Plenário do STF: os juízes
deram as bençãos para Cunha
O STF é uma espécie de par
perfeito para Eduardo Cunha, como se viu ontem nos julgamentos finais de
liminares do governo antes da votação de domingo.
Cunha está promovendo um
golpe por vingança. Queria que o governo o ajudasse a escapar das consequências
de seus múltiplos atos corruptos.
Os suíços documentaram suas
contas secretas, que ele negara nesta mesma Câmara que quer desalojar Dilma.
Repito: os suíços, e não
Moro, o juiz de um lado só.
Testemunhas variadas se
uniram em narrar as ameaças brutais de paus mandados de Cunha para evitar que
ele fosse mencionado nas delações premiadas. Até famílias foram ameaçadas.
Neste rol de horrores, Cunha
chegou a se declarar usufrutuário dos milhões na Suíça, como se isso não
equivalesse a dono, numa brutal bofetada na sociedade brasileira.
Foram dias, semanas, meses
desde que os suíços escancaram o psicopata que é Eduardo Cunha.
E nada, e nada, e nada.
Ele pôde se movimentar na
Câmara na maior tranquilidade, quer para retardar com sucessivos truques o
processo que deveria cassá-lo, quer para apressar o impeachment à sua maneira.
Não vou nem falar aqui dos
gastos de sua mulher e sócia Claudia no exterior.
Mas este homem, que até os
extremistas de direita acabaram renegando depois de conhecidas suas falcatruas,
é tratado pelo STF como se fosse um cidadão comum, honrado, seguidor das regras
e dos bons costumes.
Ontem, nas sessões,
minudências patéticas do processo de impeachment foram destrinchadas em
sonolentos pareceres sem que se atentasse para a essência do caso: um corrupto
psicopata armando a destruição da democracia brasileira.
Os juízes seguravam a
Constituição e citavam alíneas e incisos que pretensamente dariam todo o
direito ao “eminente presidente da Câmara” Eduardo Cunha de eliminar 54 milhões
de votos e criar uma convulsão social no país que ninguém sabe como vai terminar.
Guy Fawkes, o britânico que
se insurgiu contra Jaime I há 500 anos, disse uma frase notável quando o rei
lhe perguntou por que agira de uma forma tão extremada.
“Situações extraordinárias
exigem ações extraordinárias”, respondeu Fawkes, ícone hoje de ativistas em
todo o mundo com sua célebre máscara usada no filme V de Vingança.
Os juízes pareciam estar
tratando de uma causa banal em cujo centro está um cidadão acima de qualquer
suspeita.
Duas exceções merecem ser
destacadas.
Lewandowski combateu o bom
combate. Numa imagem notável, disse que no domingo corremos o risco de ver
atiradas ao ar as penas de um travesseira sem que ninguém saiba aonde vão
parar.
Ele mostrou noção da
gravidade do assunto. Ou alguém acha que os golpeados – sobretudo os movimentos
sociais que redespertaram nas últimas semanas – vão ficar sentados e aceitar o
assalto à democracia à luz do sol?
Da mesma forma, o PT na
oposição vai facilitar a vida de Cunha e Temer em nome da salvação nacional?
Só votos consagram um
governo. Mas são os votos dos cidadãos, e não os de um Congresso inteiramente
corrompido pelo dinheiro.
Fora Lewandowski, deve-se
aplaudir de pé Marco Aurélio de Mello, o juiz conservador que se revelou um
foco de imensa luz nas trevas que tomam o Brasil nestes tempos.
Mello jamais deixou de ter
em mente a sujeira que está por trás das ações de Cunha, e lutou como pôde para
que o STF não as chancelasse.
Mas, como um todo, ficou
claro na noite de ontem que o STF não vale o dinheiro que se cobra aos
contribuintes para sustentá-lo.
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