sexta-feira, 10 de junho de 2016

DEFORMADAS AS INSTITUIÇÕES, QUEM AS PORÁ NO LUGAR? Por Fernando Brito

É manchete em O Globo o parecer enviado pelo Senado ao Supremo Tribunal Federal sustentando que, para suspender mandatos de parlamentares, a Justiça deve ter sua decisão homologada, nas 24 horas seguintes,  pelo plenário da Casa legislativa cujo integrante esteja sendo punido.

Aquilo que seria o normal – lembrem-se de que, em 1968, o Congresso foi fechado pelos militares porque negou autorização para processar o então deputado Márcio Moreira Alves, por um discurso contra a ditadura – transformou-se quase que num escândalo, agora.

Por que?

De um lado, por interesse político e omissão dos tribunais superiores, a onda surgida a partir de Curitiba pintou o Judiciário – que tem todas as mazelas de qualquer poder no Brasil – numa espécie de Olimpo de virtudes, único reduto da honradez, de onde juízes brandiriam a espada de fogo que expulsaria os corruptos  – isto é, a esquerda – da vida pública.

Só que os “malfeitos” foram – teimosamente, atropelando os  “”não vem ao caso”” – pegando mais gente, e mais gente e mais gente, a tal ponto que não se duvida que, ainda agora, irão pegar mais gente.

As críticas à Justiça e as opiniões sobre suas ações foram sendo criminalizadas, as vidas privadas invadidas, as escutas generalizadas e as delações estendidas para tanta gente que, hoje, parece ser melhor logo confessar algo do que tentar provar inocência, porque o “eu soube” já virou prova.

Na outra ponta, o Legislativo, que nunca foi flor das mais perfumadas, por interesses políticos, viu-se enfiado na mais completa lama, sob os aplausos da mídia, que sempre soube quem era e quais os métodos de gente como Eduardo Cunha, mas os incensava, pelos problemas que trazia e poderia trazer ao Governo Dilma, a Cartado de um obsessivo “delenda” desde a eleição de 2014.

Tudo isso foi legitimado: pauta-bomba, projetos medievais da bancada dita evangélica e, finalmente, a incrível conspirata do PMDB pelo impeachment, comandado do um bandido com culpa evidente de corrupção, sem que isso fosse moralmente destruído pela imprensa, tão empenhada em destruir tantos.

Um processo que teve seu corolário no infausto 17 de abril, em que o espetáculo dantesco da votação que autorizava a abertura do processo de impedimento de Dilma foi tão vergonhoso  que nem seus mais incondicionais cronistas puderam deixar de reconhecer, embora sempre com a indignidade de afirmar que aquele lodaçal, ainda assim, servia para o mais importante a usurpação do poder.

Então, temos assim nossos três poderes:

O Executivo, refém da quadrilha legislativa, intolerante com Dilma e ainda compassiva com temer.

O Legislativo, afundado numa desmoralização sem precedentes, embora há muitos anos seus precedentes sejam de desmoralização.

O Judiciário – e sua periferia, o MP e a Polícia Federal – entupido de arrogância e ousadia que o conluio com a mídia lhe deu, municiando-se com o lixo provindo de criminosos delatores, vazando o que lhe convém vazar e atropelando os dois outros poderes com os quais deveria ter harmonia.

Então, temos uma Justiça esquizofrênica, capaz de ser leniente por cinco meses com um homem que merecia ser tirado do controle da Câmara, mas só quando cumprisse a missão de derrubar Dilma.

E, agora, que se acha legítima, sem nada revelar, alegando sigilo, para surgir com um fato consumado, decidi e, em menos de 24, exigir que o Legislativo ou homologue o que diz ou se exponha ao massacre da mídia por estar “defendendo ladrões”.

E como se não bastasse este quadro dantesco, ainda temos de ouvir cantilenas do tipo daquelas de “as instituições estão funcionando”.

Sim, estão. Funcionando em estado de completa deformação.

http://www.tijolaco.com.br/blog/deformadas-as-instituicoes-quem-as-pora-no-lugar/

Nenhum comentário: