Não
é preciso coisa alguma, exceto não estar obturado pelo fanatismo – e como há gente assim, hoje – para perceber
que o Brasil está na iminência de uma caminhada para o passado que não tem como
ser bem-sucedida.
Mais
cedo, escrevi sobre a imoral intenção de tirar de 40 milhões de pessoas o
miserável auxílio que lhes representa o Bolsa Família.
É
algo que só um cidadão imbecilizado pela vida de classe média pode deixar de
compreender o que representa nos miseráveis grotões e periferias deste país.
Áreas
que, nestas cabeças, devem ser esquecidas, as primeiras, e tratadas a pau e
polícia as segundas.
Mas
a barbárie não vai ficar só lá, naqueles que nunca “vieram ao caso” neste país.
Vai
chegar a eles, também, pela aposentadoria.
Pela
violência, que responde imediatamente ao abandono (Temer, neste campo, tem um
especialista a seu lado, Moreira Franco, o que havia prometido acabar com a
violência no Rio em seis meses).
Vai
chegar pelo salário e pela legislação trabalhista, pelo arrocho ao
funcionalismo, por tudo o que se acabou por ver depois que acabou a farsa do
real igual ao dólar de FHC.
Vai
olhar feio para eles, pelos porteiros e domésticas, que vão começar a sentir na
pele que as histórias que ouviam na TV e no rádio não eram bem como lhes
contavam.
Vai
chegar pelo mundo, que nos olha com espanto, querendo saber como é que um
ladrão público comanda um golpe de Estado.
Vai
escandaliza-los com a nudez de sua mediocridade, como fez no dia da votação na
Câmara.
Vai
surpreendê-los com sua voracidade, quando entregarem o pré-sal e abolirem – já
deram ontem o primeiro passo, viu D. Marina? – os já miúdos cuidados com o
meio-ambiente.
E
vai, sobretudo, atazaná-los com o clima de guerra e radicalização que já tomou
e ainda vai se ampliar neste país, porque estes retrocessos não se farão sem
conflitos.
1964,
mesmo no mundo da Guerra Fria, onde golpes eram internacionalmente aceitos
desde que fossem “contra a ameaça soviética” só foi possível com força militar
repressiva.
Hoje,
esta força não pode existir, não num país desta envergadura, que não é um Sudão
ou uma Somália.
Esta
caminhada para o passado é, portanto, impossível e vai esmagar quem a tentar,
ainda que com o apoio ostensivo da mídia e o previsível avanço policial sobre
Lula, caminho fácil para um judiciário covarde, que terá de poupar Cunha et
caterva…
Mas
eles têm de fazê-la, porque é da sua natureza e a matilha da extrema direita o
exige. Seria bom, como a Cunha, descartá-la, mas é impossível.
Em
nada, já se viu, guardam a prudência de um governo que assumiria em condições
precárias, sem voto.
Não,
cuidam de tudo como um assalto ao poder, uma reversão completa dos rumos
escolhidos eleitoralmente – como, em parte, fez Dilma, com os resultados que se
viu – e anunciam pouco menos que uma “revolução” de direita, com a hegemonia
que nem mesmo se tivessem vencido uma eleição teriam.
O
Brasil, que nunca foi o céu, vai virar um inferno. As instituições preferiram o
caminho da autodestruição, da perda do avanço civilizatório.
Entregaram
o nosso país a uma aventura.
E
a uma desventura, que a todos nós custará caríssimo.
http://www.tijolaco.com.br/blog/temer-e-inviabilidade-do-retrocesso/
Um comentário:
A entrega do país ao trágico, ao obsceno, ao martírio das misérias. Com a morte da Justiça, as leis choram sua orfandade, buscam refúgio no drama da inexistência.
Postar um comentário