Do pouco que passa pela
peneira do “sou capaz de pensar” da crônica política no Brasil, o artigo de
hoje do sempre ótimo Bernardo de Mello Franco, na Folha.
“É estranho escrever isso,
mas sou obrigado a concordar com Eduardo Cunha. Derrotado por 11 a 0 no
Supremo, ele criticou o tribunal por ter levado quase cinco meses para decidir
se deveria ou não afastá-lo. A Procuradoria apresentou o pedido em 16 de
dezembro, em caráter de urgência. O ministro Teori Zavascki só concedeu a
liminar ontem, após 141 dias de espera.
“Não havia mais a urgência”,
disse o peemedebista. “Se havia a urgência, por que levou seis [sic] meses?”,
perguntou, com a empáfia habitual.
Cunha tem razão ao
questionar a demora, embora não tivesse mais legitimidade alguma para presidir
a Câmara. Para o ministro Teori, sua presença no cargo era um risco às
investigações da Lava Jato e “um pejorativo que conspirava contra a própria
dignidade” da Câmara.
O relator concluiu que o
deputado não possuía “condições pessoais mínimas” para permanecer na cadeira,
em clara afronta aos “princípios de probidade e moralidade”.
É tudo verdade, mas já era
assim em dezembro, quando a Procuradoria recorreu ao Supremo. Enquanto o pedido
de afastamento adormecia na corte, o correntista suíço comandou o processo de
impeachment. É difícil dizer se o desfecho teria sido o mesmo sem sua presença
na cadeira.
A derrocada tardia de Cunha
não deve mudar o destino de Dilma Rousseff, mas terá impactos no provável
governo Michel Temer. Aliados do vice dizem que ele está “aliviado” com o
afastamento. É um discurso conveniente, que omite a velha aliança entre os dois
e o potencial do deputado para tumultuar o novo regime.
Agora que está mais
vulnerável, Cunha usará as armas de sempre para exigir proteção. Em uma
mensagem interceptada pela Lava Jato, ele citou um repasse de R$ 5 milhões da
OAS para Temer. Se quiser, terá mais a revelar. Como se diz em Brasília, o
deputado dispõe de arsenal para fazer a maior delação premiada do mundo. Não é
o tipo de alívio com o qual o PMDB gostaria de contar.”
Por Fernando Brito
http://www.tijolaco.com.br/blog/cunha-tem-razao-ou-o-que-o-supremo-nao-pode-explicar-por-bernardo-mello-franco/
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