A Frente Nacional pela
Democratização da Comunicação (FNDC) e a Frente Brasil Popular organizam nesta
quinta (5), em diversas cidades do Brasil o Dia Nacional de Luta contra o
Golpismo Midiático. O objetivo é denunciar como o monopólio das comunicações
contribui para o apoio da opinião pública ao impeachment da presidenta Dilma
Rousseff que, para os manifestantes, é um golpe.
Em São Paulo, o ato se
concentrou no começo desta noite no vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e
marchou em direção ao prédio da Gazeta, onde fica a antena da Rede Globo. Cerca
de 50 pessoas participaram do "cortejo fúnebre", protagonizado por um
caixão em que estavam coladas capas de revistas e logotipos de emissoras de TV.
Segundo os organizadores, a
Globo é o principal alvo das manifestações por ser a maior empresa privada de
comunicação do país e ter papel de destaque nessa articulação contra a atual
presidência da República. Entretanto, outras redes de comunicação e publicações
impressas também foram lembradas pelos manifestantes, que gritavam seu nome
seguido do verbo "queima".
Do ponto de vista dos
movimentos sociais, Iris Pacheco, da direção nacional da comunicação do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, afirmou que "não existe
democratização da terra sem democratização da mídia". "A mídia
funciona como um partido no Brasil. O campo fica invisibilizado, e os movimentos
são criminalizados pela mídia. A própria legislação é feita de forma a não
refletir nem atender às necessidades do campo", afirma a dirigente.
Guto Camargo, ex-presidente
do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, afirmou que "combater a
concentração é bom para todo mundo, inclusive para os jornalistas, porque
aumenta as possibilidades de mercado de trabalho e a diversidade de
conteúdo". Para ele, "concentrar poder na mão do patronato é ruim
porque diminui os salários e aumenta a pressão, sem falar nas outras consequências
sobre a diversidade cultural no país".
Outros estados
Simultaneamente ao ato na
capital paulista, outras passeatas aconteceram em Brasília (DF), Rio de Janeiro
(RJ), Fortaleza (CE), Belém (PA), Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), Curitiba
(PR), João Pessoa (PB), Recife (PE) e Porto Alegre (RS). Amanhã, serão
realizadas oficinas e colagem de cartazes em Maceió (AL). Mais cedo, um twitaço
espalhou a hashtag #monopolioégolpe pelas redes sociais.
Entrevista
Para as frentes, a
concentração dos veículos nas mãos de poucos grupos empresariais que veiculam
apenas a visão politico-ideológica das elites e de seus interesses econômicos
representa uma grave falha na democracia do país.
“A existência do monopólio
impede a livre circulação de ideias e a diversidade e pluralidade na mídia.
Esse monopólio no Brasil é controlado por seis grupos empresariais familiares,
que existem desde o século passado e que fazem parte da elite econômica no
país. Portanto, eles têm um lado nessa disputa de projeto colocada no país
hoje”, afirma Renata Mielli, coordenadora geral da FNDC.
Segundo ela, o próprio
Estado, que é responsável por distribuir as concessões de radiodifusão, é
corresponsável por esse cenário de concentração, já que não fiscaliza nem cria
mecanismos que regulamentem a mídia.
Leia abaixo entrevista com
Renata Miele, coordenadora nacional da FNDC.
Qual o objetivo dos atos de
hoje?
A intenção é denunciar como
o monopólio nos meios de comunicação é um golpe à democracia e como ele
contribuiu para articular o golpe em curso no Brasil. Estamos fazendo atos nas
redes e nas ruas para denunciar esse cenário de monopólio.
Como o monopólio influencia
o golpe?
A existência do monopólio
impede a livre circulação de ideias e a diversidade na mídia. Esse monopólio
hoje no Brasil é controlado por seis grupos empresariais familiares, que
existem desde o século passado e que fazem parte da elite econômica dominante no
país. Portanto, eles têm um lado nessa disputa de projeto colocada no país
hoje.
Essa mídia monopolista
criminaliza os movimentos sociais, ataca os direitos dos trabalhadores, dá
destaque às pautas mais conservadoras e reacionárias da nossa sociedade e invisibiliza
os atores sociais contrários à visão politica e ideológica que eles têm. Ao
invisibilizar a luta dos trabalhadores e não dar espaço para o contraditório,
ela manipula a opinião pública denunciando, julgando e condenando pessoas,
governos e partidos.
Essa mídia estimula o
preconceito, a intolerância e o ódio, e isso cria um ambiente propício para um
golpe institucional, que é o que estamos vendo no país hoje.
E qual é o antidoto para
isso? Qual o tipo de articulação para romper esse monopólio?
São dois caminhos. O
primeiro é esse que já estamos construindo, que é o fortalecimento das mídias
alternativas e dos movimentos sociais. A possibilidade que a internet trouxe,
de dar vazão à multiplicidade de visões que a sociedade tem, contribui de forma
decisiva para que a gente possa disputar as narrativas dos acontecimentos do
país. Hoje, são milhares de sites das várias entidades dos movimentos sociais,
de movimentos culturais, de cooperativas de jornalistas que no, dia a dia,
visibilizam o contraditório que hoje não tem espaço na mídia hegemônica.
O outro caminho é a pressão
sobre o governo e o diálogo com setores mais amplos da sociedade para mostrar a
urgência de o país ter um novo marco legal para as comunicações. É papel do
Estado garantir diversidade e pluralidade. O Estado faz isso a partir da
construção de regras que, por um lado, proíbam a existência desses monopólios,
como está previsto na Constituição, e, por outro, fomente a pluralidade e a
diversidade dos meios de comunicação através da radiodifusão pública,
comunitária e do incentivo de outros instrumentos de comunicação. E o Brasil
ainda não possui uma legislação que garanta isso.
Por que o alvo principal dos
atos é a Globo?
Porque ela é o principal
monopólio no Brasil. Ela detém o maior número de concessões de rádio e
televisão no país. Ela, sozinha, detém a maior audiência, além de ser
proprietária de jornais e revistas, o que configura propriedade cruzada e
aprofunda ainda mais o discurso único. Isso é um ataque à liberdade de expressão
e à liberdade de comunicação.
Além disso, as atitudes que
a Globo tomou desde a sua criação foram todas para favorecer uma elite política
econômica e nunca para apoiar a luta dos trabalhadores e da maioria do povo
brasileiro. Ela mesmos já admitiu que apoiou o golpe de 1964, que editou de má
fé o debate entre Collor e Lula em 1989. Ou seja, é assumidamente golpista. Por
isso, acaba sendo o exemplo e o símbolo para essa luta por uma comunicação mais
democrática.
No jornal Brasil de Fato
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2016/05/atos-escracham-globo-em-todo-o-pais.html?spref=t
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