quarta-feira, 18 de maio de 2016

TEMER VAI CONSEGUIR UNIR O BRASIL CONTRA ELE. Por Laurez Cerqueira

O governo provisório de Michel Temer parece ter surgido das brumas, das catacumbas, das sombras do passado medieval.

Os ministros, na foto do momento das assinaturas de posse, parecem seres de outros tempos. Cheiram naftalina.

Os primeiros movimentos deles estão destoando completamente do Brasil cidadão, da afirmação de direitos, da solidariedade social.

Enquanto conspirava para derrubar a Presidenta Dilma,  por detrás das cortinas, com Eduardo Cunha e Aécio Neves, Temer vinha a público dizer para microfones e câmeras, com aquela voz nosferática, que o Brasil precisava de um líder e de um governo que unisse o país.

Isso tornou-se um bordão martelado todos os dias pela  mídia senhorial. Muita gente acreditou.

Com isso, criou-se,  em quem defendia o afastamento de Dilma, uma expectativa muito grande de que Temer fosse nomear um ministério de notáveis, como ele mesmo andou dizendo, para fazer algo muito melhor para o povo.

Mas, por incrível que pareça, Temer demonstrou exatamente o contrário, liderança zero. É fraco, nomeou um ministério fraco, é titubeante, está tomando decisões erradas, tendo que voltar atrás.

Ao invés de unir, como dizia, aprofundou ainda mais a divisão do país, provocando mais revolta, agora com forte reação negativa do povo que foi às ruas de camisa amarela.

Se fosse reconhecido nele a capacidade de unir o país, certamente não teria ouvido tantos “nãos” aos convites para compor o governo.

Nem o tal mercado se empolgou. A bolsa cai e o dólar sobe todos os dias depois que ele assumiu. O governo provisório é um fracasso.

Temer extinguiu ministérios e órgãos da área social, como o Ministério da Cultura, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, do Desenvolvimento Agrário,  as secretarias de participação de mulheres, negros, indígenas, e montou um governo de homens brancos para homens brancos, cortou recursos das áreas da saúde, da educação, de programas como Minha Casa Minha Vida, e nomeou um ministério de negócios. Ou seja o povo que se dane.

Os ministérios da área social foram órgãos criados exatamente para consolidar e prover direitos sociais garantidos pela Constituição de 1988.

No governo, a força dos negócios e dos interesses privados é que dão as cartas, foi o que moveu o golpe. Por trás dos articuladores do golpe estão mega corporações nacionais e internacionais.

Temer mais parece um office boy do poderoso presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, e do poderoso José Serra, ministro interino de Relações Exteriores, a assinar medidas para privatizações e outras iniciativas.

Na verdade, os tucanos estão usando o PMDB para executar o programa deles. Eles não entraram no governo, exceto José Serra, que está com um pé no PMDB, mas estão mandando ver, arquitetando  o pacote de privatizações do patrimônio público e a terceirização de serviços públicos.

Uma parte da equipe econômica do governo Fernando Henrique Cardoso, hoje banqueiros, (Armínio Fraga, Gustavo Franco, Lara Rezende, Pércio Arida, e outros) devem estar esfregando as mãos, aguardando as privatizações de empresas como a Petrobras e a entrega definitiva das reservas do Pré-Sal, das empresas de energia, bancos públicos e outros negócios.

Como fizeram com a Vale e outras empresas, no Governo Fernando Henrique, vendidas a preço de banana, pelos mesmos que estão hoje na banca, agora como possíveis compradores ou negociadores de corporações internacionais.

Os ministros da Educação e da Saúde  mandaram avisar que irão privatizar, terceirizar segmentos desses serviços públicos, também direitos garantidos pela Constituição de 1988,

Essa ofensiva não está acontecendo só no Brasil. Na Argentina também. Estão tentando criminalizar a ex-presidenta Cristina Kirchner.

As nações centrais sempre tiveram profundos vínculos econômico-financeiros com as nações periféricas por meio de suas corporações  transnacionais.

Nos momentos de crise, como o que o mundo atravessa, com efeitos extremamente perversos sobre as economias mais vulneráveis, as nações centrais buscam nas nações periféricas compensações de suas perdas em negócios como os que estão se estabelecendo no Brasil com o governo Temer.

Desde os tempos coloniais, as nações periféricas contam com uma categoria nativa, não proprietária, de gerentes de interesses estrangeiros.

São tipos que transitam na política e estão sempre participando de governos, principalmente no comando de áreas estratégicos. Não gostam de pagar impostos, se dizem inimigos do Estado, pero no mucho. Sempre contam com a proteção, a salvação do Estado.

Não costumam ter  nenhum compromisso com a cidadania, com as populações desfavorecidas, haja visto o corte de ministérios na área social. O negócio deles é negócio.

São eles que bancam golpes, que querem  repassar, para os trabalhadores, os prejuízos da crise e defendem com unhas e dentes as margens de lucro de suas empresas empresas.

Eles estão recorrendo a modelos econômicos do passado, que fizeram outro grande estrago no mundo, nos anos 1990, e que sucumbiram na crise de 2008, quando a torre da especulação financeira desmoronou nos EUA, levando à falência grandes bancos e grandes empresas, e ,de roldão, as demais economias de todo o mundo, da qual o Brasil sofre os efeitos danosos até hoje.

Trata-se de um modelo baseada em ideias derrotadas,  que os adeptos insistem em aplicar aqui novamente. São ideias do passado, que regeram o governo Fernando Henrique, e quebrou o Brasil três vezes, levando o país às profundezas do inferno, a um dos períodos mais dramáticos da economia brasileira, nos fatídicos anos 1990, com desemprego estrutural, inflação recorde e a taxas negativas de crescimento.

É esse passado que saiu das brumas, das catacumbas, das sombras do passado, com Michel Temer, José Serra e Eduardo Cunha à frente, que está assustando o país.

Eles querem a sociedade da ganância, de gente estúpida, egoísta, individualista e competitiva. Querem a sociedade da “Ordem e Progresso”,  na qual todos baixam as cabeças, não reclamam, trabalham, produzem, consomem, e deixam o destino nas mãos deles.

Mas parece que não vão conseguir viver na luz da democracia. Vão se cegar e voltar para as sombras medievais de onde vieram.

http://www.brasil247.com/pt/colunistas/laurezcerqueira/232929/Temer-vai-conseguir-unir-o-Brasil-contra-ele.htm


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