Humorista e escritor exalta
mobilização dos estudantes durante debate em São Paulo. Camila Lanes, da Ubes,
acusa mídia de tentar criminalizar ocupação da Assembleia Legislativa e do
Centro Paula Souza
por Helder Lima, da RBA
A mobilização dos estudantes
secundaristas, que nesta semana ocuparam a Assembleia Legislativa de São Paulo
e o Centro Paula Souza, é exaltada pelo escritor e humorista Gregório Duvivier
como exemplo para a ação política frente ao grave momento político que o país
enfrenta. "Os jovens estão ensinando a gente como se faz política",
disse Duvivier na noite desta sexta-feira (6) ao público que se reuniu na Praça
Roosevelt, região central da capital paulista, para acompanhar o debate
"Resistência! Sem medo, sem ódio, a luta continua", promovido pelo
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e Frente Povo Sem Medo.
"Onde eu estava na
compra da reeleição de Fernando Henrique Cardoso (em 1998), por que eu não
estava ocupando nada", indagou Duvivier ao observar que a ocupação se
tornou um forte instrumento da luta política. "Essa é a forma hoje, só
assim as coisas mudam de verdade", afirmou, depois de comentar que a
votação do impeachment pelo plenário da Câmara Federal, em 17 de abril, foi um
episódio vergonhoso e repulsivo. "As pessoas começaram a perceber que é
uma batalha contra o povo, contra as conquistas sociais e está muito longe de
ser uma batalha contra a corrupção. O impeachment está acontecendo em nome de
um golpe, em nome de 1964", disse, lembrando a instauração da ditadura que
perdurou por 21 anos no país.
Na sequência de Duvivier, a
presidenta da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), Camila
Lanes, que atuou na ocupação de quatro dias do plenário da Assembleia, afirmou
que a grande mídia tentou criminalizar a mobilização dos estudantes pela
instalação da CPI da merenda, classificando-a como invasão. "Mas aquele
lugar nos pertence; na democracia, é lugar do povo, do filho do trabalhador, de
todos que fazem deste país algo melhor", disse.
Camila destacou que sua
principal mensagem a partir de agora é a necessidade de mobilização para
enfrentar o golpe em marcha com o processo de impeachment da presidenta Dilma
Rousseff, cuja admissibilidade será votada no plenário do Senado na próxima
quarta-feira (11).
O debate contou também com o
líder do MTST Guilherme Boulos e com a professora de Economia da USP Laura
Carvalho. A mediação foi feita pelo jornalista Leonardo Sakamoto. Todos eles
ressaltaram a necessidade do campo progressista se manter unido para resistir
ao golpe articulado pela coalizão entre legislativo, judiciário e mídia
conservadora.
Boulos disse que o caso da
sem-teto Edilma Aparecida Vieira dos Santos, baleada na quarta-feira (4) pelo
PM Robson Vieira do Nascimento, durante manifestação do MTST em Itapecerica da
Serra, reflete as tensões que marcam a crise política neste momento. "Foi
o PM que atirou, mas o gatilho não foi apertado somente pelo PM, mas também
pelo Bolsonaro (deputado Jair Bolsonaro, PSC-RJ), pela Rede Globo, pelo pastor
Silas Malafaia", afirmou, referindo-se aos conservadores que têm
disseminado ódio contra a esquerda no país. Ele também disse que o deputado
estadual João Paulo Rillo (PT) se tornou alvo de quatro pedidos de cassação por
ter apoiado a mobilização dos estudantes.
Depois de considerar que o
impeachment sem crime de responsabilidade é um golpe marcado por escárnio,
hipocrisia e cinismo, sobretudo frente ao fato de que o relator do processo no
Senado, Antonio Anastasia (PSDB-MG), "usou e abusou das pedaladas
fiscais", Boulos disse que o eventual governo de Michel Temer não terá
sustentação nas ruas do país. "Quem foi à avenida Paulista contra a Dilma
também não quer o Temer, que é biônico, feito por eleição indireta".
Boulos classificou a agenda de governo de Temer como "de uma regressão
social sem precedentes no país". E também destacou que "haverá uma
ampla resistência aos retrocessos que ele quer impor".
A professora Laura Carvalho
falou sobre as contradições que marcam a crise política. Ela citou como
exemplos o abandono por Dilma da agenda de ampliação de direitos que a elegeu
em 2014, e o caso das pessoas que querem o fim da corrupção, mas, para tanto,
estão dando poder aos corruptos – a maior parte dos parlamentares que apoiam o
impeachment sofre acusações criminais.
Laura fez uma análise sobre
a situação do governo de Dilma, e disse que o programa Ponte para o futuro,
lançado pelo PMDB como norte do possível governo de Michel Temer, levará a um
aprofundamento das medidas de ajuste e de ataque a direitos trabalhistas.
"Essa agenda do PMDB terá mais força dentro do Congresso para passar, e se
não resistirmos os retrocessos serão imensos", afirmou. "Temos de
aproveitar a união do campo progressista para resistir; a única luz de otimismo
que temos é a união, e os estudantes ocupando. Vamos lutar e resistir em cada
espaço que a gente domina."
http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2016/05/gregorio-duvivier-jovens-estao-ensinando-a-gente-como-se-faz-politica-3410.html
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