Que
progresso?
Não
se questiona a decisão das urnas de 27 de outubro de 2014. O TSE não anulou as
eleições. Michel Temer foi eleito na composição de uma chapa ainda no poder.
Não pode, portanto, ir além de suas funções e dar uma guinada conservadora ao
novo governo.
Uma
crise econômica que ninguém sabe dimensionar uniu aliados e opositores.
Pedaladas fiscais e uma lei de 1950 foram as partituras que regeram o
traumático processo de impeachment. Com que autoridade o novo governo expande
em improvisos e interrompe um processo de avanços sociais?
Dilma
foi afastada por violar regras orçamentárias. Temer assume e viola as escolhas
do eleitor e regras do jogo democrático. Há uma deturpação no papel de
interinidade e um certo desprezo pelo resultado das urnas, que também o elegeu.
O presidente temporário não tem autorização para compor um governo de
frequência conservadora.
O
eleitor não votou duas vezes na chapa Dilma & Temer pelo fim do Ministério
da Cultura nem quis extinguir a Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da
Pessoa com Deficiência por Medida Provisória. Não vê uma recatada e do lar a
mulher que surge da primavera feminista, nem escolheu por um governo sem elas.
O
feito é inédito. A chance de haver um ministério com 23 homens e nenhuma mulher
é de ½ elevado à 23.ª potência, ou 0,000000119. “A última vez que vi tanto
homem junto, assim, trabalhando em prol da nação, a gente levou de 7 x 1”,
tuitou @leavetassialone.
O
eleitor brasileiro não quer que se aplique leis de terrorismo contra movimentos
sociais. Nem imaginou um ministro da Justiça cuja prática foi condenada pela
Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Ministro que trata movimentos
sociais a balas de borracha, esconde dados da violência do Estado de que foi
secretário, insurge com armas contra estudantes, ferindo o Estatuto da Criança
e Adolescente, Código do Processo Civil, a Constituição e tratados
internacionais.
Em
seis eleições consecutivas, desde 1994, o eleitor brasileiro quis
majoritariamente o respeito a movimentos sociais, o diálogo, o assento no
Executivo de todas as raças e classes sociais, livre trânsito em Brasília de
negros, homossexuais, mulheres, deficientes, índios, quilombolas, sem-teto,
sem-terra e estudantes. Quis um Conselho Nacional de Direitos Humanos, fundado
por FHC, autônomo.
Desrespeita-se
também aqueles que foram às ruas pelo impeachment, que não queriam o repeteco
da aliança viciada pela governabilidade, mas o novo. Cinco dos novos ministros
foram ministros de Lula e Dilma, e três de FHC. Sem contar que herdeiros dos
clãs Sarney e Barbalho voltam ao Poder.
Todos
imaginavam, ingenuamente, um governo de notáveis. A lista de membros do
gabinete interino foi concluída em 15 minutos, segundo Pedro Venceslau do
Estadão. Muitos são investigados pela Justiça.
Bruno
Araújo (Cidades) está na lista de pagamentos feitos pela Odebrecht revelada na
Lava Jato. Ricardo Barros (Saúde) foi pego em gravações telefônicas feitas em
2011 pelo MP, em que orientava um secretário da prefeitura de Maringá a
facilitar uma licitação.
Romero
Jucá (do Planejamento) é o mais encrencado. Deixou o governo Lula em 2005. É
réu em cinco inquéritos no STF e formalmente incluído na Lava Jato por suspeita
de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, suspeita de envolvimento em
esquema de compra de medidas provisórias para favorecer a indústria automotiva,
além de estar enrolado em crimes tributários, atrasos em indenizações
trabalhistas e multas eleitorais.
Geddel
Vieira Lima (Secretaria do Governo) é citado na Lava Jato, assim como Henrique
Alves (Turismo). O STF recebeu pedido de investigação de Serra (Relações
Exteriores) e Kassab (Comunicação), suspeitos de improbidade administrativa.
Kassab também tem cinco investigações em andamento no Supremo por
irregularidades durante sua gestão na Prefeitura de São Paulo.
Mendonça
Filho (Educação e Cultura) foi citado em 2009 na Operação Castelo de Areia, que
prendeu diretores da Camargo Corrêa. Citaram doações não registradas. Raul
Jungmann (Defesa) foi investigado por fraude em licitação, peculato e corrupção
em contratos de publicidade. Em 2011, a Justiça Federal arquivou o inquérito,
porque os crimes tinham prescrevido ou prescreveriam.
Maurício
Quintella (Ministério dos Transportes, Portos e Aviação) é investigado por
envolvimento num esquema de desvio de dinheiro da merenda escolar em Alagoas.
Blairo Maggi (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), o “rei da
soja”, recebeu o prêmio Motosserra de Ouro do Greenpeace por ser um campeão em
desmatamento. Era alvo de uma investigação da Operação Ararath por lavagem de
dinheiro e corrupção.
No
mais, o eleitor brasileiro há décadas escolhe a via da distribuição de renda.
Apoia a renda per capita de US$ 10 mil de 2016. Ela era de US$ 2.500 em 2002,
antes de o PT assumir. Votou em quatro eleições sucessivas na política de um
salário mínimo acima da inflação, hoje em R$ 880, ou US$ 250. Era US$ 83 no
último ano de FHC.
Se
distribuir a renda, lotar as faculdades de alunos pobres, dar bolsas para
acabar a fome e miséria, dinheiro que acaba voltando ao mercado num fenômeno de
consumo da classe C e D, deram num rombo de US$ 180 bilhões e no desemprego em
11%, então é todo projeto de Nação que está errado.
Ou
seja, não conseguimos distribuir renda e fazer justiça social, numa política de
pleno emprego, sem quebrar o Brasil? Então, não há nenhuma ponte ao futuro, mas
uma tremenda vontade de não sair do lugar.
http://caviaresquerda.blogspot.com.br/2016/05/com-que-autoridade-o-novo-governo.html?spref=tw
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