sexta-feira, 6 de maio de 2016

CUNHA TEM RAZÃO. OU O QUE O SUPREMO NÃO PODE EXPLICAR. Por Bernardo Mello Franco

Do pouco que passa pela peneira do “sou capaz de pensar” da crônica política no Brasil, o artigo de hoje do sempre ótimo Bernardo de Mello Franco, na Folha.

“É estranho escrever isso, mas sou obrigado a concordar com Eduardo Cunha. Derrotado por 11 a 0 no Supremo, ele criticou o tribunal por ter levado quase cinco meses para decidir se deveria ou não afastá-lo. A Procuradoria apresentou o pedido em 16 de dezembro, em caráter de urgência. O ministro Teori Zavascki só concedeu a liminar ontem, após 141 dias de espera.

“Não havia mais a urgência”, disse o peemedebista. “Se havia a urgência, por que levou seis [sic] meses?”, perguntou, com a empáfia habitual.

Cunha tem razão ao questionar a demora, embora não tivesse mais legitimidade alguma para presidir a Câmara. Para o ministro Teori, sua presença no cargo era um risco às investigações da Lava Jato e “um pejorativo que conspirava contra a própria dignidade” da Câmara.

O relator concluiu que o deputado não possuía “condições pessoais mínimas” para permanecer na cadeira, em clara afronta aos “princípios de probidade e moralidade”.

É tudo verdade, mas já era assim em dezembro, quando a Procuradoria recorreu ao Supremo. Enquanto o pedido de afastamento adormecia na corte, o correntista suíço comandou o processo de impeachment. É difícil dizer se o desfecho teria sido o mesmo sem sua presença na cadeira.

A derrocada tardia de Cunha não deve mudar o destino de Dilma Rousseff, mas terá impactos no provável governo Michel Temer. Aliados do vice dizem que ele está “aliviado” com o afastamento. É um discurso conveniente, que omite a velha aliança entre os dois e o potencial do deputado para tumultuar o novo regime.

Agora que está mais vulnerável, Cunha usará as armas de sempre para exigir proteção. Em uma mensagem interceptada pela Lava Jato, ele citou um repasse de R$ 5 milhões da OAS para Temer. Se quiser, terá mais a revelar. Como se diz em Brasília, o deputado dispõe de arsenal para fazer a maior delação premiada do mundo. Não é o tipo de alívio com o qual o PMDB gostaria de contar.”

Por Fernando Brito

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