O
pedido de prisão da cúpula do PMDB: Janot avança e o sistema político se
desfaz; o que virá depois?
Está
claro há muito tempo que o processo em curso no Brasil não é apenas um ataque
ao PT, ou ao que se convencionou chamar de lulismo. É um ataque ao sistema
político estabelecido pelo pacto da Constituição de 88; e, talvez, chegue a ser
também um ataque à ideia de Estado Nacional – que se constrói desde a Era
Vargas.
A
bomba de hoje, confirmando que o Procurador Geral da República pediu mesmo a
prisão de Sarney, Renan e Jucá (pedido este que repousa na mesa de Teori, no
STF) mostra que o sistema político desmoronou.
Em
64, Lacerda achava que, demolindo o trabalhismo e derrubando Jango com apoio
dos militares, herdaria o poder. Acabou cassado e a UDN foi extinta da mesma
forma que o PTB.
Um
advogado, fonte deste blogueiro e que atua na Lava-Jato, dizia já em 2015: “o
PSDB, o Aécio e o PMDB terão o mesmo fim de Lacerda; não percebem que a Lava-Jato
ataca hoje o PT, mas que o passo seguinte será a destruição do PSDB e do PMDB”.
Não perceberam. tentaram surfar na onda do antipetismo. E agora serão
destruídos pelo tsunami.
Agora,
isso tudo ficou claro.
Há
quem comemore os pedidos de prisão da cúpula do PMDB. Este blogueiro não
comemora, por uma razão simples: vivemos o colapso da política. O poder se
desloca para duas instâncias que não se submetem ao escrutínio popular: de um
lado, o consórcio MPF/Moro/PF sob comando de Janot; de outro, o consórcio
Globo/Veja sob comando de João Roberto Marinho.
Vivemos,
formalmente, sob Democracia; mas as decisões já não se tomam à luz do dia. A
Democracia está sequestrada pelo poder jurídico-midiático.
Da
mesma forma que em 64, os ridículos lacerdas de ocasião (aécios e seus
tucaninhos de segunda linha, além dos garotos podres de temer) serão tragados
pelo turbilhão.
Se
Teori (que parece ser o último bastião da razoabilidade democrática, em meio ao
turbilhão) prender mesmo a cúpula do PMDB, o poder dos togados e da PF se
consolida. Aécio e Lula serão os próximos na lista. Qual limite pra isso?
O
poder está com a toga e a mídia. Mas mesmo esse é um poder fluído, que não
controla todas as variáveis.
O
processo de impeachment virou uma incógnita. E já há gente no PSDB desesperada
com o avanço de Janot. Vejam o que postou hoje um tucano patético, desses
criados às sombras de FHC:
Mas
há mais a se considerar:
Se
Renan for afastado do Senado, o impeachment passa a se conduzido pelo vice
Jorge Viana, que é do PT; Viana também é quem pode acolher pedidos de
impeachment contra ministros do STF;
Aumentam
as chances de governo Temer se desfazer, abrindo a possibilidade de Dilma ser
absolvida no julgamento do Senado;
Dilma
voltaria ao poder sob o compromisso de chamar um Plebiscito, para que o povo
decida se quer ou não novas eleições diretas para presidente e vice
A
crise, no entanto, estaria longe de se esgotar.
Novo
presidente eleito, com esse Congresso sequestrado pelos interesses privados,
significaria apenas a renovação do impasse.
O
Brasil precisaria, isso sim, de uma Constituinte para renovar o sistema
político. Mas faltam lideranças para encampar essa bandeira.
O
risco é o país ser sequestrado pelo discurso moralista do “partido da
Lava-Jato”. Tudo se resolveria com os “escolhidos”, os “limpos”. A agenda do
país passaria a ser “o combate à bandalheira” (num retorno patético ao janismo
dos anos 60; não é à toa que vassouras reapareceram como símbolos da política).
O
povo seria alijado do debate. A desigualdade, os programas de redução da
pobreza, o desenvolvimento e o projeto de um país independente: tudo isso
ficaria em suspenso.
Esse
é o risco da agenda Globo/Janot. O lógico é que essa agenda (hoje
provisoriamente vitoriosa) termine não em Temer ou nos tucanos. Mas num homem
das togas – que cumpra o papel que em 64 foi exercido pelo general Castelo
Branco.
Mas
há um fator que Janot e os Marinhos não controlam totalmente: as ruas.
O
começo catastrófico de Temer ajudou a criar um novo movimento social: mulheres,
jovens, estudantes e trabalhadores organizados. Esse movimento pode construir
um programa e uma candidatura que signifiquem a consolidação de uma outra
agenda, para disputar espaço com a direita moralista.
Lula
e Dilma vão se incorporar a esse movimento novo? Ou serão superados por ele? É
uma questão ainda em aberto.
Entre
a agenda Janot/Lava-Jato e agenda da Nova Esquerda que emerge das ruas, há
ainda uma terceira força: liberal e privatizante. Sob comando de Gilmar
Mendes/Serra, essa gente sonha com um arranjo pelo alto, em que o país se
arrastaria com Temer até onde fosse possível, para depois se costurar uma
eleição indireta e um pacto de semi-parlamentarismo, que permitisse fazer
“reformas liberais” e privatizações.
O
pedido de prisão da cúpula do PMDB é o desmoronamento da política como a
conhecíamos desde 88. E o início de um ciclo em que esses 3 projetos acima
descritos farão a disputa:
Pairando
por cima (ou por baixo) dessas três agendas, há o mundo dos políticos
profissionais: desesperados, acossados pelas denúncias, apodrecidos por seus
próprios erros… Eles podem se acertar com qualquer uma dessas agendas, se isso
significar a sobrevivência.
A
primeiro e a segunda agendas podem se apresentar em eleições diretas, com
candidatos mais ou menos fortes. Já a terceira agenda (por impopular e
elitista) depende de costuras nas sombras, pelo alto.
A
terceira agenda hoje está embutida na primeira, numa aliança provisória que
sustenta o governo Temer. Mas esse arranjo parece próximo de se desfazer.
Essa
disputa, imprevisível, marcará o tipo de Estado que teremos ao longo das
próximas décadas.
http://caviaresquerda.blogspot.com.br/2016/06/a-democracia-foi-sequestrada-pelo-poder.html
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