Ao
saber que um cidadão inglês escolheu Brasília para passar as férias deste ano,
um brasiliense ficou curioso e quis saber o motivo.
“É
que me disseram que em Brasília tem um impeachment pra inglês ver” respondeu o
turista.
A
irresistível atração por copiar tudo o que vem de fora, principalmente se é de
um país com história, fama e tradição fez com que os brasileiros incluissem o
instituto do impeachment na constituição do Brasil em 1824. E lá ficou, de
constituição em constituição, como se fosse uma cláusula pétrea.
Com
esse nome mesmo, em inglês.
Nem
tudo, porém, que funciona bem num país funciona bem num outro. Por uma singela
razão: nenhum povo é igual ao outro.
Dois
exemplos recentes confirmam essa assertiva.
Logo
depois de os britânicos se manifestarem a favor da saída do Reino Unido da
Comunidade Européia o primeiro-ministro inglês, que era defensor da
permanência, não teve dúvida. Montou um púlpito na frente da sua casa – que
nada tem de palácio, como os de Brasília - e anunciou a sua renúncia.
Alguém
acredita num comportamento semelhante se o mesmo acontecesse no Brasil?
Se
fosse aqui, o David Cameron brasileiro iria, em primeiro lugar desconfiar dos
números, pedir uma recontagem e dar um jeito de ficar no poder.
Outro
exemplo ocorreu hoje. A seleção inglesa perdeu um jogo eliminatório da Eurocopa
para uma seleção amadora da Islância. No fim da partida, o técnico inglês, usou
o microfone para comunicar que estava na hora de outro alguém assumir o comando
da seleção, agradeceu aos jogadores e aos torcedores e disse que estava fora.
Não esperou ser demitido.
Nem
se compara com a atitude que Dunga tomou quando a seleção brasileira foi
desclassificada da Copa América.
Reclamou
que o gol contra o Brasil foi de mão, e que ele não via motivo para se demitir
da seleção por causa disso.
Só
no dia seguinte, na volta aom Brasil, recebeu o bilhete azul.
Ingleses
e brasileiros adotam comportamentos muito diferentes, portanto, em questões
éticas.
Para
funcionar no Brasil, o impeachment deveria ser adaptado com algumas
modificações.
Não
deveria ser permitido que políticos o instaurassem nem o levassem adiante.
Políticos
brasileiros não são chegados à ética. Instalam-no e dão sequência nele não por
questões de justiça, mas por interesse partidário. Defendem qualquer mentira,
se for de seu interesse, com unhas e dentes afiados.
Se
o presidente da Câmara é aliado do governo, não abre o impeachment. Se ele é
oposição ao governo, abre. Principalmente se se trata de um chantagista
vingativo.
As
etapas seguintes do processo também são contaminadas pelo viés político. A
Câmara aceita dar ou não prosseguimento não por haver motivos justos e sim de
acordo com o interesse político. Se o governo tem maioria, o impeachment para;
se não tiver, o impeachment segue.
Isso
aconteceu na primeira etapa, no caso brasileiro e está acontecendo na segunda.
Não há preocupação em provar se houve crime ou não. Não há compromisso em se
chegar a uma verdade. Partidos da situação votam contra o impeachment, partidos
da oposição, a favor. Seja qual for a verdade.
Não
se trata de uma batalha em busca de justiça, mas em busca de votos. Contra ou a
favor.
Para
funcionar no Brasil o impeachment tinha que ser diferente do inglês.
Como
se trata de um julgamento de crime de responsabilidade, não deveria ser uma
tarefa para políticos e sim para juízes, do começo ao fim. Eles é que lidam com
as leis e estão aptos a julgar.
O
Supremo Tribunal Federal deveria dar início ou não ao processo, se visse algum
indício de crime e deveria encaminhá-lo por meio de instrumentos com os quais
se chega a uma conclusão baseada em provas e não em briga de maioria contra
minoria.
Enquanto
não for modificado o impeachment vai continuar colaborando para a instabilidade
política à qual estará sujeito todo presidente da República que não tem maioria
no Congresso.
E
para afundar o país em profunda recessão, mergulhado na incerteza sobre o que
vai acontecer.
Se
é para ser um impeachment pra inglês ver é melhor tirá-lo de uma vez da
constituição brasileira.
Não
vai fazer falta. Há outros meios de tirar um presidente do poder quando está
conspirando contra os interesses do povo brasileiro.
http://www.brasil247.com/pt/blog/alex_solnik/240765/Impeachment-pra-ingl%C3%AAs-ver.htm
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