Ora,
ora, ora. E não é que a proverbial ruindade da Justiça brasileira subitamente
acabou? Mas apenas quando se trata do PT, claro. Para os demais brasileiros, a
Justiça continua morosa, falha e injusta (sobretudo para os mais pobres) ou
inexistente (para os ricos). Subvertendo o mito grego, a “Justiça” brasileira
não é cega, é caolha: só enxerga petistas.
Com
a invasão da sede do PT pela Polícia Federal dentro da Operação Custo Brasil, a
“luta contra a corrupção”, eufemismo para a perseguição pura e simples a
membros do Partido dos Trabalhadores, atinge um novo estágio, aterradoramente
similar ao que vivemos durante a ditadura militar: a sede de um partido
político foi devassada por policiais, não por coincidência vestidos com
uniformes camuflados, como se fossem do Exército. Para completar o clima de
revival, só faltaram os tanques.
Não
acontecia algo assim desde a volta da democracia, em 1985. E inocente (ou
cúmplice) é quem acredita que acontecerá novamente com algum dos demais
partidos e seus membros citados nas delações que vieram à tona nas últimas
semanas. Sabem por quê? Porque isso não é nem nunca foi uma batalha contra a
corrupção; é uma tentativa da direita, usando os erros cometidos pelo PT, de
esmagar a esquerda, de tentar colar nela a pecha de “corrupta” enquanto permite
que os grandes ladrões da nação continuem roubando, como fazem há 500 anos.
Se
há uma coisa que a operação Lava-Jato deixou clara é a maneira como funcionam
as campanhas eleitorais no país. As empreiteiras dão dinheiro aos partidos para
fazer sua pirotecnia eleitoreira; em troca, o eleito dará as maiores obras do
governo para as empreiteiras. Absolutamente todos os partidos (à exceção,
talvez, do PSOL) fizeram campanhas sob essa lógica imoral e criminosa, porém
tolerada ao longo dos anos pela mídia (que sempre soube disso) e pelo próprio
Judiciário –até que, burramente, o PT se beneficiou dela.
Deixando
os flancos abertos, o PT se tornou alvo fácil para uma Justiça aparelhada pela
direita, que tem a faca e o queijo na mão para utilizar a eventual prisão de
petistas como instrumento de destruição da esquerda. (Uma ilusão, porque é no
confronto que a esquerda cresce, além de ser uma tendência em ascensão até
mesmo nos EUA, “pátria do capitalismo”, principalmente entre os jovens. Uma
pesquisa divulgada em abril pela Universidade de Harvard mostra que a rejeição
ao capitalismo nunca foi tão alta: 51% dos cidadãos entre 18 e 29 anos são
contrários ao sistema, e nada menos que 33% apoiam o socialismo.)
Como
pessoa honesta e de esquerda, me indigna assistir à Justiça se prestar ao papel
totalitário de perseguir um partido e uma ideologia, que queira nos transformar
em párias diante da sociedade. Tenho minhas críticas ao PT, mas não aceito que
o partido se torne o bode expiatório da forma como a política é feita no
Brasil. A Justiça que vale para o PT deveria valer para todos os partidos
envolvidos na bandalheira que são as campanhas eleitorais e que nenhum dos
partidos de direita pretende mudar. A esquerda, sim.
Mas,
ainda que a esquerda desaparecesse, o que deveria incomodar os chamados
“cidadãos de bem” do país é ter a certeza, em momentos como este, de que
enquanto o PT paga o pato, a direita corrupta que hoje engana os tolos fingindo
ser honesta continuará impune. O que não chega a surpreender, sendo a
impunidade um clássico da “Justiça” brasileira.
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2016/06/direita-usa-o-pt-para-esmagar-esquerda.html
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