
elas foram categóricas em afirmar a legalidade dos atos da Presidenta Dilma no
que diz respeito ao Plano Safra e à questão dos decretos de suplementação
orçamentária.
Daí
porque, Senador Requião, a oposição, repito, as forças políticas conservadoras,
que não conseguem ganhar pela via do voto, pela via da urna, buscam esse
atalho, esse caminho de pedalada, de suplementação orçamentária, para afastar
do poder uma Presidenta.
E
o mais grave: por causa dessa invenção, de um crime que não existiu, há agora
um outro governo, biônico, interino – e o mais grave! – com uma outra agenda
que não foi eleita e aprovada pelo povo, que é a agenda que V. Exª traz hoje
aqui para reflexão junto ao Brasil.
Uma
agenda que, se vier a ser implementada, significará a maior retirada de direito
dos trabalhadores do povo brasileiro. De forma que eu quero dizer, Senador
Requião, que eu espero e acredito muito que nós vamos virar essa página. E
virar essa página, recompondo o respeito à Constituição, trazendo a democracia
de volta, trazendo a soberania popular de volta. Porque o governo biônico que
aí está, em 41 dias, a julgar pelo perfil e pelo conteúdo das medidas,
inclusive, que vêm anunciando – um governo provisório! –, a julgar por esses 41
dias, eu diria a V. Exª que esse governo é a cara do atraso, é a cara do
conservadorismo, é a cara da velha política, é a cara do entreguismo. E o pior
é que, se ele se tornar definitivo, ele pode vir a ser a cara do maior
retrocesso da história do povo brasileiro!
O
Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) – É por isso, Senadora, que a minha posição é
clara: nem "Volta Querida!" nem "Fora Temer!". Mas nós
temos que admitir que quem tem que decidir isso é o povo brasileiro, não são os
sucessores do Joaquim Levy – Henrique Meirelles e Goldfajn –, não é o interesse
do Banco do Itaú e do Bradesco, que está mandando no Governo. Quem governa o
Brasil, hoje, é a Febraban e os interesses geopolíticos de países mais
poderosos no mundo! Os brasileiros estão reduzidos a uma participação negativa
neste momento da nossa história! Nós não podemos aceitar que isso continue
acontecendo!
Eu,
com todo o prazer, dou um aparte à Senadora Rose de Freitas, e espero que fale
como Líder de qualquer coisa que não seja da Febraban, minha amiga Senadora.
A
Srª Rose de Freitas (PMDB - ES) – V. Exª conhece um pouco da minha vida: nem de
longe eu tenho qualquer aspecto parecido com algum discípulo de políticas
bancárias e de banqueiros. Eu queria, se V. Exª me permite, honradamente, fazer
parte desse discurso de V. Exª, que reitera publicamente o caráter da sua luta
política. V. Exª sempre foi esse homem destemido, altaneiro nas suas posições,
e coloca algumas questões que realmente estão aparentemente colocadas, porque
elas passaram pela outra Casa revisora. E não vou falar aqui como Líder do
Governo, cargo que assumi, honradamente, pela designação de vários partidos e
do próprio Presidente. Quero dizer a V. Exª o seguinte: este momento está tão
conturbado e é tão difícil o seu enfrentamento e a sua construção que, vendo V.
Exª, que sempre nos pautou, do alto da sua dignidade, da sua história política,
colocar aquilo que o incomoda e que também me incomoda. A questão do espaço
aéreo é uma questão que está para ser discutida. O fato de ter passado na
Câmara não significa que aqui não haverá um debate.
O
Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) – É o que espero.
A
Srª Rose de Freitas (PMDB - ES) – ... e um debate que historicamente tem que
ser recomposto. Não há um entreguista na Presidência da República. Há um
companheiro de todos nós e que, na minha juventude, também fez parte das
grandes caminhadas por este País afora, pela democracia. É lógico, eu falo e
posso falar como uma pessoa que, na Comissão de Orçamento – um dia V. Exª até
me disse: "Pegou uma tarefa ingrata" – peguei uma tarefa ingrata.
Pegamos uma tarefa ingrata e não tínhamos parceria de ninguém para chegarmos ao
final dessa tarefa e construirmos um Orçamento para o País.
E
foi possível fazer isso por meio do debate. O que V. Exª coloca vai encontrar
aqui, individualmente, na Senadora que lhe fala, a disposição de lutar para que
possamos acertar. Não há como jogar no pior. Eu defendi, Paulo Paim fez o
mesmo, a questão da eleição. O caminho que nós queríamos não era esse nem
aquele. Mas estamos agora com um Governo constitucionalmente, através do
processo do impeachment, colocado. Está lá um velho companheiro de lutas e
caminhadas. Onde houver acertos, vamos ajudar. Se houver equívocos, erros na
condução do processo, vamos lutar para acertarmos juntos. O País não tem tempo,
o povo não quer mais ficar entre os nossos debates políticos. E o de V. Exª é
extremamente saudável, extremamente responsável, historicamente correto. Eu
tenho certeza de que nós vamos construir esse debate. Parabenizo V.Exª por
estar sempre refletindo o Brasil e é em nome disso que eu me coloco aqui,
agora, sim, como Líder do Governo no Congresso Nacional, para que possamos
rediscutir essa matéria e encontrarmos um termo que atenda ao espírito da nossa
nacionalidade e da responsabilidade que temos que ter com o Brasil inteiro. Eu
agradeço a V. Exª.
O
Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) – Boa postura, Senadora. Não podia esperar
outra coisa de V. Exª. Mas eu desejo que essa sua liderança seja breve, que
essa interinidade acabe e nós devolvamos a decisão sobre os destinos políticos
do Brasil ao povo, através de uma eleição direta, do fim deste impeachment que
é, sem a menor sombra de dúvida, uma farsa, um artifício jurídico. A Presidente
foi submetida a um referendo revogatório. Ninguém pode negar que ela tinha
diante de si a insatisfação do Congresso Nacional e que ninguém estava contente
com a política econômica do País. Mas esta política econômica de hoje é a
política econômica leviana do Joaquim Levy multiplicada por dez. É uma política
entreguista, é uma política que privilegia o capital vadio que privilegia a
Banca, os juros e a exploração. E nós não podemos admitir que isso continue
assim.
Ministros
saem do Governo com acusações e se transformam em príncipes no Senado da
República, sendo seguidos pelos corredores com um séquito de Parlamentares,
Senadores e repórteres. Isso está ficando, para as pessoas que têm consciência
ética, absolutamente insustentável.
Roberto
Requião é Senador da República, no segundo mandato. Foi governado do Paraná por
três mantados, prefeito de Curitiba e deputado estadual. É graduado em direito
e jornalismo e pós-graduado em urbanismo e comunicação
http://www.ocafezinho.com/2016/06/24/lava-jato-impeachment-e-o-desmonte-nacional-so-uma-saida/
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